Com rombo superior a R$ 8 bilhões e pedidos de socorro ao Tesouro, empresa pública vive pior momento em décadas e perde espaço para concorrentes privados.
Os Correios enfrentam uma das piores crises de sua história. A estatal acumula 12 trimestres consecutivos de prejuízos e, em meio à tentativa de reequilibrar suas finanças, lida agora com um recorde de disputas trabalhistas. O cenário de instabilidade levou a empresa a buscar apoio do Tesouro Nacional para viabilizar um empréstimo de R$ 20 bilhões, medida considerada emergencial para evitar um colapso operacional.
Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), os Correios registraram mais de 56 mil novas ações trabalhistas nos últimos 12 meses, uma média de 154 por dia. O total de processos em andamento chegou a cerca de 75 mil até outubro de 2025 — o equivalente a quase 70% do atual quadro funcional, que conta com 83 mil empregados. Parte dessas ações foi movida por funcionários ainda na ativa, refletindo o tamanho da insatisfação interna.
Grande parte desse passivo é atribuída a falhas de gestão acumuladas ao longo de décadas, especialmente em áreas como saúde ocupacional, cumprimento de acordos coletivos e administração de pessoal. Há processos que se arrastam há mais de 30 anos. Em 2024, a empresa desembolsou R$ 1,1 bilhão em condenações trabalhistas; somente no primeiro semestre de 2025, o valor já alcançou R$ 1,5 bilhão. Em nota ao jornal O Estado de S. Paulo, os Correios afirmaram que estão realizando um levantamento técnico para reduzir custos judiciais.
A crise financeira se intensificou a partir do terceiro trimestre de 2022, quando a estatal registrou um prejuízo de R$ 121 milhões. Desde então, os resultados negativos se repetem trimestre após trimestre. No segundo trimestre de 2025, as perdas chegaram a R$ 2,6 bilhões, elevando o déficit acumulado para R$ 8,38 bilhões. Paralelamente, a empresa vem perdendo espaço para transportadoras privadas que investem em eficiência logística, automação e tecnologia digital, o que amplia a defasagem competitiva.
Os números também revelam a concentração das ações em algumas regiões do país. A estatal lidera o volume de processos em cinco tribunais regionais: Campinas (7.938 ações), Bahia (3.901), Distrito Federal e Tocantins (3.475), Pernambuco (2.557) e Piauí (858). No Rio de Janeiro, ficou em segundo lugar, atrás apenas da Petrobras, com 7.443 casos.




