Na mensagem de Natal deste ano de 2025, Padre Paulo Ricardo medita sobre os três maiores presentes que podemos dar ao Menino Jesus: a fé, a esperança e a caridade.
A noite de Natal é marcada por cantos de alegria, e o primeiro que recordamos é o dos anjos que aparecem aos pastores: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens por Ele amados”. Quase por instinto, todos os cristãos de todos os séculos compuseram cânticos de Natal: “Noite feliz”, “É Natal, Natal de Jesus, festa de alegria”, “Tu scendi dalle stelle”, “Stille Nacht”, “Silent Night” e assim por diante.
No entanto, o modelo de todos os cânticos natalinos está no Coração de Maria. O maior canto de Natal não foi o dos anjos. O maior cântico veio do coração que tinha mais amor, e o amor do Coração de Nossa Senhora era muito maior que o do coração dos anjos. Quando Nossa Senhora recebeu a visita de Gabriel, o Coração dela, a partir daquele momento, começou a cantar. Ela tinha de manter silêncio, tinha de manter segredo, mas o seu Coração já cantava. Quando, em seguida, Maria foi às colinas de Belém ajudar Isabel, o seu Coração cantava em silêncio a Encarnação e as maravilhas de Deus.
O primeiro canto de Natal foi silencioso. Quando Isabel, enfim, revelou o segredo de Nossa Senhora, aconteceu algo extraordinário: a Virgem Maria pôde dar vazão ao que ela cantava no Coração junto com Jesus em seu ventre: Magnificat anima mea Dominum, “A minha alma engrandece o Senhor”. O maior canto de Natal, o Magnificat, aconteceu meses antes do Natal, mas partiu desde o início dos dois corações mais perfeitos de todos, o de Jesus e o de Maria.
São Tomás de Villanueva diz que, se não fosse por Jesus estar presente na alma e no ventre de Nossa Senhora, Maria teria morrido de alegria, dada a explosão de júbilo do Magnificat. Sim, uma explosão de amor tão grande, que a Virgem teria morrido de alegria! Por isso ela engrandece o Senhor. Somos chamados a cantar o mesmo cântico. Para viver de verdade o Natal, precisamos pedir a Nossa Senhora a pureza e o amor de seu Coração. Assim, poderemos sair cantando o Natal mundo afora: Magnificat!
Mas como engrandecer a Deus, se Ele já é tão grande? Ora, não podemos diminuir a Deus, quando preferimos outras coisas a Ele? Pois bem, temos agora festas de Natal, festas de Ano-novo e férias. Nisso tudo, é preciso engrandecer a Deus, e não apequená-lo. Há momentos em que temos de escolher entre Deus e as coisas, entre Deus e o descanso, entre Deus e a bebida… O que iremos escolher? Deus será maior? “A minha alma engrandece o Senhor”. Engrandeça a Deus. Ele é mais importante que tudo.
A alma de Maria engrandece o Senhor. Que alma é essa? Uma alma que habita Jesus, habita a Trindade, mas na qual estávamos também todos nós. Unidos à alma de Maria, na noite de Natal, nós cantarolamos. Gosto de imaginar que São José, ao chegar finalmente com as parteiras, encontrou Maria cantarolando não só uma cantiga de ninar ao Menino já nascido, mas de alegria e exultação porque também o Coração de Jesus naquela noite exultava — exultava de alegria pela salvação que, enfim, viera: “Exulta o meu espírito em Deus, meu Salvador”.
Maria exultava por poder, também ela, participar do mistério da Redenção. Sim, colaboradora no mistério da Redenção. Exulta Maria de alegria, exultam também os anjos. São João Eudes, ao comentar o Magnificat, diz que a Virgem Santíssima tinha no Coração um tal amor, uma tal pureza, uma tal exultação por aquilo que Deus fez pela Redenção e por ela mesma poder participar, que experimentou em si a alegria da nossa salvação.
Coloque-se nesse mistério: a Virgem Maria, alegre porque veio o Salvador, repetiu-o em seu nome: “Exulta o meu espírito em Deus, meu Salvador. Ele olhou para a pequenez de sua serva”. Eis a humildade de Maria. Os Santos Padres dizem que a humildade é como uma escada que une o Céu e a terra, porque Deus desceu pela escada da humildade e veio em Belém. Pela humildade, Deus vem. Nós somos chamados a ser humildes, como Maria, para que Ele venha.
Vivamos o Natal com humildade. Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens! São os humildes, pequeninos como os pastores. A humildade tem o poder de trazer Deus até o nosso coração, e é com humildade, portanto, que se acolhe Jesus na fé.
Segundo alguns relatos, Maria continua a entoar no Céu o hino do Magnificat. Houve até aparições em que Nossa Senhora veio cantá-lo junto com os anjos. Todos os dias a Igreja reza o Magnificat. Ela reza conosco. É um canto verdadeiramente celeste de alegria, a alegria do Natal, a alegria pela nossa salvação, pela grandeza de Deus, pela humildade dos seres humanos: “Deus fez maravilhas, e santo é o seu nome”. Eis a alegria do Natal que nós queremos viver.
Você deve estar se perguntando: “Padre, como se faz isso? O que o senhor diz é bonito; mas o que eu posso fazer de concreto para vivê-lo?” Ora, Natal é tempo de trocar presentes, tradição nascida em comemoração do que fizeram os Reis Magos do Oriente, que trouxeram para Cristo ouro, incenso e mirra.
E qual é o presente que você pode dar a Jesus neste Natal? Fé, esperança e caridade.
Assim como o Coração de Maria foi o lugar por onde Jesus veio ao mundo, neste Natal, também o seu coração é um presépio, uma manjedoura, um lugar humilde, miserável, coberto de palha, ao qual Jesus vem para nascer. Para que Ele venha, é preciso lhe dar de presente a fé. Não uma fé qualquer, não o simples acreditar que Ele ressuscitou, fez milagres, nasceu de parto virginal e outros feitos extraordinários. Não, é preciso crer que Ele é verdadeiramente o Filho de Deus.
Celebramos, neste ano, os 1700 anos do Concílio de Nicéia, no qual a Igreja atestou contra os hereges que Jesus não é um Filho qualquer, mas o Filho eterno. Nunca houve um tempo em que Deus não fosse Pai. Ele é Pai eterno; Jesus, o Filho eterno; e o Espírito Santo, o Amor Amor eterno entre os dois. É aqui que nós temos de ter fé, crendo no amor que nos amou.
Porque é difícil crer no amor. Zacarias, por exemplo, rezou a vida inteira para ter um filho. Quando Deus finalmente atende à sua oração e envia o anjo Gabriel para lhe dizer: “Vai nascer uma criança”, ele não crê. É bom demais para ser verdade… Às vezes, não cremos exatamente por isso. Não cremos no Evangelho porque é bom demais para ser verdade.
Afinal, abrimos as páginas dos jornais, e o que vemos? Sempre más notícias: tiranias, injustiças, condenações, falências, crises de mercado, acidentes, assassinatos… Por isso, temos uma tendência muito grande a crer antes na maldade do que na bondade. Se alguém nos diz: “Fulano aprontou tal coisa”, cremos, ainda que ele nunca nos tenha enganado; se, pelo contrário, nos dizem: “Fulano é um santo”, logo nos perguntamos: “Será mesmo?”
Deus quer manifestar o seu amor em nós. Mas nós cremos nisso? A primeira coisa é olhar para a estrela, o astro que nasceu no Oriente, e dizer: “Eu creio. Ele é o Filho que veio, Luz do alto para os que jazem nas sombras da morte. Jesus, eu creio que sois a razão da minha vida, Vós, o Deus Criador do universo, envolto em panos numa manjedoura”. Em primeiro lugar, a luz da fé.
Além disso, a esperança. Como dar a Deus o presente da esperança? São João da Cruz nos recorda que a esperança está ligada com a memória. Quer dizer o seguinte. Faça como o salmo, narre a sua vida e diga: “Porque eterno é seu amor”. Vá contando a Deus a história da sua vida, vá narrando o que Ele fez para que você existisse.
Por exemplo, no dia 19 de dezembro, nós celebramos lá em casa a “Festa do Picolé”. 65 anos atrás, meu pai, jovem, encontrou minha mãe, adolescente, e pagou a ela um picolé. Os dois se conheceram graças àquele picolé. Para nós, é a “Festa do Picolé”. O que é celebrar a esperança e dá-la a Jesus de presente? É lembrar: “Meu pai comprou um picolé para minha mãe, porque eterno é seu amor”.
Meus pais então se casaram, e, quando eles menos esperavam (pois minha mãe ainda amamentava minha irmã), eu fui concebido, porque eterno é seu amor. Então fui batizado na Catedral Nossa Senhora dos Prazeres, em Maceió, no dia de Nossa Senhora de Lourdes, porque eterno é seu amor. E assim por diante. Porque, se nos jornais só encontramos notícias ruins, ainda podemos cantar as grandezas de Deus, como Nossa Senhora fez no Magnificat: “Ele olhou para a humildade de sua serva. O Todo-poderoso fez em mim maravilhas, grande é o seu nome”. Assim se exercita a esperança.
Finalmente, o presente maior: a caridade. Como dar caridade a Jesus neste Natal? Primeiro, creia em quem Ele é; depois, firme-se na esperança, cantando o que Ele fez por nós no passado, porque isso aumenta a nossa certeza do que ele fará no porvir. A caridade é algo de que nós somos mais indigentes, porque ela é divina, é um amor que não é humano, não é um amor qualquer. Ou ele vem do Céu, ou nós não o temos. É claro, a fé e a esperança também vêm do Céu, mas sobretudo a caridade. Deus é caridade: Deus caritas est, realidade que palavra alguma pode expressar. Esse mistério de amor veio no Natal. Então, receba o amor na fé e dê amor de volta.
Para bem celebrar o Natal, a melhor coisa que podemos fazer é comungar. A Eucaristia é o sacramento que aumenta em nós a caridade. Então coragem! Já se confessou para o Natal? Não se confessou? Então corra, prepare-se e, em estado de graça, comungue neste Natal, mas comungue para amar Jesus. Ele mesmo nos dá o amor com o qual quer ser amado.
Como os Magos, vamos dar esses três presentes a Jesus. O Natal é isso: Ele vem no ventre de Maria, montado num burrinho puxado por José a caminho de Belém: “Anuncio-vos uma grande alegria”. O canto dos anjos! O canto de Maria! É a alegria que você pode ter, se tiver fé. Sem fé, não se vê nada além de más notícias. Sem fé, não se vê o evangelho, a boa-nova, o gaudium do Natal. Tenhamos fé e esperança de que Ele estará conosco todos os dias do ano que virá. Mesmo que as notícias humanas sejam más, haverá sempre um evangelho.
Em meio às más notícias, há um evangelho; atrás de cada cruz, há uma graça; atrás de cada derrota, há uma vitória de Deus. Cheios de esperança, olhamos para o futuro, e o nosso coração prorrompe de caridade divina, dizendo: “Como o Natal é feliz! A felicidade veio do Céu nos visitar”, a felicidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo veio, no seio da Virgem! Magnificat anima mea Dominum! Tanta era a sua alegria, que Nossa Senhora teria morrido sem o auxílio de Jesus Cristo!
Também nós somos chamados a morrer de alegria neste Natal, a entrar nela, a viver certos dela. Fala-se muito das dores do Coração de Nossa Senhora, e pouco se recorda que o cristianismo é a religião da alegria, alegria que Nossa Senhora carregou pelo restante dos seus dias. Alegria secreta, como se algo dançasse dentro dela. Apesar da Cruz, apesar de tantas desgraças, o que estava vindo ao mundo era a salvação, uma boa notícia, um evangelho anunciado primeiro pelos anjos, e agora por nós que, cheios de fé, acorremos ao Senhor que vem.
Sim, Ele vem. Nós iremos a Ele? Adeste, fideles. Sim, vamos! Façamo-nos presentes: Adsum, eis-me aqui. Adeste, fideles, laeti triumphantes, alegres e triunfantes. Venite, venite in Bethlehem. Vamos a Belém natum videre regem angelorum, ver nascido ao rei dos anjos. Venite, adoremus. Adoremos e, como os Magos, ofertemos os dons celestes da fé, da esperança e da caridade. Assim o Natal será feliz.
Um feliz, santo e verdadeiro Natal!


