Desastres naturais preocupam agronegócio, população e seguradoras

O aumento na ocorrência de desastres naturais surgiu acompanhado do aumento dos acionamentos de seguradoras, por pessoas físicas e jurídicas, para pagamentos de indenizações. Os casos são decorrentes sobretudo das fortes chuvas que afetaram alguns estados do país, como o Rio Grande do Sul e Santa Catarina que sofreram com um ciclone e prejuízos milionários para os moradores.

Segundo Pedro Ivo Mello, sócio do escritório Raphael Miranda Advogados, as seguradoras estão revendo processos de subscrição de riscos, preços de prêmios para contratação de seguros e até deixando de oferecer alguns tipos de apólices, especialmente nas regiões mais sujeitas a eventos climáticos graves.

“As companhias já estudam estratégias para minimizar os efeitos desses eventos climáticos extremos sobre os riscos segurados. As coberturas contratadas estão mais restritivas e as apólices impõem aos segurados medidas mais exigentes de gerenciamento dos próprios riscos, tudo de forma a diminuir os prejuízos indenizáveis pelo seguro”, afirma Mello.

Para ele, apesar dessa restrição de condições de coberturas, a tendência é que os seguros passem a ser mais demandados como uma das ferramentas para enfrentar os riscos climáticos e evoluam para soluções inovadoras, utilizando principalmente os seguros paramétricos, também conhecido como seguro de índices climáticos, que funcionam baseados principalmente na ocorrência de eventos naturais.

“É um produto que pode ser customizado, acionando-se as coberturas sempre que certos eventos, em graus previamente estabelecidos, venham a ocorrer. Se chover mais do que tantos milímetros ou se houver seca por certo período, por exemplo, paga-se a indenização. O funcionamento é bastante simplificado, baseado em parâmetros pré-fixados, podendo ser ajustado de acordo com as características do negócio da empresa e das condições climáticas da região em que se desenvolve aquela atividade, o que significa contratos com cláusulas mais detalhadas, que requerem muita atenção dos segurados”, explica.

Impacto no agronegócio aumenta procura por seguro paramétrico

Segundo Caio Lhano, superintendente de crédito e seguro paramétrico da consultoria de riscos e corretora Marsh Brasil, a procura por este seguro vem crescendo nos últimos anos. Ele é um dos principais responsáveis por assegurar o produtor rural contra condições climáticas adversas, sem estar diretamente ligado à produção.

Implementado no Brasil em 2017, o seguro paramétrico ainda é pouco ofertado, mas já representa uma alternativa para os produtores que não conseguem contratar planos tradicionais voltados para o agronegócio.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o aumento na frequência das quebras de safra, em decorrência dos eventos climáticos, vem contribuindo para aumentar o valor das indenizações e reduzir a oferta disponível de seguro agrícola tradicional, o que tem deixado os agricultores com uma cobertura menor.

Segundo dados da Susep (Superintendência de Seguros Privados), consolidados pela CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras), até agosto de 2022, as indenizações pagas aos produtores para as apólices de seguro tradicional rurais somavam R$9,5 bilhões, 131,6% a mais do que no ano anterior. Já em 2021, a soma das indenizações totalizaram R$7,1 bilhões, um crescimento de 94% em comparação a 2020.

Uma pesquisa realizada pelo Centro Universitário de Brasília (CEUB) mostrou que são poucas as ações elaboradas pelo Governo para diminuir ou evitar as perdas provenientes dos efeitos climáticos. De acordo com este levantamento, somente 10 capitais do país levam em consideração, nos seus planos de governo, os desastres naturais, o que tem sido um obstáculo não só para o trabalho dos produtores rurais, mas também para as seguradoras. 

Com o aumento na incidência de desastres naturais o cenário tem potencial para mudança. “Vejo um movimento no mercado de seguros em direção a um endurecimento na oferta de produtos agrícolas tradicionais para produtividade, uma vez que as perdas têm crescido nos últimos anos. Esse movimento abre espaço para o seguro paramétrico ocupar esse espaço”, conclui Lhano.

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