Uma das principais acusações que os Batistas Carismáticos sempre sofreram era de que todo e qualquer indivíduo que abraçasse o Continuísmo, logicamente, deixava de ser um autêntico Batista. Muitos eruditos recentes já têm questionado tais afirmações do ponto de vista da exigência de se seguir o modelo bíblico do credobatismo, que os Anabatistas enfatizaram tomando por base as Escrituras “quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mc.16:16); no entanto, é estranho que os Modernos Batistas simplesmente tenham achado que os Anabatistas (e Montanistas, Novacianos, Valdenses) simplesmente desconsideraram os versículos seguintes: “E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os sararão”.
O Anabatismo diferenciava-se do Romanismo pelo Espírito como evidência de que vivemos na realidade daquelas verdades das Escrituras por meio de experiências do crente individualmente com o Senhor. É muito estranho que a maior parte dos atuais Batistas, adeptos do Cessacionismo, estejam tão desviados do ensino que o movimento Anabatista preservou por longos séculos e tenha aderido de maneira tão irresponsável ao lado negativo da Reforma Protestante.
É estranho que tantos assumidamente Batistas simplesmente desmereçam uma das principais características do Movimento Anabatista, que justamente afirmava a importância daquilo que Stanley M. Burgess chamou de “‘voz interior’ do Espírito”, o que faz bastante sentido em se lembrando da doutrina essencialmente Batista do sacerdócio de todos os crentes. Juntamente com muitos irmãos Fundamentalistas (Batistas Fundamentalistas, Batista Regulares e Batistas Bíblicos) afirmamos a perpetuação dos Batistas (não confundir com o Landmarckismo), e entre eles, está o grupo Montanista, que claramente demonstrava a manifestação de dons do Espírito. De acordo com Gary B. Macbee,
“Com raízes que remontam ao século XVI, os Batistas representam outro movimento proeminente inclinado a recuperar a pureza da igreja primitiva. […] Pode-se ver facilmente que a política da Igreja Batista dependia do que foi considerado o precedente do Novo Testamento para as congregações independentes, articulado nas Epístolas e exemplificado em Atos.”
O Pastor batista A. J. Gordon afirmou:
“Se esses traços – o falar de línguas e a ocorrência de milagres – foram destinados a serem perpétuos ou não, não discutimos aqui. Mas que a presença pessoal do Espírito Santo na igreja era intencionada para ser perpétua não pode haver dúvida. E qualquer relação que os crentes tivessem com aquele Espírito no começo, eles têm o direito de advogar hoje.”
Ora, esta igreja primitiva tinha por característica marcante, a operação miraculosa do Espírito, por dons. Finalizando estas breves palavras, Eddie Hyatt em sua obra “2000 Years of Charismatic Christianity” afirmou que:
“O erudito Menonita John H. Yoder disse que o Pentecostalismo é em nosso século o paralelo mais próximo do que era o Anabatismo no século XVI” [1]
Os Batistas que veem os anabatistas como seus predecessores, devem lidar com questões como a manifestação de línguas entre os anabatistas Quackers. Abaixo estão citadas as palavras do líder anabatista Quacker Edward Burroughs (1634-1663):
“Recebemos muitas vezes o derramamento do Espírito sobre nós, e o dom do eterno Espírito Santo de Deus, como nos dias antigos, e nossos corações se alegraram, nossas línguas se soltaram e nossas bocas se abriram, e falamos com novas línguas, como o Senhor nos concedeu que falássemos, e como Seu Espírito nos guiara, o qual foi derramado sobre nós, sobre filhos e filhas” [2].
Tais batistas cessacionistas (anti-carismáticos) podem não concordar com as conclusões dos Batistas Renovados; mas não podem nos deslegitimar como uma vertente verdadeiramente histórica de batistas.
Segundo Thomas Boys, falando sobre os milagres pós-bíblicos, afirmou:
“[…] Os reformadores, por outro lado, alegaram que poderia haver milagres reais, embora inferiores e mentirosos, do lado da mentira, a saber, aqueles realizados pelos próprios papistas. Assim, mesmo que você admita apenas milagres da mentira, como estando ocorrendo atualmente, você admite algo real. Mas isto não é tudo. Ao admitir milagres da mentira, você admite, por inferência, mais coisas. Pois, de acordo com todas as evidências das Escrituras, nunca houve o espúrio sem o genuíno; nunca houve aqueles de baixo, sem aqueles de cima, ao mesmo tempo. E a profecia concorda com os fatos. Como sinais do último dia, nosso Senhor prediz os sinais e as maravilhas dos falsos profetas e cristos, e Joel prediz os verdadeiros. Chega-se, portanto, a isto: onde quer que tenhamos um, devemos aguardar o outro; para que, admitindo o falso, você estabeleça o verdadeiro. Por exemplo: prove que os supostos “dons” são falsos (o que, entretanto, você ainda não fez) e você prova um fundamento para se esperar outros e verdadeiros milagres. Nunca houve uma imitação sem um padrão. Nunca houve uma cópia sem algo de onde copiar. Nunca pode haver um antítipo, sem um tipo. Nunca houve mendigos, assumindo uma forma específica de miséria, sem a miséria real na mesma forma. Assim, toda falsificação implica algo falsificado; e se você provar os milagres falsificados, você apenas nos falará para abrirmos ainda mais os olhos e procurarmos pelos genuínos.” [3]
Além disso, não seria de se estranhar se afirmarmos que o cessacionismo é influência puramente reformada (em especial de Benjamin B. Warfield); uma resposta aos erros do catolicismo romano dos séc. XVI a XIX que advogavam manifestações “carismáticas” como autoridade para canonização de Santos e relíquias. Diante disso, se não estou enganado, pergunto: os Batistas não são protestantes?
Por fim, nossa constante oração é que haja um verdadeiro retorno dos atuais Batistas às doutrinas essenciais das Escrituras que tantos dos nossos defenderam e pelas quais morreram. Busquemos o poder de Deus.
Notas
[1] HYATT, Eddie. 2000 Years of Charismatic Christianity. Lake Mary: Charisma House, 2002. p. 89-90
[2] George Fox, The Great Mystery of the Great Whore Unfolded; And Anti Christs Kingdom, vol. 3 of The Works of George Fox, 8 vols. (New York: AMS Press, 1975), 13.
[3] BOYS, Thomas. The suppressed evidence. p. 46