O governo Lula, sempre muito hábil em prometer mundos e fundos, mas com uma constância invejável em não cumprir, parece ter encontrado outro osso duro de roer: a criação da tal “autoridade climática”. A ideia é, como sempre, mais uma dessas engenhocas burocráticas que servem para mostrar serviço em vez de resolver problemas de verdade. E, como de costume, essa tal autoridade é alvo de uma briga de poder entre os próprios aliados do governo, que, ironicamente, já se desentendem sobre onde enfiar mais esse monstrengo.
Marina Silva, nossa ministra do Meio Ambiente, quer porque quer colocar essa autoridade sob sua batuta. Foi ela quem levantou a bola dessa estrutura ainda durante a campanha eleitoral de 2022, e Lula, sempre disposto a agradar suas alianças, fingiu que a ideia era boa. O problema é que, depois de eleger-se, o presidente simplesmente guardou a promessa no fundo de uma gaveta qualquer. Só agora, com o país pegando fogo – literalmente, com as queimadas que consomem Amazônia e Pantanal – é que o projeto foi ressuscitado. E, claro, só porque a pressão ficou insustentável. Mas, atenção: esse governo só faz alguma coisa quando a coisa já está na porta.
A briga pelo controle da “autoridade climática” é simples: Rui Costa, o ministro da Casa Civil, não quer que Marina, que já é vista como uma outsider dentro do governo, fique com a chave do cofre. Costa, que entende bem de como o jogo de poder funciona, quer que esse órgão seja subordinado diretamente à Presidência da República. Segundo ele, seria uma maneira de garantir que a tal autoridade climática tenha mais “peso” político, ou seja, que possa mandar e desmandar em outros ministros. Mas quem conhece Brasília sabe o que isso significa: controle político.
Enquanto isso, Marina, sempre aquela figura solene e ungida da causa ambiental, insiste em manter a autoridade climática sob seu guarda-chuva, como se estivesse numa cruzada moral. Ela quer que a autoridade tenha um perfil técnico – o que, no idioma de Brasília, significa um burocrata que fala bonito mas que obedece quieto. Enquanto essa disputa vai sendo cozinhada em banho-maria, as queimadas continuam.
E como se o caos não fosse suficiente, a oposição, personificada pela deputada Julia Zanatta, começa a levantar a poeira: ela quer saber para onde foram R$ 315 milhões repassados pelo Ministério do Meio Ambiente para ONGs. A deputada cobra explicações detalhadas sobre quem levou o dinheiro e como esse dinheiro será aplicado para, pasmem, combater a crise ambiental. A desconfiança paira sobre ONGs que, ao que parece, já têm histórico de investigação e continuam recebendo o dinheiro dos pagadores de impostos.
Dentro do próprio governo, a situação de Marina também não é das melhores. Uma ala do Partido dos Trabalhadores já anda incomodada com o “discurso excessivamente didático” da ministra, que mais fala do que faz. No Congresso, onde a pauta ambientalista nunca teve muita popularidade, o descontentamento só cresce. O receio é que, com a chegada das chuvas, mais desastres aconteçam e que o Ministério do Meio Ambiente, que já se mostrou ineficaz contra as queimadas, seja igualmente inútil no combate a deslizamentos e enchentes. Por enquanto, a cadeira de Marina está garantida, mas, no jogo de poder de Brasília, tudo tem limite. E ela já está perto de esbarrar no dela.