Ecologia, uma pauta conservadora

Para o filósofo conservador britânico Roger Scruton, falecido em 2020, os conservadores não se abstém de pautas sociais ou ambientais. Segundo Scruton,  os conservadores só não acreditam que existam soluções socialistas para essas pautas. “A desigualdade não é aliviada pela retirada de bens dos ricos, mas pela oferta de oportunidades aos pobres”. A respeito das pautas ambientais, Scruton diz que não há tema mais urgente e central no debate público atual. Os ativistas ecológicos, contudo, estão equivocados na forma de abordá-lo.

Roger Scruton é autor do livro “Filosofia Verde: Como Pensar Seriamente o Planeta”, obra que trata da responsabilidade de todos nós perante a natureza, essa “herança comum” que deveríamos administrar. Trata-se de um ensaio reflexivo sobre ambientalismo – considerando toda a tradição conservadora – e traz a questão ambiental como o problema político mais urgente de nossa era.

Seguindo essa abordagem conservadora a respeito da temática, publicaremos abaixo a tradução de um artigo escrito pela deputada francesa Marion Maréchal-Le Pen, sobrinha de Marine Le Pen, política francesa, ex-candidata à presidência da França em 2017. 

Ecologia, uma pauta conservadora

O ambientalismo tem uma origem conservadora: o apego à terra, o respeito à lei natural, a harmonia entre o ser humano e a natureza, uma ordem que é preciso preservar.

“A ecologia é um conservadorismo. Sinto muito, Greta! Na palavra ecologia, nós encontramos a raíz ‘eco’ que significa ‘lar’ em grego. Preservar nossos territórios, nossa biodiversidade, nossas paisagens — essa deveria ser a luta natural dos conservadores. Deixamos os valores de defesa da natureza serem associados com os cínicos da extrema-esquerda ou com loucos que fazem amor com árvores.

Eu não quero ter que escolher entre os seguidores histéricos de Greta e os céticos climáticos, igualmente ideológicos, que negam o dano causado por um modelo ultraprodutivista e uma obsolescência planejada. Não acredite no mantra estúpido: ‘Problemas globais, soluções globais’. Problemas globais raramente tem soluções globais, pelo contrário, para o meio ambiente acredito em soluções locais e particulares. Esperar por um consenso global é o melhor jeito de anular as nações e os cidadãos e dar a eles a desculpa da inação. Além do mais, a ecologia não deve ser reduzida ao clima, nós também temos de agir no desaparecimento da biodiversidade, no modelo hiper-consumista, desperdícios, químicos, poluição de soja, etc. Nesses tópicos apenas nações são meios de ação efetivos.

Como francesa, eu conheço o Granito da Bretanha e os Calcanhares de Vaucluse, eu conheço a doçura do Vale Loire e a planície do norte. Nós não protegemos o que não conhecemos.

E o livre-mercado não deve ser uma religião. Não há lógica em promover um modelo em que produtos são manufaturados e consumidos milhares de quilômetros longe. E finalmente e muito importante, não pode haver ecologia sem campesinato. Fazendeiros são ligados à natureza. Uma nação de urbanos não pode entender e portanto, respeitar a natureza. Se queremos preservar inteiramente nossas tradições, não podemos continuar com esse sistema, um sistema que seca os agricultores para ter sucesso. Na França, semeia-se a cada dois dias, o que faz a agricultura viver dependente do mercado financeiro, dirigindo-se para a monocultura ou cultura intensiva por necessidade. Mas não sejamos pessimistas. Muitas alternativas estão disponíveis para nós. Recentemente, cientistas descobriram um jeito de fazer baterias quase eternas de restos nucleares. O conservadorismo deve encorajar inovação de companhias para realizar suas ambições ecológicas.

É surpreendente que os progressistas defendam ecologia para a natureza, mas não ecologia humana. Hoje o homem e o corpo humano estão se tornando objetos de consumo. A convicção está para alugar, gametas podem ser comprados ou vendidos e embriões são cobaias. Eles apresentam o homem como uma simples construção social, gênero e relação como somente resultados do desejo individual. Pai e mãe estão se tornando opções substituíveis. E esta incrível revolução antropológica apenas começou, empresas já estão ‘reparando’ genes e o transhumanismo está tomando forma.

Para confrontar esta revolução temos duas escolhas: a primeira, sermos modernos e ‘aceitar’ ou adotarmos um novo humanismo do século XXI. Um humanismo que respeita a dignidade humana, que recusa a comodificação, que preserva e desenvolve a consciência humana em face à perícia das máquinas, que responde à alma humana e recusa remodelá-la por propósitos ideológicos. E para isso temos todos os recursos intelectuais, históricos, civilizacionais, médicos e técnicos, para realizar um projeto de ecologia integral que combina a preservação da natureza e a preservação da dignidade humana.”

Marion Maréchal-Le Pen durante o National Conservatism Conference em Roma, Itália

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