O dólar disparou na manhã desta quarta-feira, 05, depois de Donald Trump ser eleito o novo presidente dos Estados Unidos. Na abertura do mercado, a moeda superou R$ 6, diante da expectativa de que o republicano adote políticas econômicas, fiscais e comerciais mais protecionistas.
O efeito Trump sobre o dólar foi amenizado ao longo das horas, mesmo assim, no final da manhã a moeda ainda operou em alta (R$ 5,78). Em contrapartida, os preços de commodities agrícolas recuaram. Os contratos futuros da soja negociados para janeiro de 2025 na bolsa de valores brasileira operaram em queda de 1,35%. Na bolsa de Chicago, referência global, a retração era de 0,35%.
Segundo a consultoria Markestrat, o movimento de valorização do dólar frente ao real deve se manter. “A provável política comercial protecionista de Trump, com elevação de tarifas comerciais para países emergentes, intensifica tensões comerciais e riscos, incentivando investidores a buscarem segurança em moedas fortes, como o dólar”, explica a consultoria em relatório.
Além disso, Trump promete reduzir impostos, o que tende a estimular a atividade econômica ao aumentar o consumo e os investimentos. Esse estímulo adicional pode aquecer o mercado de trabalho e elevar a demanda por produtos e serviços, fatores que costumam pressionar a inflação para cima.
“Combinado à noção de que o resto do mundo não acompanhará o ritmo de crescimento da economia americana, temos a justificativa do porque os juros e o dólar avançam em conjunto”, sinaliza o Banco Inter em relatório.
Com a vitória de Trump, a instituição financeira prevê uma taxa de câmbio próxima a R$ 5,70 no encerramento de 2024. A projeção está acima dos R$ 5,50 estimados pelo Banco Central brasileiro no último relatório Focus divulgado na segunda-feira, 04 – antes do resultado das eleições norte-americanas.
Aumento de custo para o agro brasileiro
Como se sabe, o dólar e os juros são fundamentais para a agropecuária, pela influência direta nos custos, na competitividade e rentabilidade do setor. O dólar valorizado tende a tornar os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional, impulsionando as exportações e aumentando a receita dos produtores.
Porém, há impactos negativos no custo de produção, principalmente, no âmbito dos fertilizantes. Atualmente, o Brasil importa cerca de 70% desses produtos. “Enquanto o setor exportador é beneficiado, os custos elevados de produção podem pressionar as margens dos produtores brasileiros”, avaliam os analistas da Markestrat.
Soma-se a esse movimento o fator “juros”. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vai decidir nesta quarta-feira, 06, se eleva ou não a Selic, taxa básica de juros do Brasil. No último mês, o Copom elevou a taxa de 10,50% para 10,75% ao ano.
A alta do dólar com a vitória de Trump e o impacto da seca sobre o preço de energia e alimentos deixam um cenário de incerteza. “Juros elevados encarecem o financiamento, o que pode reduzir os investimentos e aumentar os custos de produção, afetando a lucratividade do setor”, ressalta a Markestrat.