Neste domingo (19), os argentinos vão às urnas para decidir entre Sergio Massa, atual ministro da Economia, e o ultraliberal Javier Milei, para escolher o novo presidente da Argentina.
Os dois candidatos terão a difícil missão de recuperar uma economia extremamente fragilizada e que acumula uma inflação acima dos três dígitos. Até outubro, na semana da eleição, a inflação no país acumula 142,7%.
Enquanto Milei tem a dolarização da economia da Argentina e o fim da relação com o Mercosul como uma de suas principais promessas de campanha, Massa parece significar uma manutenção nas políticas vigentes.
Por outro lado, Leandro Gilio, professor e pesquisador do Centro de Agronegócio Global do Insper, ressalta que o candidato vitorioso deve repensar as políticas intervencionistas no agronegócio.
“As políticas de restringir as exportações (retenciones) e a taxação de exportações têm limitado muito as possibilidades do agro argentino crescer” diz Gilio.
Para ele, na teoria, Milei favoreceria a entrada de produtos brasileiros no mercado. No entanto, o candidato se demonstrou contra as relações com o Brasil e Mercosul, o que traz incertezas. “Já o governo de Massa deve ser menos liberal, apostando com a relação do país com o Brasil e o Mercosul”, explica.
E o agronegócio da Argentina?
A Bloomberg recentemente ouviu um produtor rural da região dos Pampas que se demonstra descontente com as taxações ao setor nos últimos anos e disse simpatizar com as políticas de Milei.
O ultraliberal defende a redução de impostos aos exportadores e quer permitir que os produtores vendam suas safras onde quiserem, o que tem feito Milei ganhar apoio em um setor que responde por 20% da economia da Argentina.
Para Leandro Gabiati, doutor em ciência política pela Universidade de Buenos Aires, o agronegócio também funciona como o motor econômico para Argentina, assim como é para o Brasil.
“A Argentina precisa de dólares e eles só virão através dos produtores rurais se houver condições atrativas, incentivos, para que eles insiram dólares na economia. A balança comercial do país depende muito do tamanho da safra, mas o controle da inflação dependerá justamente do novo plano econômico que será definido”, finaliza.
A quebra da safra na Argentina
Em 2022, os argentinos, que respondem pela terceira maior produção de soja do mundo, atrás apenas do Brasil e Estados Unidos, sofreram com uma grande seca que resultou em uma redução de 51,5% na produção da oleaginosa no país.
Dessa forma, a safra 2022/2023 da Argentina ficou em 21 milhões toneladas, menor volume em 20 anos.
Segundo o governo do país, essa quebra deve resultar em uma queda de 3% no Produto Interno Bruto (PIB), que equivale a US$ 20 bilhões (R$ 100,79 bilhões).
Assim, para a safra 2023/2024, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires projeta um avanço de 138% na safra de soja depois da forte seca. Já a safra de milho do terceiro maior exportador do mundo, deve crescer 61%.