O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou neste sábado (6) sobre a Independência do Brasil, que amanhã completa 203 anos. Em meio ao tarifaço imposto por Donald Trump e ameaças de mais sanções, articuladas pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro — filho de Jair Bolsonaro, antecessor e maior adversário político do PT atualmente —, Lula disse, sem citar o presidente dos Estados Unidos, que o “único dono” do país é o “povo brasileiro”. O petista também abordou em sua fala o Pix, sistema de pagamento alvo de uma investigação pela Casa Branca, e defendeu a regulação das redes sociais.
“Mantemos relações amigáveis com todos os países, mas não aceitamos ordens de quem quer que seja. O Brasil tem um único dono: o povo brasileiro. Por isso, defendemos nossas riquezas, nosso meio ambiente, nossas instituições”, disse o petista. Ontem, em discurso na Casa Branca, Trump disse que está “chateado” com o governo brasileiro, que classifica de “esquerda radical”. O americano ameaçou restringir vistos para a Assembleia Geral da ONU, em Nova York. “Estamos muito irritados com o Brasil. Já aplicamos tarifas pesadas porque eles estão fazendo algo muito infeliz.”
Trump usa como justificativa para suas ações contra o Brasil o que chama de perseguição ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Para o republicano, seu aliado na América do Sul não enfrenta um julgamento justo no STF (Supremo Tribunal Federal). Ao menos um dos ministros da Corte já enfrenta as consequências da ira da Casa Branca. Alexandre de Moraes foi sancionado com base na Lei Magnitsky, o que inclui bloquei de bens e contas e proibição de entrar nos Estados Unidos. A justificativa foi que Moraes violou a liberdade de expressão e autorizou prisões arbitrárias.
Foi mais um gancho para Lula focar na soberania nacional, mantra do governo federal durante a guerra comercial e retórica contra os EUA. Aproveitando o 7 de Setembro, o presidente fez um paralelo entre os rumos que o Brasil tomou após deixar de ser colônia de Portugal e a influência americana nos dias hoje. “Na época da colonização, nosso ouro, nossas madeiras, nossas pedras preciosas, nada disso pertencia ao povo brasileiro. Toda nossa riqueza ia embora do Brasil para ajudar a enriquecer outros países. Mais de 200 anos se passaram e nós nos tornamos soberanos. Não somos e não seremos novamente colônia de ninguém. Somos capazes de governar e de cuidar da nossa terra e da nossa gente, sem interferência de nenhum governo estrangeiro”, disse Lula.
Amanhã, o presidente participará das comemorações do 7 de Setembro e Brasília e deverá voltar a defender a soberania nacional. Este tema, aliás, estará presente em outras capitais, em manifestações de esquerda convocadas pelo governo. A ideia é competir com a oposição, que também vai às ruas neste Dia da Independência, mas com outras pautas. Na Avenida Paulista, aliados de Jair Bolsonaro devem defender a anistia a envolvidos no 8 de Janeiro, o que inclui o ex-presidente.
Em seu discurso, Lula tocou no assunto, também sem citar nomes. Defendeu a democracia em meio ao julgamento de Bolsonaro, acusado de conspirar para não entregar o governo ao rival, e chamou de “traidores da pátria” quem articulou as tarifas dos EUA junto ao governo americano, um claro recado a Eduardo Bolsonaro. “Defendemos nossa democracia e resistiremos a qualquer um que tente golpeá-la. É inadmissível o papel de alguns políticos brasileiros que estimulam os ataques ao Brasil. Foram eleitos para trabalhar pelo povo brasileiro, mas defendem apenas seus interesses pessoais. São traidores da pátria. A história não os perdoará.”