O mais novo apagão em São Paulo, após o vendaval que atingiu a capital e outras cidades da região metropolitana na semana passada, reacendeu mais um embate entre o governo federal e as gestões estadual e municipal. Depois de, na última sexta-feira (12), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e o governador do Estado, Tarcísio de Freitas, terem conversado pessoalmente com o presidente Lula pedindo auxílio no caso da Enel, concessionária que administra a energia elétrica em 24 municípios do Estado, incluindo a capital, Nunes e Tarcísio tem uma reunião nesta terça-feira (16) com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
Nas últimas semanas, as divergências sobre a empresa voltaram a escalar a disputa entre os poderes: Alexandre Silveira chegou a dizer que não haveria politização envolvendo a renovação do contrato. “Deixa o prefeito [se] quiser chorar, o governador de São Paulo [se] quiser chorar, não tem problema. Se estiver certo, vão renovar. Se estiver errado, mostra que está errado, dá um despacho lá, tem coragem de fazer, enterra e acabou”, afirmou. Depois, na semana passada, o Ministério de Minas e Energia divulgou uma nota criticando o que chamou de “uso político” da questão e “politização” por Nunes e Tarcísio.
O prefeito e o governador de São Paulo rebateram e reforçaram as falas contra o chefe da pasta. “Ministro, quem está chorando é a população. Enquanto você está zombando, a população chora, a população sofre. É inaceitável que já há anos essa empresa aqui na cidade de São Paulo e nos demais 23 municípios faça com que milhões de pessoas sofram tanto”, declarou Nunes.
Segurança pública
Durante todo o ano, divergências e disputas políticas entre o governo federal e o governo de São Paulo marcaram o debate público. As duas esferas discordaram, por exemplo, em várias esferas da segurança pública. A mais recente sobre o chamado PL Antifacção, enviado pelo governo federal ao Congresso Nacional com relatoria do agora ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite. Relator do texto na Câmara, Derrite fez diversas alterações no projeto, criticadas pela gestão nacional – inclusive uma que dava menores poderes à Polícia Federal.
Depois, a possível relação ou não do Primeiro Comando da Capital (PCC) com casos de contaminação por metanol em bebidas culminou em mais uma postura desencontrada em relação às organizações criminosas. No auge da crise, duas coletivas de imprensa, quase que simultâneas, foram convocadas pelos governos – com resultados e falas diferentes. Além do episódio do metanol, houve um estranhamento entre Polícia Federal, Ministério da Justiça e Secretaria da Segurança Publica de São Paulo, quando o Derrite agradeceu, mas dispensou ajuda da Polícia Federal para investigar o assassinato do ex-delegado Ruy Ferraz Fontes.
No fim do agosto, outro caso com tema similar: a facção foi alvo de diversas operações simultâneas contra lavagem de dinheiro em postos de combustíveis. Na ocasião, a PF e as forças de segurança paulistas também organizaram entrevistas coletivas no mesmo horário. Enquanto Tarcísio afirmou que denunciava o caso já há mais de ano, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, disse que foi “uma das maiores operações da história brasileira.”
Outros casos
Ainda neste ano, pelo menos outras duas discussões ganharam força entre as gestões: o caso da Favela do Moinho, no centro da capital, e o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
No primeiro, após a União ceder o terreno da comunidade à gestão estadual para a criação de um parque, a escalada política começou após denúncias de que famílias estariam sendo retiradas a força do local. Os relatos motivaram, primeiro, uma intervenção de ministros desembarcando no local e, depois, em uma agenda de Lula ali. Na ocasião, o presidente formalizou uma solução habitacional para o local. Tarcísio não participou do evento e, em falas recentes, chegou a dizer mais de uma vez que, até agora, o que foi falado pelo governo federal não foi colocado em prática – e que Secretaria de Habitação do Estado tem trabalhado sozinha.
Já sobre as tarifas impostas por Donald Trump, o governador de São Paulo foi bastante criticado nominalmente por aliados de Lula por ter celebrado a vitória do presidente americano para o novo mandato. Eles chegaram a trocar farpas, inclusive, nas redes sociais – caso do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e da ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. Depois, no mesmo dia em que o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, marcou uma reunião com setores afetados para falar sobre o assunto, Tarcísio fez o mesmo no Palácio dos Bandeirantes, em um encontro, também, com representantes da Embaixada dos EUA em São Paulo.




