A força do setor de agronegócios da América Latina, combinada com sua necessidade de digitalização e desafios relacionados à conformidade regulatória e integração com diferentes regimes comerciais, está atraindo um número maior de empresas de tecnologia.
Uma das empresas que priorizam o segmento é a Thomson Reuters, que oferece soluções de software tributário, jurídico, folha de pagamento, compliance e comércio global para grandes corporações.
“Hoje, um dos nossos objetivos é crescer na área de agronegócio e bioenergia. Construímos um modelo de commodities agrícolas muito forte, para atuar com foco no comércio exterior e no lado fiscal, para toda a América Latina, do México à Argentina”, disse Luciano Idesio, vice-presidente da Thomson Reuters na América Latina para o segmento corporativo, à BNamericas.
A empresa reporta mais de 5 mil clientes de soluções digitais na América Latina no segmento corporativo, em diferentes verticais. Boa parte desses clientes são multinacionais e multilatinas. Brasil e México se destacam como os principais mercados da empresa.
“A América Latina é uma região muito importante para a parte corporativa da Thomson Reuters”, disse Idesio. “E o agronegócio e a bioenergia são áreas em que crescemos aos trancos e barrancos.”
Segundo Idesio, as soluções de software da empresa se integram a outros softwares de gestão, como SAP, Oracle e Microsoft, parceiros globais do grupo.
Os principais clientes da empresa no segmento agrícola são traders e “produtores com operação verticalizada”, disse Idesio. Além disso, fabricantes de equipamentos agrícolas, como a empresa britânica JCB, são clientes das soluções tributárias da empresa no Brasil.
A Thomson Reuters também pretende crescer comprando outras empresas de tecnologia. “A empresa tem M&A em sua estratégia. Estamos sempre atentos às possibilidades de aquisição”, disse Idesio. A mais recente na região foi em abril passado no Brasil, com a aquisição da Gestta, provedora de soluções para escritórios e departamentos jurídicos.
COMPLIANCE EM ESG
Também no Brasil, a Caramuru Alimentos, empresa que atua no mercado de processamento de soja, milho, girassol e canola, implementou recentemente soluções tecnológicas da Agrotools, maior plataforma digital do agronegócio corporativo, para desenvolver processos alinhados ao compliance socioambiental.
“O futuro do agronegócio está diretamente ligado a dados, algoritmos, satélites e inteligência, muito mais conectados a algoritmos do que a maquinários, possibilitando o desenvolvimento sustentável e tecnológico da cadeia agroalimentar”, disse o CEO da Agrotools, Sérgio Rocha, em comunicado.
E a SLC Agrícola, uma das maiores produtoras de grãos do Brasil com presença em sete estados, anunciou neste mês que adotou o serviço de nuvem Microsoft Azure como parte de seu esforço de transformação digital.
O objetivo é dar respostas tecnológicas mais rápidas para atender o crescimento da empresa, além de reduzir o tempo de desenvolvimento de aplicativos, segundo o grupo.
O principal desafio da SLC foi automatizar processos e trazer mais agilidade e eficiência à gestão de suas unidades produtivas, acrescentou.
“Com a implantação das soluções em nuvem, centralizamos todas as informações em um só lugar, permitindo o acesso dos funcionários em tempo real, o que facilita a comunicação entre as unidades”, afirmou João Aranda, gerente de infraestrutura, governança e serviços de TI da SLC Agrícola em um comunicado.
Além da nuvem, a empresa também está trabalhando com Claro, Embratel e Huawei em pilotos 5G. Ela também substituiu a plataforma principal de ERP da Totvs por SAPs.
NOVA LEGISLAÇÃO
No Brasil, o valor bruto da produção do setor agrícola deve chegar a R$ 1,3 trilhão (US$ 253 bilhões) este ano, alta de 2,2% em relação a 2022.
Mas ainda há desafios.
Com o objetivo de acelerar e incentivar a digitalização no campo, o governo brasileiro promulgou, no final do ano passado, uma lei que estabelece uma política nacional de incentivo à agricultura de precisão e à pecuária.
Entre as diretrizes da legislação – ainda pendente de regulamentação – estão a ampliação da rede e infraestrutura de pesquisa e o apoio à inovação e ao desenvolvimento tecnológico, além de mudanças tributárias.
“O uso de sensores, imagens e sistemas de controle, assim como o uso de gerenciamento de dados, big data e inteligência artificial, se tornará predominante nos próximos anos, contribuindo inclusive para a entrada de novos players no mercado”, Rodrigo Miranda, chefe de operações da consultoria GAC Brasil, disse em comunicado sobre a nova política.
CRESCIMENTO DE M&A PELA TECNOLOGIA
A indústria já está passando por mais consolidação, incluindo empresas estrangeiras que adquirem empresas locais.
Um estudo recém-divulgado pela KPMG, que analisou 43 setores da economia brasileira, mapeou 117 M&As no agronegócio do país no ano passado, mais que o dobro do número em 2021 e três vezes mais do que em 2020.
O agronegócio foi responsável por 7% de todas as fusões e aquisições no Brasil em 2022, segundo a KPMG.
“Apesar de relevante dentro do universo de transações realizadas no setor, o número de transações que envolvem empresas de base tecnológica ainda é incipiente em relação às 1.703 startups do agronegócio (agtechs) mapeadas pela Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] no ecossistema de inovação no Brasil”, disse Giovana Araújo, sócia de agronegócios da KPMG no Brasil.