As redes sociais têm se tornado uma vitrine de momentos impressionantes da vida selvagem em áreas de pecuária, registrando encontros inusitados entre bovinos e animais como onças e sucuris. Vídeos viralizam ao mostrar desde ataques surpresa de felinos até reações de gado diante de cobras gigantes, proporcionando um olhar único sobre esses conflitos naturais.
Além de gerar curiosidade e conscientização, esse conteúdo tem ajudado pesquisadores e produtores a entender melhor o comportamento dos animais, enquanto fascina milhões de espectadores ao redor do mundo.
Em mais um vídeo impressionante, é possível ver um touro da raça Nelore caminhando calmamente em uma estrada rural, onde logo a frente, há duas onças pintadas, aparentemente um casal, na espera do animal. As imagens foram gravadas pela bióloga Paula Ojeda, que trabalha em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) na cidade de Miranda, Mato Grosso do Sul. O local recebe recebe ONGs e pesquisadores dedicados a conservação da fauna e flora locais.
A primeira informação é de que o vídeo havia sido registrado no município de Poconé, conhecido como o “Portal do Pantanal” por ser uma das principais entradas para a maior planície alagável do mundo. O município abriga uma extensão significativa do bioma pantaneiro, com áreas que se estendem por centenas de quilômetros, caracterizadas por estações bem definidas—cheias, que alagam vastas regiões, e secas, que revelam campos e lagoas.
Essa dinâmica única sustenta uma biodiversidade extraordinária, incluindo jacarés, capivaras, ariranhas e aves migratórias, além de ser um dos cenários onde a pecuária tradicional convive com desafios como ataques de onças e sucuris.
No vídeo, é possível observar o touro caminhando lentamente em direção às onças. As felinas, à distância, acompanham sua aproximação. Assim que ele se aproxima, elas se afastam, abrindo caminho. O touro, então, demonstra comportamento agressivo, ameaçando atacar as onças em uma clara tentativa de impor respeito e dominância.
Em um dos comentários da publicação um internauta explica. “Quem morou no Pantanal sabe, onça respeita o touro, só ataca se estiver acuada, do contrário foge mesmo. A noite, a boiada forma o rodeio e os touros ficam ao redor protegendo bezerros e vacas” – explicou.
O Canal Indomáveis apresentado por Bruno, comentou o vídeo e disse que dificilmente onças abateriam um touro adulto em plena saúde. “Se juntasse essas duas onças, não davam conta de abater esse touro, olha o tamanho da tábua do pescoço do touro, o pescoço dele dá quase 40 centímetros de largura, onde que elas vão morder, para quebrar a base do crânio, para quebrar a espinha na base do crânio, não dá conta, não consegue predar de jeito nenhum, pode agarrar na barbela [entretanto] tem um mundo de músculo ali, não dá conta de jeito nenhum” – explicou o contador de contos em uma determinada parte do vídeo.
Um dos fatores que explica o comportamento cauteloso das onças é o porte imponente do touro da raça Nelore, que pode atingir até uma tonelada. Observa-se que, na maioria dos casos, esses felinos preferem atacar categorias mais vulneráveis, como bezerros e novilhas, evitando confrontos diretos com animais adultos de grande porte.
A região de Poconé, em particular, concentra grandes fazendas dedicadas à pecuária de corte, que precisam se adaptar ao ritmo das águas e à presença da fauna selvagem.Sua localização estratégica não só a torna um polo ecoturístico, com safáris e pesca esportiva, mas também um laboratório natural para estudos sobre conservação e produção sustentável.
Pecuária de corte e a fauna brasileira
A pecuária de corte no Brasil, uma das mais importantes do mundo, convive diariamente com desafios únicos devido à proximidade de grandes áreas de mata e florestas de biomas como Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica.
Essa fronteira entre pastagens e habitats naturais gera constantes conflitos entre o gado e predadores como onças-pintadas e sucuris, resultando em prejuízos significativos para os produtores rurais.
Onças, principalmente as pintadas e pardas, são as que mais causam danos, atacando principalmente bezerros e vacas. Estima-se que, em regiões de alta densidade desses felinos, as perdas anuais podem chegar a 5% do rebanho, representando milhões de reais em prejuízos. Já as sucuris, comum em áreas alagadiças como o Pantanal, atacam principalmente animais jovens, sufocando-os antes de engoli-los. Embora esses casos sejam menos frequentes, também impactam a produtividade.
Um desses exemplos foram os dados divulgados pela Fazenda Roncador, uma das maiores do Brasil. Só em 2021, onças-pintadas abateram 1.831 bezerros de uma das maiores fazendas agropecuárias do país, que fica em Querência (MT). Pelerson Penido Dalla Vechia, o dono da fazenda de 147 mil hectares, sendo 72 mil hectares de mata nativa ou área de preservação, diz que o aumento de mortes de bezerros é um indicador da qualidade da biodiversidade das matas da propriedade porque a onça está no topo da cadeia alimentar.
Além das perdas diretas, os produtores enfrentam custos adicionais com medidas de proteção, como cercas mais resistentes, monitoramento noturno e até realocação de pastagens. Algumas fazendas investem em técnicas de coexistência, como a criação de “áreas de escape” para o gado e até mesmo programas de compensação por animais perdidos, em parceria com organizações ambientais.
Apesar dos desafios, especialistas destacam que o equilíbrio entre produção e conservação é possível, desde que haja políticas públicas eficientes e incentivos para práticas sustentáveis. Enquanto isso, a pecuária brasileira segue buscando soluções para reduzir os impactos da fauna silvestre sem comprometer a biodiversidade, mantendo sua posição como líder global no setor.