Enem expõe abismo educacional no Acre: estudo revela distância crescente entre escolas públicas e privadas

O estudo econômico “Uma análise sintética do Enem 2024: o que os números revelam?” divulgado pelo Fórum Empresarial do Acre trouxe um panorama nacional e estadual das desigualdades educacionais. No Brasil, o exame registrou 3,5 milhões de participantes e expôs grandes contrastes: escolas particulares tiveram média 85,5 pontos acima da média nacional, enquanto as estaduais ficaram 26,8 pontos abaixo.

O estudo objetiva, de forma geral, elaborar um panorama sintético das informações estatísticas presentes no Enem 2024. Os especialistas fizeram uma análise do desempenho dos estudantes acreanos no exame, um diagnóstico das desigualdades educacionais dentro do Acre e apresentam uma proposta de base de subsídios.

Os dados utilizados são do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A pesquisa faz uma avaliação do desempenho dos estudantes no Brasil, nas regiões, no Acre e nos municípios acreanos.

Ao final, os pesquisadores apresentam reflexões sobre o desempenho no Enem.

“O Exame Nacional do Ensino Médio, mais do que um exame de acesso ao ensino superior, é um ótimo indicador da qualidade da educação brasileira. A análise dos dados do Enem 2024, indica um cenário de profundas desigualdades, onde fatores socioeconômicos, geográficos e a dependência administrativa das escolas moldam, de forma intensa, o futuro dos estudantes”, destacam os especialistas no estudo.

O estudo revela que, no Brasil, a matemática continua sendo o principal fator de queda no desempenho geral do Enem — e seu impacto é maior do que o de qualquer outra área do exame.

Mesmo estados com bom desempenho em redação e linguagens registram fortes retrações quando a nota de Matemática é considerada, formando um padrão nacional de “freio” que limita a média geral do país.

Posição do Acre no cenário nacional

Em 2024, ano avaliado no estudo, o Acre participou com 128 instituições de ensino que apresentaram mais de dez candidatos nas provas. Considerando que a média nacional do Enem 2024 foi de aproximadamente 529 pontos, a pesquisa mostra que o desempenho do estado foi inferior ao patamar nacional.

Especificamente, o estado apresentou uma defasagem de 24 pontos em relação à média brasileira, contrastando com Santa Catarina, que se posicionou 28 pontos acima do referencial nacional, ilustrando as disparidades regionais no sistema educacional brasileiro.

Ainda conforme o estudo, das 128 escolas analisadas, a rede privada alcança 598,45 pontos, enquanto a estadual marca 492,37, um abismo de 106 pontos que revela condições pedagógicas e socioeconômicas profundamente distintas. As escolas federais (média de 538,32) ocupam posição intermediária.

A diferença territorial também pesa: escolas urbanas registram 508,49 pontos, contra 473,71 das rurais. Apesar de representar cerca de 7% de diferença percentual, o número traduz limitações concretas em infraestrutura, conectividade e formação docente no interior do estado.

A concentração de resultados também é marcante: 90% das melhores escolas estão em Rio Branco, evidenciando que a excelência educacional permanece praticamente restrita à capital.

Além das redes e localizações, o relatório identifica padrões que reforçam essa assimetria. O ranking das melhores instituições do Acre é praticamente dominado pela rede privada: o Colégio Sigma lidera com 678,60 pontos, seguido pelo Lato Sensu, com 661,42.

O estudo destaca que 80% das dez melhores escolas são particulares, e que mesmo as duas federais que aparecem no topo — o Colégio de Aplicação e o Instituto Federal do Acre (Ifac), ficam cerca de 39 pontos abaixo da média das privadas de excelência.

Na outra ponta, o levantamento mostra um grupo preocupante de 22 escolas com desempenho crítico, a maioria localizada em áreas rurais e pertencente à rede estadual. Essas instituições registram médias até 114 pontos abaixo do patamar nacional, indicando vulnerabilidades que comprometem o desenvolvimento educacional e as futuras chances acadêmicas e profissionais dos estudantes.

Embora o estudo apresente diagnósticos precisos, também aponta caminhos. Reforça a necessidade de intervenção imediata nas escolas rurais mais vulneráveis, fortalecimento do ensino de ciências da natureza e matemática, e disseminação das práticas de maior sucesso observadas na capital. O documento recomenda ainda a criação de painéis de monitoramento contínuo, integrando dados do Enem, Censo Escolar e indicadores socioeconômicos, como forma de orientar políticas públicas com maior precisão.

Para o estudo, os números deixam claro que reduzir desigualdades territoriais e sociais é condição indispensável para elevar a qualidade educacional no Acre e no Brasil.

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