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Estão tornando a tirania cada vez mais cômoda para os tiranos

Um dos aspectos mais destrutivos no crescente arsenal de medidas de repressão contra a Covid, talvez o mais venenoso de todos eles, seja o entusiasmo com que o Judiciário, as “autoridades locais” e a máquina pública brasileira em geral vêm atacando as liberdades públicas e os direitos individuais neste país.

Não se trata mais de surtos individuais de pequena tirania. Parece, cada vez mais, ser uma guerra – como fica comprovado, agora, com as decisões do Supremo Tribunal Federal e do Ministério Público de retirarem dos pais a guarda dos filhos que não tomarem vacina. Nem na “ditadura militar de 1964”, que até hoje deixa a esquerda brasileira fora de si, alguém pensou em fazer um negócio desses; se pensasse, seria posto para fora do governo e internado num hospital de doenças mentais.

Mas qualquer coisa feita “contra a covid” no Brasil de 2022, ou “para salvar vidas”, se transformou em virtude cívica superior. É a “nova sociedade” que estão construindo na cara de todo mundo, aqui e lá fora: o cidadão, em tudo o que diga respeito à “pandemia”, precisa esquecer à sua própria liberdade constitucional, conforme estabelecida em lei, e obedecer à autoridade. É essa a função central de sua vida: obedecer. Obedecer ao governador, ao prefeito, ao fiscal e a quem mais aparecer pela frente com um “protocolo” dizendo que é essa, agora, a sua obrigação legal.

Que a esquerda brasileira e mundial tenham aderido automaticamente ao pacote de pressão à covid não é nenhuma surpresa. A esquerda está sempre contra a liberdade, por princípio, em qualquer causa; se não estivesse, não haveria no mundo lugares como Cuba ou Venezuela, e nem Lula teria como uma das principais metas do seu eventual governo o “controle social dos meios de comunicação”.

Também não chega a ser um espanto que a governadorzada e a prefeitada que estão aí tenham se convertido tão rapidamente à religião da covid; foi oferecida a eles todos a possibilidade de serem pequenos ditadores em seus espaços, sem risco pessoal para ninguém, e é claro que gostaram muito. Além do imenso atrativo de autorizar gastos sem licitação, um prefeito, hoje, pode segregar crianças que não tomaram vacina; pode fazer uma penca de disparates como esse. É claro que não resiste.

Pior que isso tudo, porém, é a crescente cumplicidade de tanta gente, a começar pela maioria dos meios de comunicação, com a supressão dos próprios direitos. Estão tornando a tirania cada vez mais cômoda para os tiranos.

J.R. Guzzo

*J.R. Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de 1976, período em que a circulação da revista passou de 175.000 exemplares semanais para mais de 900.000. Nos últimos anos trabalhou como colunista em Veja e Exame.

**Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião do Diário do Acre.

Por J.R. Guzzo, publicado no jornal Gazeta do Povo em 31 de janeiro de 2022

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