Estudo da Fiesp aponta avanços e desafios da cadeia do leite

A produtividade média nas fazendas leiteiras do país cresceu 59% na última década, com os Estados do Sul na dianteira.

Reflexo do aumento de produção entre 2011 e 2020, os laticínios compraram mais leite cru, convertendo-o principalmente em queijos, leite UHT e leite em pó, os derivados que puxaram a produção.

O consumo per capita, no entanto, cresceu apenas 3%, menos do que a população, que aumentou 8% no período.

Como em toda atividade econômica em que os perfis dos agentes são muito distintos entre si, o potencial inexplorado ainda é muito grande. A avaliação e os dados são do estudo “Agronegócio do Leite: produção, transformação e oportunidades”, elaborado pelo Departamento de Agronegócio da Fiesp.

No campo, uma das conquistas no período foi o aumento da produtividade por vaca, resultado de investimentos em genética, nutrição, saúde animal e tecnologia. A produção média saiu de 1,382 bilhão de litros por animal, em 2011, para 2,192 bilhões em 2020 – uma alta de 59%.

O ganho é relevante em uma atividade econômica que tem sofrido transformações paulatinas. O setor retrata um Brasil de vários Brasis ao reunir desde os megaprodutores aos fazendeiros com poucas cabeças de gado – casos em que as “mimosas” representam a única renda e o investimento da família. Com as adversidades, muitos pequenos produtores têm deixado a atividade, que passa por concentração.

Apesar das mudanças, a produtividade brasileira ainda é menor que a de grandes produtores globais. Na Nova Zelândia, a média é de 4,5 mil litros por animal ao ano, na União Europeia, de 7,2 mil litros, e, nos EUA, a 10,8 mil. Mas as médias nessas regiões cresceram de 11% a 16%, enquanto o avanço no Brasil foi de 59% no período.

“No Brasil o setor ficou um pouco atrasado se comparado com outros segmentos que hoje lideram a pauta exportadora do agronegócio. Mas há muito potencial para conquistar”, diz Antonio Carlos Costa, superintendente de departamentos da Fiesp. O momento é desafiador e o setor penou sobretudo em 2021, com a disparada dos custos.

Segundo o estudo, o custo da operação industrial dos laticínios já vinha subindo – de 2010 a 2019, o aumento foi de 58%, para R$ 61 bilhões. No período, o valor bruto da produção dos laticínios cresceu 33%, para R$ 82 bilhões. Apesar do quadro, que inclui a baixa evolução do consumo per capita, a Fiesp apresenta uma visão de longo prazo positiva.

Para os analistas, a atividade tem potencial para novos ganhos em produtividade e consumo, assim como para atrair investimentos.

Roberto Betancourt, diretor do Departamento de Agronegócio da Fiesp, pontua ser preciso aprimorar o sistema produtivo, já que a melhoria de produtividade reduz custos. Para ele, os produtores em pior situação continuarão deixando a pecuária leiteira. “A busca da eficiência passa por todos os elos, desde o produtor ao varejo”, acrescenta Cicero Hegg, sócio fundador da Laticínios Tirolez.

Na mesma década em que a produtividade cresceu no campo, o volume de leite cru adquirido pelos laticínios subiu 18%, para 25,6 bilhões de litros em 2020. Queijos, UHT e leite em pó lideraram o segmento. Entre eles, o destaque são os queijos. “Foi o segmento que segurou o consumo”, diz Nilson Muniz, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Lácteos Longa Vida (ABLV).

O queijo foi o derivado que mais ampliou sua participação, seja no volume de derivados produzido pela indústria ou no valor faturado por esse elo da cadeia com as categorias de lácteos. Em volume, a participação de queijos cresceu de 27,8%, em 2010, para 38,7% em 2019, enquanto em valor saiu de 21% para 27%. Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Queijo (Abiq), Fabio Scarcelli, em queijos o consumo per capita cresceu cerca de 2 quilos desde 2013, para 6 quilos.

Para ampliar o volume a 7,5 quilos de queijo por habitante em dez anos, conforme projeta a Abiq, será preciso trabalhar em frentes distintas, como em campanhas informativas para estimular o consumo. “A carne é uma proteína animal que faz mais sucesso por aqui. Na Europa, onde se aprende sobre tipos de queijo desde criança, é o contrário”, cita Scarcelli. O consumo per capita de queijo na Europa chega a 20 quilos.

Naquele continente, a estrela dos churrascos não é o bife. “Tive a oportunidade de participar de um onde havia 12 tipos de queijos e apenas dois hambúrgueres abandonados em uma churrasqueira descartável”, comentou. O fato é que o brasileiro gosta de queijo, mas conhece pouco, e por essa razão as campanhas sobre o produto devem continuar ocorrendo. Apesar das vendas esbarrarem no poder de compra, o produto é quase uma unanimidade, reforça Hegg, da Tirolez. “Uma pesquisa recente que fizemos relatou 95% de aceitação e apreciação”, afirma.

O queijo está entre os derivados lácteos que representam papel importante para explorar o potencial de consumo que a indústria enxerga para o setor. O brasileiro consome 172 litros de leite per capita por ano, indica a pesquisa, abaixo do absorvido no mercado americano, onde o volume é de 327 litros a cada ano. Na Europa, são 233 litros ao ano e, na Argentina, 265 litros.

“Nosso consumo médio de lácteos tem potencial de aumentar mais de 50% e se equiparar ao da Argentina, país com o qual compartilhamos aspectos econômico-sociais semelhantes”, diz Carlos Humberto, presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Derivados do Estado de São Paulo (Sindileite).As informações são do Valor Econômico.

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