A União Europeia avança para adiar a implementação da lei antidesmatamento no bloco econômico. A lei visa impedir que países membros importem produtos produzidos em áreas de desmatamento ilegal e legal, alinhando-se às metas de redução de emissões de gases de efeito estufa pelo bloco até 2050.
Nesta quinta-feira, 27, especialistas apontaram entraves técnicos para a implementação da legislação. “Tenho contato com pessoas que estão em Bruxelas e eles indicam que os desafios são técnicos”, disse Daniela Mariuzzo, especialista em Sustentabilidade, ESG e Cadeias Agrícolas Globais, durante o Estadão Agro Summit 2025.
Ela explicou que o modelo europeu foi construído pensando no fluxo das commodities importadas pelo bloco, sem considerar, os sistemas dos países exportadores, deixando, na visão da especialista, “uma situação bem complexa”.
As regras descritas na chamada EUDR miram os principais produtos importados: cacau, carnes, café, óleo de palma, soja, madeira e borracha. Entre os itens, o Brasil envia volumes consideráveis de café, soja e carnes.
Dessas cadeias, Mariuzzo vê um maior avanço de adequação do café e soja. Já a carne, esbarra na complexidade da rastreabilidade de um subproduto: o couro. “Hoje, 80% do couro brasileiro é exportado. A rastreabilidade da carne já é feita toda por questão de sanidade, mas o couro, ele precisaria ter um investimento e uma vontade de que isso aconteça”, disse Daniela.
O coordenador da Rede MapBiomas, Tasso Azevedo, também participou do painel ‘Europa bate à porta – A lei antidesmatamento da União Europeia e o acordo Mercosul-UE’. Na visão dele, a exigência de rastreabilidade para garantia de práticas agropecuárias sustentáveis, sem a necessidade de desflorestamento é uma tendência mundial. “Nós já estamos vendo isso com a China, não é algo regulado, é voluntário essa questão de você ter essa rastreabilidade, mas já está acontecendo”, destacou.
Mais produtividade, menos desmatamento?
Para Azevedo, a ideia disseminada de que quanto maior a produtividade, menos os produtores rurais vão querer abrir áreas, deve ser invertida. Segundo ele, medidas que impõem restrições ao desmatamento não limitam a produção e como efeito estimula-se ainda mais a busca por tecnologias que aumentem a produtividade da produção agropecuária.
Como exemplo, o especialista citou o Estado de São Paulo, que devido à Lei da Mata Atlântica — que veda a supressão de vegetação primária do Bioma Mata Atlântica, para fins de loteamento ou edificação — teve a área de pecuária reduzida quase pela metade, entre 2000 e 2024. Porém, a produtividade do estado se manteve em ascendência. “Hoje, São Paulo e Goiás são os estados que mais crescem em produtividade agrícola. Então, essa história de que se você não pode aumentar a área, vai investir em produtividade pode ser um movimento muito virtuoso”, destacou.


