Francisco Miguel como colaborador do papel civilizador dos frades capuchinhos

Em um texto que escrevi anteriormente, falei do papel que teve a família de Chico Miguel na propagação da fé Católica no Vale do Pajeú. Em 1853, quando da passagem do Frade Capuchinho Caetano de Messina pela Vila da Ingazeira, foram os familiares de Chico Miguel que doaram as terras em que hoje se localiza a sede do Município.

Tenho a escritura pública, assinada por Francisco Miguel de Siqueira, recebendo a doação de seus familiares, como procurador do Padroeiro São José. O Frade Capuchinho Caetano de Messina compareceu ao ato notarial. Consta da escritura que o religioso muito se empenhou para que a doação fosse feita. Sensibilizou a família (doadora) sertaneja.

O Frade Caetano de Messina (Capuchinho), foi um apóstolo do Brasil. Se cogita da declaração de santidade do Frade Capuchinho pela Igreja Católica. Consta que morreu no Uruguai realizando importante papel missionário. Um verdadeiro Santo!

Hoje pretendo falar de outro Capuchinho que teve importante papel missionário no Brasil, e em especial, no Vale do Pajeú. Refiro-me ao Frade Capuchinho Serafim de Catânia. Frei Serafim de Catânia foi um missionário capuchinho da ordem dos franciscanos (1812-1887).

Recentemente o amigo (Jair Som), me enviou um recorte do Diário de Pernambuco que muito diz sobre o importante papel do Fr. Serafim de Catânia, que muito diz sobre o que fez no objetivo de promover a civilização aqui no Pajeú. A notícia de jornal é do ano de 1860. Traz também um belo testemunho do relevante papel de Francisco Miguel de Siqueira como colaborador dessa obra civilizadora dos Capuchinhos na região.

Vou transcrever o texto, em linguagem atual, como uma resposta aos que insistem em desmerecer a memória de Francisco Miguel de Siqueira, atribuindo-lhe perversidade, sem nenhum fato que o comprove. O texto diz o contrário. Francisco Miguel de Siqueira – como já demonstrado no fato de ter contribuído com a doação das terras de sua família para o Padroeiro São José – muito se empenhou na construção do cemitério da Ingazeira, e da Igreja Matriz, em colaboração com o Frade Capuchinho.

Aliás, o papel civilizador dos Frades Capuchinhos no Vale do Pajeú, como missão delegada pelo Imperador D. Pedro II, é algo que foi escondido ao longo dos anos e que precisa ser conhecido nas escolas de toda a região. A História de Pernambuco não estará abrangente.

Segue o texto publicado no Diário de Pernambuco de 28 de julho de 1860:

“Apenas raiou nesta Vila no dia 12 de fevereiro, a grata notícia que se achava em caminho com destino de vir a essa Vila, vindo da Capela de São José, o digno missionário Fr. Serafim de Catânia, o povo e mais pessoas gratas, como a porfia se puseram a caminho, vindo encontrá-lo na Fazenda Marias Pretas, distante da Vila quatro léguas; e daí foi conduzido, e ao chegar a Vila foi recebido pela Irmandade do SS. Sacramento, e levado à Igreja Matriz, de onde o povo cheio de entusiasmo e transportado de júbilo entoou a rainha a Antífona – Salve Regina. –

Terminado o ato, declarou o digno missionário , que depois de alguns dias de repouso havia de pregar a Santa Palavra; o que de fato se cumpriu. No tempo aprazado que foi justamente no dia 29 do supradito mês, o digno missionário deu princípio a seus trabalhos apostólicos e tão bem a construção de um cemitério, há muito reclamado pela necessidade.

Povos de todos os ângulos da freguesia, assim como de Piancó e Flores, com o maior anelo pressurosos vinham ouvi-lo. É de notar que a estação era a mais calamitosa possível. Todavia o número de pessoas excedia de 4 mil. O ínclito varão cingido pela penitência, e robustecido pela fé, a todos distribuía a Santa Palavra.

Pela força de sólidos argumentos e rigor lógico, pôde convencer a homens de uma razão desvairada, e espírito acéptico. Afluía quotidianamente ao confessionário crescido número de pessoas, as quais arrependidas de seus vícios, não cessavam de derramar copiosas lágrimas de contrição. Outras vivendo entregues à concupiscência, no abominável pecado da amancebia, depois de expiarem seus crimes no tribunal da penitência, não hesitavam em receberem-se em matrimônio.

É digna de louvor a conduta do Reverendíssimo coadjutor desta freguesia José Antônio Alves de Brito, o qual apesar de sua avançada idade não se negava aos reclamos dos povos, assim como muito se prestou o Reverendíssimo Pedro de Souza Pereira, Capelão de Afogados.

No entretanto que isto se passava, o incansável missionário prosseguia seu tríplice trabalho do púlpito, confessionário e cemitério, cuja administração pesava sobre seus ombros. Cemitério da Ingazeira, talvez o maior do interior da província, feito de pedra, tem 318 palmos em quadro, 11 de altura e 3 de largura. Em um dos lados acha-se colocada uma formidável capela. É de notar que, no tempo em que se tirava a madeira para as tesouras, para a capela do cemitério, tiravam também para a capela mor da matriz, cuja direção era dada pelo incansável missionário. O povo se prestava a esse duplo trabalho. Senhoras da mais alta categoria prestavam-se a esse trabalho, fornecendo aos pedreiros o necessário material; em cuja ocasião retumbava na atmosfera seus harmoniosos cânticos dirigido ao pai de misericórdia. O cemitério da Ingazeira, obra monumentosa, a ser feita a expensa de um particular, ou mesmo do governo, teria certamente levado-se longos dias, e absolvido acrescida soma de 4 a 5 contos de reis; no entretanto que aceno de um capuchinho ministro da religião do Crucificado, tudo se operou no curto espaço de 15 dias. Muito também se distinguiu neste trabalho, o digno chefe do Estado Maior da Guarda Nacional deste município, Francisco Miguel de Siqueira. g.n.

No dia 18 de março, procedeu-se na forma do ritual romano a cerimônia da reconciliação, cujo ato foi solenizado pelo digno missionário, concorrendo para isto todo o povo. No dia seguinte fez o zeloso ministro da vinha do Senhor sua despedida, dando marcha para Flores, deixando todos os corações em extremo penhorados.

Vila de Ingazeira, 28 de julho de 1860”.

O Coronel Francisco Miguel de Siqueira, nas vezes em que é citado em alguns livros sobre a cidade da Ingazeira, seu nome sempre aparece de forma não meritória. Tudo em razão de uma informação feita por um seu adversário político, e constante do livro de Tombo. Isto é, quem escreveu o fez movido por um sentimento de vingança, ou até mesmo por motivos políticos.

Porém, a realidade é que seu detrator não apresentou nenhum fato concreto para comprovar o que disse. É apenas uma narrativa. Ao contrário! Eis acima uma prova concreta do benfeitor que foi Francisco Miguel de Siqueira, colaborando com um missionário Capuchinho, na realização de dois projetos (Cristãos) para o engrandecimento da Ingazeira: O cemitério local e a Igreja Matriz.

Ademais, como diz o autor do texto, as senhoras da sociedade, com certeza sua esposa (Íria Nogueira de Carvalho), também colaborou com a realização desses dois projetos (cemitério e a Igreja Matriz), sob a liderança de Fr. Serafim de Catânia.

Minha conclusão. Depois que me dediquei a pesquisar a biografia do meu tetra avô Coronel Francisco Miguel de Siqueira, dei-me conta da importância de realizarmos um projeto cultural para resgatar a formação histórica dos municípios do Vale do Pajeú, dando-se total importância ao papel civilizador exercido pelo Governo do Império do Brasil, sob a liderança de D. Pedro II, que impulsionou a obra missionária dos Capuchinhos em todo o Nordeste, inclusive no Vale do Pajeú.

Em síntese. Não podemos nos limitar a valorizar a poesia popular (tema muito importante), e a questão do “Cangaço”, também muito importante, e deixarmos se perder na noite da História a contribuição fundamental que os missionários capuchinhos deram para o processo civilizacional da nossa região (Vale do Pajeú).

Tudo isso precisa ser compaginado em um livro sobre a História do Vale do Pajeú dentro da História de Pernambuco, e consequentemente, da História do Brasil!

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