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Gamecon Acre: Políticas públicas precisam catalisar protagonismo de gamedevs

Se no Brasil os games foram, por muito tempo, uma espécie de patinho feio da indústria criativa (quando não da indústria de tecnologia e inovação), o primeiro dia da Gamecon Acre de 2024 mostra que o cenário está mudando rapidamente. O evento – que começou nesta quinta-feira (31) em Rio Branco, capital do estado – demonstra não só que os jogos eletrônicos podem ser fonte de renda e até de preservação ambiental, mas que as políticas públicas para o setor nunca foram tão substanciais (mas ainda podem crescer bastante).

The Gaming Era é parceiro da Gamecon Acre e, além de fazer a cobertura, coordenará o trabalho da Agência Collab, estrutura de produção de conteúdo montada para o evento. Esse texto será reproduzido também no site do evento.

O primeiro debate do dia, intitulado “Políticas públicas na área de games no Brasil” – mediado por Pablo Miyazawa, sócio e colunista do TGE – reuniu dois secretários estaduais, de São Paulo e do Acre, além da associação brasileira de desenvolvedores (a Abragames) e uma organização social que gerencia a Fábrica de Games de São Paulo, a Poiesis. Em comum, a ideia de que games são a “indústria do século XXI”, mas que políticas de incentivo são necessárias para que o mercado se desenvolva.

O próprio Acre começou sua jornada há poucos anos. Assur Mesquita, secretário de indústria, ciência e tecnologia do Acre (Seict) admitiu que, no estado, há um “novo movimento” de apoio governamental ao setor de games. Ele acrescentou que o Sebrae (Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas) desempenhou papel pioneiro, antes mesmo que o Estado se movesse.

“Passamos a olhar [o mercado de games] do ano passado para cá. Começamos a fomentar pelo esporte eletrônico para desenvolver talentos, fruto das iniciativas que já vinham acontecendo”, lembrou Mesquita, que mencionou a primeira edição da Gamecon no estado – a Gamecon Talks, em 2023 – como o evento que “sacudiu” o cenário regional.

“Hoje, na área de games, a principal iniciativa é ajudar movimentos que ainda não estão organizados. Estamos ajudando a criar associações acreanas de games, e queremos fechar o ano com seis iniciativas”, disse ele, ressaltando que o papel do Estado é catalisar iniciativas para que as pessoas sejam protagonistas.

O secretário ainda lembrou iniciativas recentes do governo do estado, incluindo o apoio na realização de eventos – como a Gamecon Acre – e projetos com comunidades carentes para “despertar a atenção dos jovens”. Projetos de qualificação também estão nos planos, em parceria com o Sistema S e o IEPTec (Instituto de Desenvolvimento da Educação Profissional).

Intercâmbio paulista

Marilia Marton, secretária da cultura, economia e indústrias criativas de São Paulo, fez questão de localizar a indústria de games dentro da audiovisual, e ressaltou que políticas públicas para fomento do setor precisam compreender a multidisciplinaridade das funções envolvidas na produção de um jogo.

“Fomos entender [no começo da gestão] que games não são só um programador, embora esse profissional seja uma peça fundamental. (…) Para se fazer um jogo, são de sete a oito profissionais. E o que me impressionou é que grande parte desse universo é da cultura, de pessoas ligadas diretamente à cultura”, ressaltou.

A secretaria de São Paulo tem uma estratégia de ação direcionada aos games, principalmente de formação, e que inclui gigantes da tecnologia como o Google. As Fábricas de Cultura, programa do governo de São Paulo administrados pela Poiesis, agora também oferecem formação para desenvolvimento de jogos eletrônicos – a Fábrica de Games.

“Todas as 15 fábricas têm um curso de formação de um ano, que começou em agosto e vai formar 225 jovens de 14 a 21 anos que passam por uma formação em tecnologia, programação, roteiro, design…”, contou Ceres Alves Prates, diretora executiva da Poiesis. “Abrimos e achamos que ninguém ia se interessar, mas tivemos mais inscritos do que vagas abertas.”

Para a secretária Marilia Marton, dirigindo-se diretamente à plateia de jovens acreanos, é “importante que as crianças percebam que não precisam se deslocar para os grandes centros para fazer jogos, porque é possível fazer de qualquer lugar do mundo”, ela diz. “Cultura é patrimônio, e patrimônio é a nossa história. E nos games, a nossa história bem contada nos abre para o mundo.”

Potencial inexplorado

Para Raquel Gontijo Menezes, diretora de relações internacionais e governamentais da Abragames, o Marco Legal dos Jogos Eletrônicos, recentemente sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode fazer indústrias regionais de games avançarem “muito mais”.

“Nossa estimativa é a de que estejamos com capacidade instalada de 10% do que poderíamos de fato ser. O mercado ainda é muito concentrado no Sudeste, não representa a diversidade e possibilidades do Brasil”, explica.

A executiva da Abragames ressaltou o papel importante das associações regionais, que podem “realmente trazer essa grande diversidade que temos no Brasil também para a área dos games”. Ela acrescenta que eventos e iniciativas de fomento regionais estariam permitindo descobrir desenvolvedores “que estavam escondidos”. “Como se consegue fazer jogo de qualquer lugar em que se esteja, muitas vezes não é possível enxergar quem está fazendo”, explicou.

Por fim, Raquel ressaltou o papel essencial do Marco Legal dos Games para o desenvolvimento do mercado local: “Nós precisamos do poder público nos apoiando, porque o estado consegue alcançar lugares que as associações não conseguem”.

A Gamecon 2024 acontece de 31 de outubro a 2 de novembro, na Biblioteca da Uninorte, em Rio Branco (AC).

* Em colaboração com a Agência Collab, do Gamecon Acre

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