Governo Lula vai tabelar o preço do arroz; Solução ou distração?

Segundo a Cogo Inteligência em Agronegócio, ao intervir no preço do arroz, o governo apela ao senso comum, que tende a acreditar que os valores dos produtos são fixados arbitrariamente pelos comerciantes. Esta narrativa posiciona o governo como um salvador, protegendo o povo contra os “maquiavélicos” vendedores, que, neste caso, são os produtores e agroindústrias; confira.

A recente decisão do governo brasileiro de tabelar o preço do arroz a R$ 4,00 por quilo tem gerado controvérsias e discussões acaloradas. À primeira vista, essa medida parece ser uma solução direta para o aumento dos preços de um alimento básico. No entanto, ao examinar mais de perto, podemos perceber que esta ação pode desviar a atenção da verdadeira causa da inflação no Brasil: a má-condução da política fiscal e de controle de gastos públicos, de acordo com a análise da Cogo Inteligência em Agronegócio.

Ao intervir no preço do arroz, o governo apela ao senso comum, que tende a acreditar que os valores dos produtos são fixados arbitrariamente pelos comerciantes. Esta narrativa posiciona o governo como um salvador, protegendo o povo contra os “maquiavélicos” vendedores, que, neste caso, são os produtores e agroindústrias. No entanto, esta visão simplista ignora a complexidade da cadeia produtiva e os fatores externos que influenciam os preços, como veremos adiante, examina a Cogo.

De acordo com dados recentes da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), não há riscos de desabastecimento de arroz no Brasil. A safra do Rio Grande do Sul, que é a principal região produtora, já está 95% colhida, garantindo a normalização do abastecimento. A oferta nacional de arroz em 2024 está estimada em 12,3 milhões de toneladas, considerando a safra brasileira de 10,5 milhões de toneladas e os estoques de 1,8 milhão de toneladas disponíveis em 1º de janeiro de 2024. Com um consumo interno de 11 milhões de toneladas, fica claro que não haverá falta de arroz no mercado.

Os preços elevados do cereal não são um fenômeno exclusivamente brasileiro. Desde o ano passado, a Índia, maior exportador global de arroz, impôs restrições às exportações devido a uma seca severa, o que pressionou os preços em todo o mundo.

O resultado foi um aumento de 38% no preço global do arroz em dólares, impactando diversos países, inclusive o Brasil. Este é um fator externo sobre o qual o governo brasileiro tem pouco controle, mas que afeta diretamente os preços domésticos.

As medidas do governo, como a importação de 1 milhão de toneladas de arroz e o zeramento do imposto de importação de países fora do Mercosul até 31 de dezembro de 2024, são vistas como soluções imediatas, mas podem ter consequências negativas a longo prazo, segundo a consultoria.

Ao todo, foram liberados R$ 7,2 bilhões para a compra de arroz com o preço tabelado em R$ 4 por quilo. A finalidade é garantir que o produto chegue diretamente ao consumidor final, assegurando o abastecimento alimentar em todo o território nacional.

“Tomamos a decisão de importar 1 milhão de toneladas de arroz para que a gente possa equilibrar o preço do arroz no país”, acrescentou o presidente da república.

Tais ações podem desestimular os produtores nacionais, levando-os a migrar do cultivo de arroz para a soja, que é menos sujeita a intervenções governamentais. Se isso ocorrer, poderá haver uma redução na produção interna de arroz, o que, ironicamente, poderia resultar em uma verdadeira crise de desabastecimento no futuro.

Edair Marchezam produtor de arroz em São Borja:RS Foto Claudio Fachel:Palácio Piratini
Foto: Claudio Fachel/Palácio Piratini

A insistência em medidas paliativas como o controle de preços desvia a atenção do público da necessidade de uma gestão fiscal responsável. A inflação no Brasil é, em grande parte, resultado de uma política fiscal desajustada e do descontrole nos gastos públicos, diz a Cogo. Sem enfrentar essas questões de fundo, qualquer medida temporária, como a tabelar os preços, será apenas uma solução superficial e de curto prazo.

Governo gaúcho contesta a compra

O governo gaúcho afirma que a safra de arroz do estado é suficiente para a demanda do país. Segundo dados do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), a safra 2023/2024 de arroz do Rio Grande do Sul deve ficar em torno de 7,1 milhões toneladas, mesmo com as perdas pelas inundações que o estado sofreu em maio. O número é bem próximo ao registrado na safra anterior, de 7,2 milhões de toneladas.

“Mesmo considerando as perdas, temos uma safra praticamente idêntica à anterior, o que nos leva a calcular que não haverá desabastecimento de arroz”, argumentou o presidente do Irga, Rodrigo Machado.

Desse modo, tabelar o preço do arroz pode parecer uma medida popular e imediata, mas é fundamental que o governo e a sociedade reconheçam a complexidade das causas da inflação e a necessidade de políticas fiscais mais robustas e bem conduzidas. Somente assim será possível garantir uma estabilidade econômica sustentável e evitar que ações paliativas tragam problemas ainda maiores no futuro.

ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira, do Compre Rural.

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