Governo muda discurso para encarar CPMI do 8 de Janeiro, mas demora joga contra Lula e seus aliados

Após meses de impasses e tentativas de obstruções, o requerimento para a instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro será lido na semana que está para se iniciar, em sessão conjunta do Congresso Nacional marcada para a quarta-feira, 26. A etapa regimental, seguida pela escolha dos membros titulares — obedecendo a regra da proporcionalidade dos partidos —, e a instalação efetiva do colegiado vão representar o início de um processo que pode culminar na responsabilização de agentes públicos e impactar a imagem da opinião pública sobre o governo Lula 3, especialmente quanto à transparência do Palácio do Planalto no que diz respeito os atos de vandalismo e depredação dos prédios dos Três Poderes, em Brasília, que marcam o episódio conhecido como 8 de Janeiro. Ainda que, agora, líderes governistas apoiem a criação da comissão composta por deputados e senadores, os resultados podem fugir às expectativas do Executivo e, mais adiante, trazer até mesmo impactos nas próximas eleições municipais.

O primeiro pedido para a criação de uma comissão sobre o episódio da invasão dos Três Poderes foi apresentado pela senadora Soraya Thronicke (União-MS), ainda no mês de janeiro. No total, o requerimento da parlamentar chegou a somar 42 assinaturas de membros da Casa Baixa, número superior ao exigido para instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), na época, conhecida como CPI dos Atos Antidemocráticos. Porém, com o início da 57ª legislatura, o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), solicitou que os senadores ratificassem o apoio ao texto, o que não ocorreu em sua maioria. Em uma manobra articulada por lideranças do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assinaturas foram retiradas, e a CPI acabou perdendo força. Diante deste cenário, parlamentares da oposição concentraram esforços para a abertura da CPMI, reunindo um total de 192 deputados e 37 senadores. Mesmo com um número de assinaturas acima do necessário, o requerimento ainda não foi lido em plenário, sendo alvo de muitos acordos pela base de Lula.

Ainda que membros do primeiro escalão do governo tenham condenado os ataques a Brasília, o apoio formal à instalação da CPMI do 8 de Janeiro — bem como o fim das tentativas de obstrução — aconteceu apenas nesta última semana. A mudança de postura se deu após o vazamento de vídeos que mostram o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias no interior do Palácio do Planalto durante a invasão do prédio. Com a repercussão do caso, o militar pediu demissão do cargo e lideranças de Lula passaram a endossar a necessidade de uma investigação para “descobrir a fundo” quem esteve por trás da “barbárie do 8 de Janeiro”. “Queremos [a CPMI] porque no dia 8 de janeiro tivemos três vítimas: a República, a democracia e o atual governo. Não fomos os algozes, mas as vítimas”, afirmou o líder da situação no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), no plenário do Senado. O tom do discurso do braço direito de Lula segue o mesmo entendimento de outros governistas e tem como foco esclarecer à opinião pública a presença de Dias no palácio, bem como provar que o Executivo não tinha informações privilegiadas sobre os atos (coordenados, segundo a esquerda, por bolsonaristas).

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