Uma propaganda de fim de ano da marca Havaianas, protagonizada pela renomada atriz Fernanda Torres, tornou-se o centro de uma intensa polarização política neste domingo (21). O comercial gerou uma onda de protestos e convocações de boicote por parte de políticos e militantes alinhados ao bolsonarismo. A controvérsia foca em um trecho onde a atriz afirma que não deseja que as pessoas comecem o próximo ano com o “pé direito”, o que foi interpretado por setores da direita como uma mensagem ideológica subliminar contra o seu espectro político.
Lideranças influentes da direita brasileira utilizaram suas redes sociais para manifestar repúdio e incentivar o descarte dos produtos da marca. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e a deputada Bia Kicis (PL-DF) foram alguns dos que puxaram o coro, com Kicis chegando a gravar um vídeo jogando um par de sandálias no lixo. Outros nomes, como o senador Cleitinho Azevedo e o deputado Eduardo Bolsonaro, repetiram o gesto, alegando que a empresa estaria fazendo “campanha política explícita” e desrespeitando seus consumidores conservadores.
Contudo, a análise completa do roteiro da propaganda sugere uma interpretação diferente. Após a frase polêmica, Fernanda Torres completa o raciocínio desejando que as pessoas comecem o ano com “os dois pés”: “os dois pés na porta, os dois pés na estrada, os dois pés na jaca, os dois pés onde você quiser”. Representantes da publicidade e da marca explicam que o texto possui um caráter existencial e cultural, focado na ideia de entrega total e vitalidade para o novo ciclo, sem qualquer intenção de divisão partidária ou ataque político.
A hostilidade contra a peça publicitária também é alimentada pelo histórico recente de Fernanda Torres. Desde o lançamento do filme “Ainda Estou Aqui” (2024), que denuncia crimes cometidos durante o regime militar brasileiro, a atriz passou a ser alvo frequente de críticas do campo conservador. Para muitos militantes, a escolha da atriz para o comercial, somada ao trocadilho com o “pé direito”, foi vista como uma provocação deliberada, o que intensificou o engajamento nas hashtags de boicote sob o lema “quem lacra, não lucra”.
Especialistas do mercado publicitário, como Ian Black, vice-presidente da agência responsável, defendem que a peça foi criada para gerar identificação ampla e afeto popular, movendo-se na direção oposta à polarização que o país atravessa. Enquanto o debate inflama as redes sociais, a Havaianas se vê diante de um desafio de gestão de marca em um cenário onde o consumo tem sido cada vez mais pautado por convicções políticas. Até o momento, a empresa mantém a linha de que o comercial celebra a pluralidade e a disposição para o futuro. Com informações do portal Terra e UOL.


