Por volta das 15h30m do dia 30 de abril de 1992, portanto, há exatos 30 anos, uma fatídica tarde de quinta-feira, quando uma sirene de alarme tocou no quartel do Corpo de Bombeiros, localizado no bairro Invernada, em Rio Branco: havia chegado pedido de ajuda, pois o prédio sede da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), na avenida Arlindo Porto Leal, que liga a Avenida Epaminondas Jácome à Benjamin Constant, no Centro da Capital, estava em chamas.
Em conversa com o jornalista Antonio Muniz, da TV Rio Branco-Cultura, o ex-comandante-geral do Corpo de Bombeiros do Acre, coronel Carlos Batista, um acreano de Xapuri, afirmou que faria tudo de novo, se necessário for. “Mesmo sabendo que correria risco de morte, eu faria tudo outra vez para salvar vidas”, afirmou Batista.
Ele lembrou que, naquela quinta-feira, estava de folga, mas foi ao Comando Geral para praticar exercícios físicos, notadamente na piscina. Quando nossos colegas foram acionados e deixaram o quartel para atender a ocorrência, eu também fui, apenas como apoio, já que se tratava de um incêndio de grandes proporções. Fui como estava. Ou seja, de short e camisa, informa de treinamento físico. Mas como era treinamento aquático, não estava de tênis e sim de sandália.
Ainda segundo o coronel, nenhum dos bombeiros, que participaram da operação, tinha equipamento moderno, já que à época, tudo era muito diferente. Não havia nem roupas de aproximação e resistente ao fogo e ao calor. “Mas com ajuda Deus e nossa coragem e vontade de ajudar os que mais precisam. Naquele dia com comeu, também, uma relação de amizade com as três vítimas e seus familiares”, afirmou Batista.
Mas voltando à tragédia, diferente de alguns alarmes, esse não era falso, não era trote, mas sim o início do maior sinistro já registrado na história do Corpo de Bombeiros Militar do Acre (CBMAC), que destruiu, além do prédio, todo o acervo histórico e documentos do Poder Legislativo do Acre, de 1962 até aquele dia marcado até hoje na vida de muitas pessoas que assistiram ao sinistro ou que estavam no prédio e foram socorridas graças à ação corajosa dos militares do Corpo de Bombeiros.

O então soldado do Corpo de Bombeiros, Carlos Batista, hoje coronel e que há exato um mês, deixou o comando geral da instituição para ser candidato a deputado estadual, figura entre os bravos e corajosos boêmios que arriscaram a vida para irem ao topo do prédio socorrer pessoas que, caso não fossem imediatamente atendidas, ameaçavam se jogar no chão. Como exemplo, citamos o casal Franciberto Castro e sua mulher Nazaré Castro, então assessores na Casa, e a jovem Maria José Solon, que tinha 19 anos. Desesperados e sufocados, eles foram obrigados a se protegerem no terraço do edifício porque, quando perceberam o incêndio, as escadas já estavam tomadas pelo fogo e fumaça e o sistema de elevador não mais estava funcionada também devido ao avanço do fogo nas instalações elétricas do prédio.
O incêndio dividia opiniões: para uns, mais um dos crimes misteriosos que aconteciam envolvendo a política no Acre naqueles tempos, quando levou inclusive ao assassinato do governador Edmundo Pinto num quarto de hotel, em São Paulo, no dia 17 de maio do mesmo ano; para outros, um acidente qualquer, mas que não deixou de ser o maior incêndio da história do Acre e que destruiu o prédio-sede da Assembleia Legislativa num yarde fatídica.
Um fato acabou reforçando a tese de que o Acre daqueles tempos foi levado ao olho da conspiração política: o assassinato de Edmundo, com dois tiros de revolver, duas semanas após o incêndio da sede do Poder Legislativo, prédio que leva o nome do senador José Guiomard Santos, autor da lei que permitiu a elevação do então Território Federal do Acre à categoria de Estado, em 15 de junho de 1962.
A menos de três meses para os 30 anos da vitória política de Guiomard Santos, com a assinatura da Lei 4.070, pelo então presidente da República, João Goulart (PTB) e o primeiro-ministro Tancredo Neves (MDB), em 15 de junho de 1962, a sede do prédio, cujo nome foi dado em memória do senador, sediará, até momento antes de ser tomado pelas chamadas, mais uma sessão ordinária.
Da redação Diário do Acre, com informações do jornalista Antonio Muniz, da TV Rio Branco.