Apesar da força tecnológica dentro das propriedades rurais, produtores brasileiros ainda enfrentam desafios relevantes “da porteira para fora“, principalmente quando o assunto é proteção contra riscos de mercado e acesso à informação de qualidade.
“Os produtores agrícolas são muito bons da porteira para dentro, mas da porteira para fora correm riscos que nem sabem que estão correndo”, afirmou Vitor Gaspar, chefe da divisão offshore de commodities da XP Cayman, durante o painel Cenários de Oferta e Demanda no Mercado Mundial de Grãos, no Global Agribusiness Festival (GAFFFF), realizado nos dias 5 e 6 de junho, no Allianz Parque, em São Paulo.
Gaspar destacou que os agricultores ainda exploram pouco as ferramentas financeiras disponíveis, como derivativos e hedge, que poderiam blindar suas operações contra as oscilações de preços. “Falta conhecimento sobre mecanismos que dariam mais previsibilidade e liquidez aos negócios”, pontuou.
Esse déficit de informação também se estende à área de biotecnologia. Segundo Bernhard Kiep, presidente da Aliança Internacional do Milho (Maizall), o uso de transgênicos ainda é cercado por mitos e desinformação, alimentados inclusive pela polarização política. “Há países que rejeitam os produtos biotecnológicos por desconhecimento. Precisamos levar informações científicas para abrir esses mercados, ainda mais diante das mudanças climáticas que exigirão mais produção com menos recursos”, afirmou.
O presidente da Abramilho, Paulo Bertolini, que mediou o painel, ressaltou a contradição do cenário: “É curioso ver como o produtor brasileiro adota rapidamente inovações tecnológicas, mas ainda encontra barreiras para avançar com os biológicos e a gestão de risco”.
Apesar das lacunas, o Brasil tem conseguido responder ao crescimento da demanda global por grãos. Para o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária, Guilherme Campos Júnior, o setor avança mesmo diante de gargalos importantes como a armazenagem.
Questionado sobre o papel do Plano Safra na resolução desses entraves, Campos Júnior reconheceu os limites orçamentários do programa, mas defendeu sua efetividade. “O agro cresceu com menos recursos do que o necessário, o que mostra a força do setor. Hoje, o mundo já vê o Brasil como um grande jogador no campo da segurança alimentar global”, concluiu.
Festival do agro
O painel sobre os Desafios e Oportunidades para Cooperativas no Agro Moderno fez parte do maior festival de cultura agro do mundo, que reuniu 35 mil participantes nos dois dias do evento, que terminou nesta sexta-feira (6).
Considerado um ponto de encontro para debate das tendências, inovações e desafios do agronegócio, o encontro conta com uma programação formada por 35 painéis e 100 palestrantes distribuídos em três palcos simultâneos.
Quase 200 empresas do setor estiveram presentes. Além do conteúdo das palestras, o evento contou com uma feira de negócios, degustação e aulas de gastronomia e shows musicais.