Invasão de igreja é um ato antidemocrático, só o STF não vê

Se há uma coisa que não falta neste país hoje em dia é rigor extremado em “defesa da democracia” — obviamente, só nos casos em que se estima que a democracia está sendo colocada em risco pela direita e seus derivados. Só o ministro Alexandre Moraes, pessoalmente, mantém vivo e soltando fogo para todo lado um “Inquérito Perpétuo Para Salvar o Brasil de Atos Antidemocráticos” — já prendeu gente por conta disso, mandou o presidente da República depor numa delegacia de polícia e quer a Interpol correndo atrás de brasileiros nos Estados Unidos. O Ministério Público não pensa em outra coisa. A mídia, as classes intelectuais e as forças do “campo progressista” se escandalizam diariamente com atitudes de “direita” e com o que percebem como sendo uma ofensiva de “ideias nazistas”.

Todos eles, exatamente ao mesmo tempo em que se manifestam excitados em último grau com a “direita”, não dizem uma sílaba sobre atos como a invasão de uma igreja católica de Curitiba, durante a missa, por um vereador do PT e um grupo de delinquentes com bandeiras vermelhas. Era, segundo eles, um “protesto contra o racismo”. Ameaçaram os fiéis. Agrediram grosseiramente a liberdade de culto. Gritaram “viva Lula” e sua candidatura à Presidência. Isso é crime — ou não é? Se não for, o que seria, então, no entendimento do ministro Moraes, do MP e do Brasil que se escandaliza com o avanço do “nazismo”, da “extrema direita” e, mais do que tudo, talvez, com a possibilidade de perderem a eleição de outubro próximo?

Não faz nenhum nexo. Invadir uma igreja e interromper um ato religioso legítimo, plenamente assegurado pela Constituição Federal, e conduzido em paz, é um ato absolutamente antidemocrático — muito pior que o monte de bobagens que o STF procura e não consegue encontrar no seu inquérito sem fim. Porque, então, não se levanta uma palha contra os autores desse crime? O PT não fez sequer uma notinha desautorizando seu vereador e os malfeitores que estavam em sua companhia. Não aconteceu nada com ninguém. Todos estão se sentindo perfeitamente autorizados a fazer tudo de novo outra vez. Por que não? Está autorizado pela autoridade pública. Agredir um culto católico não é, na visão do Brasil civilizado-liberal-esquerdeiro que está aí, um “ato antidemocrático”.

Estamos da seguinte forma, portanto. No Brasil de 2022 é terminantemente proibido defender possíveis ditaduras de direita. É inteiramente lícito, ao mesmo tempo, defender ditaduras de esquerda e praticar atos de banditismo em seu nome.

J.R. Guzzo

*J.R. Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de 1976, período em que a circulação da revista passou de 175.000 exemplares semanais para mais de 900.000. Nos últimos anos trabalhou como colunista em Veja e Exame.

**Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião do Diário do Acre.

Por J.R. Guzzo, publicado no jornal Gazeta do Povo em 14 fevereiro de 2022

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