J. R. Guzzo: ‘Lula tem mania de grandeza’

Lula, como vem sendo demonstrado pelos fatos há 40 anos, vive em estado permanente de mania de grandeza. Está convencido, desde que entrou na política, que é melhor do que todos, sobre todos os assuntos, o tempo todo; acredita que é o inventor do Brasil, da raiz quadrada e do ovo frito. Entre as grandes competências que atribui a si próprio está a de gênio da política internacional. De tempos em tempos, ele dá lições de como o mundo deveria se comportar.

Ficou nos mitos e lendas da altíssima diplomacia mundial, por exemplo, o feito extraordinário que realizou ao arrumar sozinho, segundo revelou anos atrás, um acordo de paz entre os Estados Unidos e o Irã – coisa que, segundo ele próprio, “nunca antes” tinha acontecido neste mundo. É uma pena, realmente, que ninguém tenha ficado sabendo disso, a começar pelos Estados Unidos e pelo Irã, mas o que se vai fazer? A culpa é da direita.

Agora, na condição de candidato a presidente da República, Lula acaba de surtar de novo como perito emérito em questões internacionais de grande porte. Disse numa entrevista à revista americana Time – que continua em circulação (digital) e o apresenta como um líder que “volta do exílio” – que o presidente Volodymyr Zelenski, da Ucrânia, é tão responsável quanto a Rússia pela invasão do seu próprio país.

Como assim? Quer dizer que a Rússia invade a Ucrânia, com tanques, tropas e bombardeio aéreo, mata milhares de pessoas, ataca hospitais, escolas e teatros com gente dentro – e o culpado é o presidente do país invadido? Pois então: é como Lula vê o mundo que se dispõe a liderar com a cooperação das grandes potências depois que for reeleito presidente do Brasil.

Lula, na sua análise sobre a questão da Ucrânia, diz que Zelensky deveria ter evitado a guerra, mas não quis “negociar” – por isso é culpado pelos atos do agressor. Outra coisa: segundo ele, Zelensky, a quem chama de “esse cara”, está se exibindo demais. Vive aparecendo nas capitais da Europa, aparece na televisão, dá entrevistas, etc, etc, em vez de combinar com os russos – está, segundo Lula, se beneficiando da invasão.

Se fosse com ele, Lula, tudo se resolveria com uma cerveja, como já disse; na sua entrevista, informou que iria “conversar” com os grandes líderes mundiais que, obviamente, aceitariam as suas instruções e colocariam um fim na guerra. É duro de acreditar, mas aí é que está: Lula disse mesmo isso tudo, e seus devotos estão convencidos de que, além de salvar o Brasil do “fascismo”, ele agora vai salvar o mundo.

Pela cabeça de Lula, a culpa da Segunda Guerra Mundial é dos países da Europa que foram invadidos pela Alemanha nazista – deveriam ter negociado com Hitler, mas provocaram a própria invasão por não terem se entendido com o invasor. O Vietnã é o culpado pela ocupação americana do seu território. Os Estados Unidos são culpados pelo ataque que sofreram no Japão no Havaí – e por aí vai.

É este o sábio das relações internacionais que se prepara para ensinar à humanidade como o mundo tem de ser governado.

J.R. Guzzo

*J.R. Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de 1976, período em que a circulação da revista passou de 175.000 exemplares semanais para mais de 900.000. Nos últimos anos trabalhou como colunista em Veja e Exame.

Por J.R. Guzzo, publicado no jornal Gazeta do Povo em 06 maio de 2022


Tópicos:

Nossa responsabilidade é muito grande! Cabe-nos concretizar os objetivos para os quais foi criado o jornal Diário do acre