JBS vê pressão sobre margens e redireciona produção em meio a tarifa dos EUA

A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos vem pressionando as margens da indústria de proteína animal brasileira. A situação obriga gigantes do setor, como a JBS, a buscarem redirecionamento de volumes para outros mercados.

Segundo Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, o cenário norte-americano é ‘desafiador’, com preços elevados ao consumidor e margens apertadas na cadeia. “Mesmo em um momento de valor altíssimo dentro da cadeia, as margens ficam pressionadas. Mas, no caso da JBS, o efeito não é material porque temos operações em diferentes mercados e conseguimos redirecionar produtos”, afirmou.

No caso da Friboi, operação brasileira do grupo, o efeito é sentido de forma mais direta. A produção local continua batendo recordes de exportação, mas o redirecionamento exige maior flexibilidade comercial e capacidade de negociação com parceiros em diferentes continentes. Tomazoni destacou que esse movimento é possível graças à credibilidade sanitária conquistada pelo país. “O Brasil tem protocolos sanitários reconhecidos e flexibilidade para acessar diversos destinos. Claro que nem todos pagam o mesmo preço, e isso reduz a margem, mas não vejo risco de perda de valor ou de dificuldade em vender”, disse.

Potencial da China e da Ásia

Na avaliação do executivo, o maior espaço de crescimento está na Ásia, com destaque para a China. O consumo per capita de carne bovina no gigante asiático ainda é relativamente baixo, o que abre margem para expansão à medida que a renda da população aumenta. 

Além disso, países do Sudeste Asiático vêm apresentando trajetórias semelhantes, reforçando a oportunidade de longo prazo para exportadores brasileiros. “À medida que a renda cresce, a população melhora a sua dieta. A carne bovina é um produto aspiracional, associado a status, e isso abre uma grande oportunidade”, afirmou.

Ele acrescentou que esse movimento não se limita ao mercado chinês. “Indonésia, Vietnã, Filipinas, todos são países em crescimento de renda, que vão demandar mais proteína. E o Brasil, com sua capacidade produtiva, tem todas as condições de ser protagonista nesse movimento”, completou.

Mercado Japonês

Um dos destinos de maior valor agregado, o Japão continua no radar das negociações brasileiras. Para Tomazoni, a abertura do mercado japonês à carne bovina do Brasil, com expectativas para acontecer ainda este ano, representaria um passo importante de diversificação, além de trazer maior remuneração para cortes premium. 

O dirigente relembrou a experiência da carne suína, que levou anos para se consolidar, mas hoje se tornou um destino relevante. “O mercado japonês é muito mais difícil de prever. É um mercado premium, seria extraordinário para o Brasil ter acesso, porque remunera bem e valoriza qualidade”, disse.

O executivo lembrou que não existe uma razão objetiva para o Japão não abrir ao Brasil, pois já houve conversas do governo, e a expectativa é positiva. “É um processo que demanda tempo e a construção de credibilidade, como ocorreu com a carne suína”, aponta. 

Sustentabilidade

Além da questão comercial, Tomazoni reforçou que o futuro da pecuária brasileira passa necessariamente pela sustentabilidade. Para ele, há uma urgência em mudar a forma como o setor é percebido internacionalmente, já que hoje o debate sobre clima considera apenas as emissões e ignora o papel de captura de carbono exercido pela produção. “O Brasil precisa mudar a narrativa. Hoje só se considera a emissão, mas não se considera a captura de carbono. O país pode ser carbono positivo e precisa mostrar isso ao mundo”, afirmou.

Segundo ele, a JBS tem buscado apresentar evidências concretas para alterar essa percepção. Como exemplo, citou as fazendas parceiras do programa ‘Nota 10’, em que já há propriedades classificadas como carbono positivo. Além disso, a companhia vai apresentar à Organização Mundial de Comércio, no dia 22 de setembro, o case da Fazenda Roncador. A propriedade é reconhecida por adotar sistemas de manejo que aumentam a produtividade ao mesmo tempo em que capturam mais carbono do que emitem. “Quando mostramos o que já está acontecendo no Brasil, a visão muda. É assim que vamos construir credibilidade”, destaca. 

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