Lembro-me que meu pai, Walfredo Leite de Souza – era depositário de muitas informações sobre seus ancestrais – em conversas com seus parentes e amigos, repetia que seu avô Felippe Pedro de Souza Leite, tinha sido prefeito de São José do Egito.

Não acrescentava maiores detalhes. Eu não tive curiosidade de saber o período em que administrou a Vila de São José do Egito. Nunca fiz qualquer indagação sobre esse período em que foi administrador público. Eu sabia apenas que era um produtor rural, que deixou uma grande descendência no Vale do Pajéu.

Em meados dos anos 90, ao fazer pesquisa no Arquivo de Estado em Recife, sobre meu bisavô italiano (Antônio Perazzo), para efeito de obter a cidadania italiana – que a obtive no final da década – encontrei numa pasta do aludido Arquivo informações sobre São José do Egito. Aí encontrei um ato administrativo praticado pelo meu bisavô. Uma demissão de um funcionário desidioso por embriaguez.

Anos mais tarde quando eu já residia na cidade de Rio Branco, Estado do Acre, contratei o pintor peruano (in memorian) Rivasplatapara, a partir de uma velha fotografia de Filippe Pedro de Souza Leite, herdada pelo seu primeiro neto, Odilon de Souza Leite de Andrade, imortalizar a sua imagem – que já estava quase perdida – pintando o seu retrato em óleo.

Recebi a obra encomendada ao famoso pintor peruano. Fiz colocar em uma bela moldura adquirida no ateliê do artista. Registrei – não lembro se com uma placa afixada na moldura – que foi o l° Prefeito Constitucional de São José do Egito (1.892).

Em minhas férias, portei a obra e a fiz chegar à cidade de Tuparetama. No primeiro mandato de Evandro Perazzo Valadares, compareci ao seu gabinete acompanhado do meu primo e também bisneto de Felippe Pedro de Souza Leite, Romero Perazzo e a doei ao Município de São José do Egito. Deixei nas mãos do burgomestre.

No escopo de tornar indelével a memória do 1º prefeito de São José do Egito e meu bisavô Felippe Pedro de Souza Leite, solicitei e obtive êxito fazendo constar a cópia do retrato dele no livro sobre à cidade do escritor Marcos Cirano. Além do retrato inserido no livro de Cirano, o escritor restabeleceu à verdade histórica informando que foi o 1º prefeito – e não Paulo Soares como se dizia – e que fora nomeado em 1892, no início da República, sob os auspícios da novel Constituição do Brasil.

Tomando gosto pela busca da memória do meu bisavô, tive acesso ao Livro de Tombo da Igreja Católica de São José do Egito. Aí pude constatar que o protagonismo da Família Leite na direção do Município, perdurou por quase uma vintena de anos.

O Padre francês José Guerel informa em 06 de janeiro de 1912 que em novembro de 1911, era prefeito de São José do  Egito o Coronel José Ferreira de Sant’anna. Sant’anna além de parente de Felippe Pedro de Souza Leite – a mãe de Felippe Pedro de Souza Leite era Margarida Ferreira de Sant’anna – era casado com sua filha Ursulina de Souza Leite. Portanto, seu genro.

Com a vitória do General Dantas Barreto em 1911, vencendo seu opositor Rosa e Silva, a situação da Família Leite politicamente se complicou. Em 10 de dezembro daquele ano o Coronel Cazuza Sant’anna deixa São José do Egito praticamente fugindo da cidade para Teixeira e depois para o Ceará.

Ulysses Lins de Albuquerque, em seu livro “O Sertanejo e o Sertão”, fala da queda dos coronéis em toda a Região do Vale do Pajéu. Inclusive de José Ferreira de Sant’anna, que conheceu. Informa que o velho Coronel nunca mais voltou à sua cidade natal. Seus descendentes hoje vivem em Ipaumirim, Ceará. Tenho sua certidão de óbito e de sua esposa.

Pois sim. O padre francês, relativamente ao que escreveu no livro de Tombo em 1912, comemora com regozijo a queda do velho Coronel Cazuza Sant’anna. A divergência entre a administração municipal e a Igreja dizia respeito à administração dos cemitérios. Com a República os cemitérios passaram a ser administrados pelo poder púbico. Antes era pela Igreja. Esse foi o motivo do desentendimento.

Essa semana tive oportunidade de conversar com o jornalista Marcelo Patriota e com o Vereador (União Brasil), Alberto Oliveira da Silva sobre o resgate da memória do 1º prefeito de São José do Egito, Felippe Pedro de Souza Leite. Foi uma agradável conversa no Restaurante “Casa Grande Prime”.

Depois do almoço fomos à prefeitura e constatamos que uma réplica do retrato de Felippe Pedro de Souza Leite está na galeria dos que já ocuparam o cargo na municipalidade. Constatamos um erro. Fizeram constar que exerceu o mandato em 1909. Errado. Essa é a data de sua morte.

O Vereador (União Brasil) Alberto Oliveira da Silva, que já está no seu segundo mandato, e que ostenta um belo currículo (graduado em Ciências Contábeis, estudante de Direito, pós graduado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas e professor universitário, etc.), empolgado com o resgate da memória de Felippe Pedro de Souza Leite (seu bisavô), além de cogitar em fazer um discurso em homenagem da memória do saudoso político egipciense, cogita de fazer um encontro dos seus descendentes, bem como um livro sobre sua memória.

Confesso que fiquei entusiasmado com os projetos do ilustre Vereador para resgate da memória política da cidade sertaneja, capital da poesia!