O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), defende que o governo brasileiro use as próximas três semanas para “conversar e esgotar completamente qualquer possibilidade diplomática” com os Estados Unidos a fim de evitar a adoção da tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto.
“Não podemos negar o teor do documento apresentado pelo presidente americano em relação às questões políticas do Brasil e também do judiciário. São temas que precisam ser debatidos e conversados com o governo americano”, afirmou Lupion, em entrevista ao Estadão/Broadcast. “O Itamaraty terá que trabalhar muito fortemente nessas três semanas para evitar esses danos que podem ser extremamente lesivos para o Brasil”, acrescentou.
Tão logo o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na última quarta-feira a sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) pediu “cautela e diplomacia firme” ao governo brasileiro em nota.
Nesta sexta-feira, Lupion afirmou estar “muito preocupado com a ameaça das tarifas” em virtude dos impactos ao setor agropecuário brasileiro, em especial para as exportações dos setores de celulose, café, carne bovina e suco de laranja, bem como no aumento do custo de produção a partir do uso de insumos agrícolas provenientes dos Estados Unidos.
“A tarifa dos EUA sobre o Brasil surpreendeu da forma que foi feita, em carta e com os termos citados sobre o Supremo e o ex-presidente Bolsonaro. É um fato que não pode ser ignorado”, destacou.
Questionado se considerar o teor da carta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, significa atender aos termos de anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e às questões envolvendo as empresas americanas no Judiciário, Lupion refutou e afirmou que a carta precisa ser debatida e ponderada. “As questões políticas e ideológicas que constam na carta precisam ser encaradas de frente e, principalmente, cessar as provocações”, defendeu.
O presidente da bancada agropecuária citou sinalizações de Trump sobre incômodo com a discussão da moeda única do Brics, os apontamentos sobre a guerra da Rússia e Ucrânia e o conflito na Palestina, as sanções aplicadas sobre as big techs americanas. “Ele (Trump) apontou várias vezes isso. Foram vários posicionamentos claros e foi feito exatamente o contrário. São fatores que se somaram e geraram a possibilidade de reação dos Estados Unidos”, explicou.
“Agora, é preciso conversar o máximo que der para que consigamos chegar a um bom termo em relação a isso”, argumentou Lupion, lembrando que ao todo 22 países receberam cartas do governo norte-americano com diferentes motivações.
“A questão do Brasil foi política, o que Trump reiterou hoje em uma entrevista. Então, é um ponto que efetivamente precisa ser debatido. Não dá para ignorar o fato da existência desse problema”, defendeu.
Para Lupion, será necessário uma reorganização do processo diplomático junto aos Estados Unidos, dado que hoje o país norte-americano sequer possui embaixador no Brasil.
“Olha o tamanho do problema diplomático. Esse é o nível de relacionamento diplomático com um parceiro tão importante do Brasil, que somos historicamente aliados. Infelizmente, a diplomacia brasileira e o Palácio do Planalto estão fazendo uma opção de alinhamento diplomático muito equivocado”, criticou.
Sobre o uso da lei da reciprocidade econômica, que vem sendo citada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por alguns ministros, o líder da bancada agropecuária defendeu que ela seja utilizada somente em “último caso”. “Se o governo brasileiro ficar retaliando vai ser cada dia pior. É preciso encontrar um caminho”, pontuou Lupion.
Na avaliação do presidente da FPA, a eventual reciprocidade do Brasil em taxar em 50% os produtos norte-americanos terá impacto “ínfimo” sobre os Estados Unidos.
“Se for trocar 50% por 50% tem de haver uma consequência efetiva para não ficar apenas retórica política. O caminho é negociar ao máximo. Até a China e o México negociaram porque o Brasil não pode sentar à mesa e negociar e tentar uma tratativa clara em relação à produção brasileira? Ou o Brasil não precisa dos Estados Unidos como parceiro?”, questionou Lupion.
Lupion disse ainda que a bancada da agropecuária está disposta a contribuir na busca pela saída diplomática com os Estados Unidos ao longo das próximas três semanas do ponto de vista da discussão temática da questão. Ele acredita que os impactos do tarifaço sobre o consumidor americano, como no caso do café, da madeira e da celulose, precisam ser apresentados ao governo norte-americano.
“No governo Bolsonaro, por exemplo, tinha um adido de negócios dos EUA que ficava aqui exclusivamente pra tratar com o Palácio do Planalto. A gente precisa conseguir abrir essa porta de volta pra negociar esses termos e também conversas de alto nível entre os presidentes para aparar as arestas e não gerar prejuízo maior ao Brasil, mas não vejo vontade nenhuma por parte do governo brasileiro em relação a isso”, alertou.