Lula: entre o bizarro e a má-fé

​Às vezes, confesso, sinto falta do Brasil cujos escândalos eram as motociatas ruidosas e barulhentas. Sinto falta de quando os noticiários eram dominados pelas baleias assustadas pelo ruído de um jet ski, ou quando as pantomimas improvisadas em cercadinhos eram manchetes de jornais. Tudo aquilo era barulhento, por vezes até ingênuo, mas havia uma espécie de transparência bruta: o “escândalo” era visível, imediato e, de certo modo, inofensivo. Era folclórico, mas não endêmico ou sistêmico.

​Hoje, porém, o país está mergulhado em algo mais denso, inquietante e nebuloso. O que desponta não são mais excentricidades performáticas, mas uma sucessão de episódios escabrosos: o Banco Master, um escândalo potencialmente maior que o Mensalão; o rombo bilionário do INSS; os sigilos de cem anos e até eternos; sonegações; as emendas PIX; o aumento do peso tributário, uma lista que, de tão extensa, é impossível de ser totalmente detalhada em um artigo de opinião.

​Não há paz. E o problema maior é justamente este: a normalização do anormal.

​Soma-se a isso o estilo errático de comunicação presidencial, marcado por falas tortas, metáforas inadequadas, além de declarações polêmicas, algumas tidas como preconceituosas, racistas e homofóbicas. O resultado disso tudo é um país que parece descolado da ideia de República. Uma República pressupõe decoro, pressupõe limites, pressupõe que o poder se contenha dentro de sua própria grandeza. Quando essa moldura se rompe, o que resta é governo, mas não Estado; é autoridade, mas não legitimidade.

​O Brasil ainda possui instituições, mas raramente vemos o princípio da institucionalidade em prática. Ainda realiza eleições, mas a sensação de democracia é frágil, quase ornamental. Isso não ocorre por falta de regras, mas porque falta a substância moral que dá vida e validade a elas.

​E talvez seja esse o ponto mais doloroso: a impressão de que deixamos de viver uma democracia plena e passamos a habitar uma democracia apenas formal, onde escândalos se acumulam como poeira e palavras desastradas são tratadas como mero estilo.

​República não é apenas um regime político, é um comportamento. É a garantia de que certos valores não podem se deteriorar, para que o regime não se transforme em uma simples fachada.

Arlenilson Cunha é deputado estadual pelo PL.

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