Luzes sobre a biografia de um Coronel da Guarda Nacional

Faz alguns meses que recebi um vídeo contendo uma entrevista dada por Osmano Veras (notário e professor), para o pesquisador Jair Veras (Jair Som). A entrevista foi dada no Cemitério da Ingazeira, ao lado do túmulo (em ruinas) do Coronel Francisco Miguel de Siqueira.

Fiquei de tal forma entusiasmado com o conteúdo – muito fiel à interpretação dos fatos históricos – que achei por bem mandar digitalizar para deixar registrada (entrevista) como documento escrito.

A entrevista aborda vários temas sobre a biografia de Francisco Miguel de Siqueira que já abordei em alguns artigos, em que faço a defesa do meu tetra avô das infâmias que lhe foram atiradas sem direito de defesa ao longo dos últimos 150 anos.

Osmano Veras foi além. Trouxe à colação mais informações que só contribuíram para restabelecer (como verdade) à memória do ilustre personagem da história da Ingazeira e de todo o Vale do Pajéu. Osmano deu o tom como deve ser conduzida a pesquisa sobre o líder da Região no século XIX.

Vou destacar os pontos importantes que anotei na leitura que fiz depois de digitalizada. O objetivo é fazer um resumo do que foi abordado na entrevista que muito contribui para se fazer o resgate da memória da formação histórica do Vale do Pajéu, através da biografia de Francisco Miguel de Siqueira.

O primeiro ponto a destacar é a imagem de ruinas do túmulo de Francisco Miguel de Siqueira. O entrevistado quis fazer a denúncia. Mostrou para a população como nós brasileiros temos pouco cuidado com a nossa memória histórica. Abandonado o túmulo do mais importante personagem da Ingazeira no século XIX.

Francisco Miguel é o personagem mais importante da Ingazeira e arredores por mais de 50 anos, no século XIX. Foi líder do partido conservador, coronel da Guarda Nacional (uma elite tradicional análoga à Nobreza), Comandante da Guarda Nacional em Flores, Juiz Municipal, Delegado de Polícia, Conselheiro Municipal e, talvez, o maior produtor rural da Região.

Uma das últimas vezes em que estive na Ingazeira, tomei conhecimento de que seu túmulo só não foi demolido em razão de uma intervenção do Padre Luizinho. Sem essa intervenção, teria sido demolido sem qualquer consideração.

Não temos memória histórica. O túmulo de Francisco Miguel de Siqueira era para estar restaurado e cuidado para visitação pública. Os professores da rede pública de ensino eram para conhecer sua história e transmiti-la às gerações vindouras.

No livro “O Crime de Carlota Lúcia de Brito – A Verdade dos Fatos”, o escritor Mário Vinícius Carneiro Medeiros, na pesquisa que fez para escrever o aludido livro, denunciou o abandono do túmulo de Francisco Miguel de Siqueira, irmão de Carlota.

Osmano deixa claro que, quem lançou infâmia sobre a memória de Francisco Miguel de Siqueira foi um padre seu adversário político, que defendia um movimento contrário ao Império do Brasil (Quebra Quilos). Francisco Miguel de Siqueira, conservador, defendia a lei e a ordem. O padre (revolucionário), incitava à população, inclusive do púlpito, no sentido de desrespeitar à lei.

O Padre chamava-se João Vasco Cabral d´Algornez. Esse fato da rebeldia do Padre contra a lei do Império que criou o sistema de pesos e medidas, incitando à população, inclusive do púlpito, está devidamente registrado em vários documentos, citados em livro de Fernando Pires.

Ele, Padre João Vasco, registra, de forma unilateral, sem direito de defesa, que foi ofendido por Francisco Miguel de Siqueira. Essa informação que não teve contestação, posteriormente é registrada no livro de Tombo organizado pelo Padre Carlos Cottart. Eis como a memória de Francisco Miguel de Siqueira foi denegrida e entrou para a história.

O segundo Padre que denigriu a memória de Francisco Miguel de Siqueira é Pedro Pereira de Souza. Além de adversário político de Chico Miguel (membro do Partido Liberal), tinha interesses particulares que se opunham aos interesses da Ingazeira, que Chico Miguel defendia.

Diga-se de passagem, que mesmo no livro de Tombo organizado pelo Padre Carlos Cottart, não há nada de meritório na biografia desse sacerdote (Pedro Pereira de Souza). Já transcrevi em artigo o que contra ele contém no livro de Tombo. Não é nada abonador.

Além do que, o Padre Pedro Pereira de Souza era liberal, movimento político que surge na França de caráter eminentemente anticlerical. O Padre defendia teses contrárias à Igreja Católica da qual era representante.

Portanto, os dois sacerdotes que enxovalharam a memória de Chico Miguel, não tinham autoridade para fazê-lo. Ao longo desses últimos 150 anos, faltou quem – como Osmano Veras – restabelecesse a verdade. “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.

O Coronel Francisco Miguel de Siqueira, além de amigo do Império do Brasil como conservador e integrante da Guarda Nacional, que devia lealdade ao Imperador, era um católico e bom pai de família. Elogiado por seu primo Monsenhor Joaquim Pinto de Campos. Este religioso, sim, uma grande personalidade. Prefiro sua palavra como testemunho à dos dois sacerdotes acima citados.

Foi procurador do Padroeiro São José. Nessa qualidade recebeu dos seus parentes as terras que hoje pertencem ao Município da Ingazeira. Deu colaboração – recebendo elogio por tal – na construção do cemitério local. Interagiu com dois capuchinhos (Caetano de Messina e Serafim de Catânea) para realização desses dois atos. Os capuchinhos tiveram papeis relevantíssimos no processo civilizatório da Região. Chico Miguel contribuiu com eles.

Já destaquei num outro artigo o importante e elogiado papel que teve Chico Miguel na construção do cemitério da Ingazeira, sob à liderança do Frade Capuchinho Serafim de Catânea. Eis o que foi dito em jornal da época: “O cemitério da Ingazeira, obra monumentosa, a ser feita a expensa de um particular, ou mesmo do governo, teria certamente levado-se longos dias, e absolvido acrescida soma de 4 a 5 contos de reis; no entretanto que aceno de um capuchinho ministro da religião do Crucificado, tudo se operou no curto espaço de 15 dias. Muito também se distinguiu neste trabalho, o digno chefe do Estado Maior da Guarda Nacional deste município, Francisco Miguel de Siqueira”.

Quem foi Frei Serafim de Catânea, Capuchinho com quem Francisco Miguel de Siqueira interagiu para construir o cemitério da Ingazeira?

Um religioso notável! Sua biografia está profundamente ligada ao Estado do Piauí. Frei Serafim foi um missionário franciscano (Capuchinho) que chegou em Terezina no dia 10 de maio de 1874. Foi o grande idealizador da Igreja São Benedito, naquela Estado, na sua capital.

Diz a História que no Século XIX, o Estado do Piauí vivia um período de forte estiagem. O franciscano desempenhou relevante papel coordenando comissões do governo para o fornecimento de alimentos, roupas, alojamentos e remédios à população mais vulnerável.

Os detratores de Francisco Miguel de Siqueira, seus adversários políticos, muito embora sacerdotes, quiseram passar a imagem desse homem público como de um homem cruel e desumanos. Uma inverdade! Uma mentira que subsiste há mais de um século.

O trabalho dos Capuchinhos – Francisco Miguel de Siqueira interagiu com dois desses importantes religiosos da Ordem dos Franciscanos – era um trabalho de Estado. O Governo do Império havia celebrado um convênio com a Ordem dos Capuchinhos com objetivo de civilizar o interior do país.

Se Francisco Miguel de Siqueira fosse o facínora que seus adversários políticos pintaram, não interagiria com esses santos homens, para realizar obras de caridade cristã, como o fez com Frei Caetano de Messina e Frei Serafim. Contra fatos não há argumentos!

Por derradeiro, Osmano fere um ponto que gostaria de esclarecer. Alardearam – os detratores do Coronel – que dava proteção aos cangaceiros que estavam sob o comando de Adolfo Rosa da Meia Noite. Osmano fez a defesa do Coronel. Alegou que era comum naquela época coronéis terem “cabras” na sua defesa, dos seus bens e de sua família. O Sertão vivia infestado de bandidos. Havia pouca, ou quase nenhuma, presença do Estado.

Faço a defesa recorrendo a uma outra fonte insuspeita. Yony Sampaio & Geraldo Tenório Aoun, na obra recentemente editada, “Francisco Ricardo Nobre, O Inglês da Volta, e Sua Descendência”, falou longamente sobre “Adolfo Rosa da Meia Noite”. São várias páginas dedicadas a esse descendente do Inglês. Em nenhum momento registrou que o cangaceiro foi protegido de Francisco Miguel de Siqueira.

São os pontos que achei mais importante para comentá-los na importante entrevista.

Portanto, recomento vivamente que se ouça e leia a importante entrevista que Osmano Veras deu ao pesquisador Jair Veras (Jair Som), no escopo de se trazer luz sobre a biografia de Francisco Miguel de Siqueira.

Tópicos:

PUBLICIDADE

Preencha abaixo e receba as notícias em primeira mão pelo seu e-mail

PUBLICIDADE

Nossa responsabilidade é muito grande! Cabe-nos concretizar os objetivos para os quais foi criado o jornal Diário do acre