Os médicos Claudio Birolini e Leandro Echenique, que visitaram o Jair Bolsonaro (PL), preso na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, divulgaram um boletim sobre o estado de saúde do ex-presidente.
De acordo com o relatório, Bolsonaro está estável, mas os médicos interromperam “imediatamente” o uso do medicamento pregrabalina, que teria sido prescrito por outra médica sem o consentimento da equipe que acompanha Bolsonaro. Os médicos confirmaram que Bolsonaro relatou alucinações e disseram que o uso do medicamento pode causar esse tipo de efeito colateral, especialmente quando associado a outros remédios que o ex-presidente toma.
O ex-presidente relatou que passou por um “surto”, mas que não tinha intenção de fugir. Segundo a ata da audiência, Bolsonaro disse ter tido uma “alucinação” de que havia uma escuta dentro do equipamento eletrônico. O capitão da reserva ainda disse que não teve ajuda e que ninguém que estava na casa testemunhou a tentativa de violação da tornozeleira. Sobre o ferro de soldar, ele disse que já possuia a ferramenta.
Ainda segundo o depoimento, o ex-presidente afirmou que, cerca de quatro dias antes da prisão, teria começado a tomar sertralina, um antidepressivo. Segundo ele, o remédio teria interagido de forma errada com a pregabalina, um anticonvulsivo. Bolsonaro relatou que está tendo dificuldades para dormir. A defesa de Bolsonaro usou a mesma linha argumentativa em suas explicação.
Bolsonaro está detido na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, em uma sala de Estado — espaço reservado a autoridades, como já ocorreu com Lula e Michel Temer. A decisão de Moraes determinou atendimento médico permanente ao ex-presidente e proibiu o uso de algemas ou exposição pública durante a prisão. Todas as visitas deverão ser autorizadas pelo STF, exceto as de seus advogados e médicos.
Bolsonaro admitiu ter tentado violar a tornozeleira eletrônica com um ferro de solda na madrugada de sábado (22). A perícia identificou marcas de calor no equipamento. Para Moraes, a tentativa de adulteração e o risco de fuga pesaram na decisão de decretar a prisão preventiva, que ainda não significa o início do cumprimento da pena de 27 anos e 3 meses à qual foi condenado em setembro, em julgamento da Primeira Turma do STF. Após ser detido, o ex-presidente teve o dispositivo retirado. A PF informou ter cumprido mandado expedido pela Suprema Corte.
Condenação, recursos e reações
Em 11 de setembro, Bolsonaro e aliados foram condenados por crimes ligados à tentativa de golpe de Estado, decorrentes dos eventos de 8 de Janeiro, quando apoiadores do ex-presidente invadiram as sedes dos Três Poderes. Apesar das penas superiores a 20 anos para a maioria dos réus, a prisão só ocorrerá após o trânsito em julgado. A defesa já anunciou que recorrerá com embargos infringentes. Na sexta-feira (21), os advogados haviam pedido que Bolsonaro cumprisse eventual pena em casa, citando quadro de saúde “profundamente debilitado”.
A defesa divulgou nota afirmando que a prisão preventiva “causa profunda perplexidade” e “pode colocar sua vida em risco”. Disse ainda que a motivação, uma vigília convocada por Flávio Bolsonaro em frente ao condomínio onde o ex-presidente estava, não justificaria a medida. O PL classificou a prisão como “desnecessária”, também citando o estado de saúde do ex-mandatário.
A detenção do ex-presidente provocou forte mobilização entre aliados. Michelle Bolsonaro, que estava no Ceará, afirmou que “querem calar a voz” do marido e pediu orações aos apoiadores. Flávio Bolsonaro falou em perseguição e afirmou que “querem enterrar todos os Bolsonaros vivos”. Governadores aliados prestaram solidariedade, entre eles Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), que disse acreditar na inocência de Bolsonaro. No Congresso, parlamentares do PL classificaram a prisão como injusta, enquanto líderes governistas defenderam a legalidade da decisão.
Lula evitou fazer maiores comentários, mas afirmou que “tudo mundo sabe o que Bolsonaro fez”.
Dois ministros de Lula comentaram a prisão nas redes, apesar da orientação para que não fizessem. Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) afirmou que a medida segue o devido processo legal e chamou Bolsonaro de “chefe da organização golpista”. Guilherme Boulos disse tratar-se de “um marco para a história”.


