Mercado de fertilizantes cresce menos este ano, mas projeta alta em 2026

O setor brasileiro de fertilizantes entra na reta final de 2025 de olho nos resultados e nas expectativas para o ciclo futuro. Durante encontro com jornalistas nesta segunda-feira, 1, em São Paulo, dirigentes da Yara Fertilizantes, compartilharam suas expectativas. A empresa estima que, em 2025, o consumo nacional de fertilizantes deverá alcançar entre 46 milhões e 46,5 milhões de toneladas — alta em comparação com o ciclo anterior. 

“Estamos chegando quase ao final do ano. Se você analisar o pipeline, vai estar em torno de 3% ou 4% de crescimento comparado com o ano passado. Ano passado foram 338 milhões de toneladas de grãos que foram produzidos no Brasil. Foi um ano recorde. Então, a extração do solo de nutrientes foi muito alta e é preciso recompor esse solo”, explicou Marcelo Altieri, presidente da Yara Brasil. 

Apesar do crescimento anual, a companhia reconhece que houve uma certa frustração em relação às expectativas iniciais, que apontavam para um mercado próximo de 48 milhões de toneladas este ano. A retração, explicam, veio principalmente das dificuldades enfrentadas pelo segmento de grãos, sobretudo no Sul, onde eventos climáticos reduziram a janela de aplicação e levaram produtores a postergar investimentos.

Para 2026, no entanto, a projeção é de um avanço na faixa de 4% a 5%, acompanhando a recomposição da demanda no campo. “É um mercado que segue crescendo, com boas perspectivas em culturas como café e hortifruti, além de um cenário positivo para a cana. Já o mercado de grãos deve permanecer estável, com rentabilidades menores que lá no período de 2019 a 2021. Mesmo assim, vemos o agricultor buscando tecnologia e investimento”, destacou Guilherme Schmitz, vice-presidente de Agronomia e Marketing da Yara. 

Mudança de perfil nos nutrientes

Um ponto levantado durante o encontro foi a transformação na cesta de produtos demandados ao longo de 2025. A empresa observou uma conversão tecnológica no uso de nutrientes — não necessariamente no sentido de mais tecnologia, mas na troca de fontes mais concentradas por alternativas de menor concentração. O movimento foi desencadeado pela competitividade de preços, sobretudo de origem chinesa.

No segmento de nitrogenados, por exemplo, o mercado registrou avanço expressivo do sulfato de amônio, que cresceu entre 45% e 48% frente ao ano anterior. Esse movimento ocorre em detrimento da ureia, que perdeu espaço no mix. “O sulfato chinês entrou muito competitivo. Mas é uma fonte com apenas 21% de nitrogênio, contra 46% na ureia. Então, em volume, o mercado cresce, mas o ponto de nutriente não necessariamente acompanha”, salientou Schmitz. 

No caso dos fosfatados, o movimento foi parecido: o uso de MAP — fertilizante utilizado como fonte de fósforo e nitrogênio — caiu, enquanto o triplo superfosfato e os NPs menos solúveis ganharam espaço, assim como o supersimples. 

Segundo a Yara, porém, é preciso atenção à qualidade desses produtos. Fertilizantes com só 50% de solubilidade em água — como alguns NPs vindos da China — podem ser menos eficientes na absorção pelas plantas e acabar prejudicando a produtividade. “Tem pesquisas que mostram que com 50% de solubilidade em água a soja já perde 10 sacas por hectare.”, alertou Schmitz. Ele pondera que, com a rentabilidade mais baixa da oleaginosa, muitos produtores buscaram opções mais baratas, mas nem sempre conscientes do impacto no desempenho. 

Descarbonização e novos portfólios

Paralelamente às discussões de mercado e de qualidade, a Yara apresentou atualizações sobre seu portfólio voltado à descarbonização — um dos principais eixos estratégicos da companhia globalmente. 

A empresa tem priorizado culturas nas quais o impacto do custo adicional do fertilizante de baixo carbono no produto final é reduzido, de 1% a 3%, como café e batata. Nessas cadeias, os executivos acreditam que a adesão tende a ser mais rápida. “Café, por exemplo, é um setor muito receptivo à descarbonização e com demanda crescente vinda da Europa, dos Estados Unidos e do Japão”, ressaltou o vice-presidente de Agronomia e Marketing da Yara. 

Uma prova disso é a parceria entre a Yara e duas das principais cooperativas de café do Brasil, a Cooxupé e a Cocacer, visando a descarbonização dos grãos. No caso da Cooxupé, a iniciativa que começou na safra 2024/25, será ampliada. “Com a Cooxupé, nós já ampliamos para 2 anos. Tem uma duplicação agora de volume para essa safra de café agora que está sendo fertilizada e será colhida lá em maio, junho do ano que vem. E para o ano de 2027 também, a gente triplica o volume já”, adiantou Guilherme. 

Segundo a companhia, apenas com as 5 mil sacas de café de baixo carbono produzidas pelos cooperados da Cooxupé no primeiro ano da parceria, foi possível gerar um impacto equivalente a preservação de 3.150 árvores. “Então, o escalamento potencial é enorme do ponto de vista de mitigar as emissões”, ressaltou Altieri. 

No próximo ano, a companhia tem o objetivo de levar sua linha de fertilizantes baixo carbono para outras culturas como milho, cevada e cana-de-açúcar, no entanto, a ação está em fase de negociação com outras indústrias, sem nenhum contrato selado até o momento.

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