Em despacho de 85 páginas que autorizou a terceira fase da Operação Ptolomeu, na quinta-feira, 9, Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça, detalha a atuação de Gladson Cameli, principal investigado da Polícia Federal
Ao autorizar a terceira fase da Operação Ptolomeu, que levou ao afastamento de 25 servidores do Governo do Acre investigados por desvios em contratos públicos, a ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), afirmou ver ‘fundados indícios’ de que o governador Gladson Cameli (PP) está por trás do suposto esquema de corrupção e seria o principal beneficiário do dinheiro apropriado.
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“A Polícia Federal, auxiliada pela CGU (Controladoria-Geral da União), adotou técnicas avançadas de investigação e conseguiu, em curto espaço de tempo, produzir vasto material que aponta, em juízo superficial de cognição, para a existência do fumus comissi delicti, concretizado por meio de escuso esquema de dilapidação do erário”, diz um trecho da decisão de Nancy.
Além do afastamento dos servidores, pelo prazo inicial de 90 dias, a ministra suspendeu pelo mesmo período as atividades econômicas de empreiteiras ligadas a familiares do governador e autorizou o cumprimento de mandados de busca e apreensão, o bloqueio de bens e o afastamento do sigilo bancário e fiscal dos investigados.
A Polícia Federal (PF) pediu a decretação de prisões preventivas, o que foi negado pela ministra. Ela também decidiu manter Cameli nas funções com a justificava de que não há indicativos de que o governador tenha tentado usar o cargo para obstruir as investigações.
Desde que a primeira fase da Operação Ptolomeu foi aberta, em dezembro de 2020, a Polícia Federal produziu 58 relatórios e interrogou dezenas de pessoas. As provas reunidas levaram à abertura de pelo menos seis novas frentes de investigação sobre ‘cases’ distintos.
Para os investigações, o governador é o ‘líder’ de uma ‘estrutura ordenada’ de corrupção formada por quatro núcleos:
– Político, integrado por servidores comissionados de alto escalão do Poder Executivo nomeados por Cameli;
– Familiar, formado por parentes do governador, inclusive o pai dele, Eládio Messias Cameli, e o irmão Gledson de Lima Cameli;
– Empresarial, do qual fariam parte as empresas Construtora Etam Ltda, Construtora Colorado Ltda, Construtora Rio Negro, Marmud Cameli & Cia Ltda e CZS Engenharia, ligadas a familiares do governador, que seriam usadas para desviar recursos de contratos com o poder público;
– Operacional, formado por pessoas físicas supostamente usadas para operacionalizar a lavagem do dinheiro desviado, por meio de operações com veículos e aeronaves, empresas interpostas, bancárias, imobiliárias e doações em espécie.
O governador também é apontado como ‘beneficiário central’ dos supostos desvios e, segundo a investigação, comprou imóveis, carros e aeronaves com dinheiro público.
Relatórios da Controladoria-Geral da União (CGU) apontam que o prejuízo para os cofres do Acre podem chegar a mais de R$ 16,3 milhões.
Os investigados podem responder por crimes contra a administração pública, de lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Da redação do Diário do Acre, com informações de Rayssa Motta e Fausto Macedo, do Estadão.