“Não basta remover, é preciso garantir dignidade e cidadania”, escreve João Marcus Luz sobre o Papoco

O Papoco, localizado no bairro Dom Giocondo, é mais do que um ponto geográfico; é o retrato vivo da exclusão social e do abandono enfrentado por dezenas de famílias. O nome do lugar carrega o peso da violência e da tensão que moldam o cotidiano dos moradores. Em uma área marcada pelo risco iminente de deslizamentos, cerca de 240 pessoas, distribuídas em 70 famílias, enfrentam diariamente condições precárias. Entre elas, muitas são crianças. Aproximadamente 90% dessas famílias dependem exclusivamente do Bolsa Família para sobreviver. Falta comida, atendimento médico, saneamento básico e estrutura mínima para o desenvolvimento infantil.

Essa realidade exige uma resposta imediata, mas também revela uma falha profunda, que é a distância entre o que está previsto na Constituição e o que é efetivamente garantido. Educação, saúde, moradia, alimentação, segurança, transporte, lazer e proteção social não são privilégios, são direitos universais que devem alcançar todos os brasileiros, independentemente de origem, cor ou condição econômica.

Manter essas famílias nesse cenário é insustentável, não apenas sob o ponto de vista urbano, mas principalmente humano. Crianças crescem cercadas por lama e insegurança, mães vivem sem acesso à saúde e jovens sem perspectivas. Ignorar essa situação é ser cúmplice dela. A solução precisa ir além do paliativo; é necessário um plano sólido, sensível e duradouro. Não basta remover as famílias da área de risco, é essencial oferecer a elas um recomeço digno, com respeito e cidadania.

A prioridade deve ser a desocupação definitiva do local. As famílias precisam ser realocadas para regiões com infraestrutura adequada, acesso a serviços públicos e suporte social contínuo. O terreno onde hoje está o Papoco deve ser limpo, monitorado e protegido contra novas ocupações irregulares. Mais do que uma ação administrativa, trata-se de um gesto de justiça social.

O compromisso é transformar vidas, uma missão dada pelo nosso prefeito Tião Bocalom. Não se trata apenas de tirar essas pessoas do perigo, mas de garantir que possam reconstruir suas trajetórias com dignidade, acesso pleno à cidadania e aos direitos constitucionais. O Papoco precisa deixar de existir, e o que deve permanecer são vidas seguras, respeitadas e com futuro.

João Marcus Luz é secretário de Assistência Social e Direitos Humanos de Rio Branco.

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