Navios atrasam e exportação de café tem prejuízo de R$ 9 milhões

A entrada da nova safra de café no mercado escancarou os entraves logísticos nos portos brasileiros, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Em setembro, 939 mil sacas do produto — o equivalente a 2.848 contêineres — ficaram retidas sem embarque. O prejuízo com armazenagem, pré-stacking e detentions chegou a R$ 8,99 milhões, o terceiro maior já registrado pela entidade, atrás apenas dos de novembro e dezembro de 2024.

A impossibilidade de embarcar o volume estimado impediu o ingresso de US$ 348,29 milhões (R$ 1,869 bilhão) em receitas de exportação no mês, considerando o preço médio FOB de US$ 370,72 por saca e a cotação média do dólar a R$ 5,3668.

Em setembro de 2025, 57% dos navios, ou 202 de um total de 355 embarcações, enfrentaram atrasos ou alterações de escalas nos principais portos do Brasil, conforme aponta o Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé. 

Cecafé critica demora no leilão do Tecon Santos 10

“Para que o cenário não se torne ainda pior, por conta das expectativas de crescimento de diversos segmentos do agronegócio do país, é necessária a ampliação da oferta da capacidade de carga e a diversificação de modais de transporte, além de investimentos em infraestrutura e acessos nos portos, com urgência!”, alerta o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron.

O dirigente aponta a lentidão de processos, como o leilão do terminal Tecon Santos 10, como fator de agravamento. “Enquanto entraves burocráticos existirem e forem lentos, como o que vem empacando a realização do leilão do Tecon Santos 10, os exportadores brasileiros de café terão prejuízos ampliados, os cafeicultores receberão menos receita e o Brasil deixará de receber bilhões em receita.”

No fim de outubro, o Cecafé e a Associação Logística Brasil publicaram comunicado conjunto cobrando agilidade no leilão e defendendo ampla participação de interessados para evitar judicialização e novos atrasos. Heron lembra que a Unidade de Auditoria Especializada em Infraestrutura Portuária e Ferroviária (AudPortoFerrovia), do Tribunal de Contas da União (TCU), emitiu parecer de 203 páginas sobre o tema, respondendo questionamentos do Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) e da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ).

O relatório apontou ilegalidade na proposta de realizar o leilão em duas fases, com restrição de participação a operadores já atuantes no Porto de Santos. “Como a Auditoria afirmou que a decisão da ANTAQ – vetar a participação com a realização de leilão faseado – desrespeita os princípios constitucionais da ampla concorrência e proporcionalidade, a AudPortoFerrovia reforçou que a decisão deve ser fundamentada em um juízo de razoável certeza e não realizada com base em explicações ‘superficiais’ e ‘genéricas’”, cita Heron.

O técnico do Cecafé ressalta que a questão ultrapassa o setor cafeeiro. “O comércio exterior brasileiro precisa de garantias do MPor no sentido de que a decisão tomada seja embasada tecnicamente e privilegie a economia nacional.” Segundo ele, outros segmentos como açúcar, algodão e celulose também enfrentam gargalos logísticos e compartilham da preocupação com o formato do leilão.

“Quem está na linha de frente e pagando os prejuízos do esgotamento da infraestrutura defende a conclusão da unidade técnica do TCU, de que não há justificativas concorrenciais ou extraconcorrenciais para o veto à participação de armadores incumbentes, e defendem a realização do leilão do Tecon Santos 10 irrestrito e em fase única, ainda em 2025 ou, no máximo, no primeiro trimestre de 2026, de forma que os setores tenham a melhoria da oferta da capacidade com a maior brevidade”, conclui Heron.

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