No Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, profissionais alertam sobre quando buscar ajuda e como apoiar quem sofre

Neste 10 de setembro é lembrado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, marco que integra a campanha Setembro Amarelo. No Acre, a iniciativa é promovida pela Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre), que tem atuado para chamar a atenção da sociedade para a valorização da vida e o cuidado com a saúde mental, promovendo conscientização, diálogo e combate ao estigma.

Reconhecida por sua amplitude e impacto social, a campanha estimula a quebra de tabus, incentiva a busca por ajuda e fortalece a rede de apoio entre familiares, amigos, profissionais de saúde e a comunidade em geral.

A médica psiquiatra Ismália Oliveira, que atua no Pronto-Socorro de Rio Branco, destaca que fatores como uso de substâncias precisam ser observados com atenção por familiares e pessoas próximas: “Além das doenças psiquiátricas, é importante destacar o impacto do consumo de substâncias, como álcool e drogas ilícitas, que aumentam significativamente o risco de tentativas de suicídio e de comportamentos autolesivos, como automutilações”.

Ela ainda reforçou a importância de observar o histórico de tentativas prévias, que aumentam significativamente o risco de suicídio: “Outro ponto de atenção são as tentativas prévias, que elevam muito a probabilidade de um suicídio consumado. A soma desses fatores de risco exige que tenhamos ainda mais cuidado e que busquemos ajuda especializada nesses casos”.

Médica psiquiatra Ismália Oliveira trouxe esclarecimentos sobre o combate ao suicídio. Foto: Tiago Araújo/Sesacre

Em 2025, o lema da campanha é Conversar pode mudar vidas. A mensagem destaca que o diálogo é uma ferramenta essencial de cuidado, capaz de oferecer suporte e conforto a quem sofre em silêncio. Ouvir sem julgamentos, oferecer uma palavra de apoio ou indicar caminhos para ajuda profissional podem ser atitudes decisivas na prevenção do suicídio.

Iniciativas realizadas ao longo do mês buscam sensibilizar a sociedade sobre a importância da escuta ativa, do respeito e da solidariedade para com aqueles que enfrentam sofrimento emocional e psíquico.

O psicólogo Lucas Leal reforça a necessidade de compreensão, acolhimento e suporte diante do sofrimento emocional, tanto para quem enfrenta a crise quanto para os familiares que buscam ajudar.

“É preciso olhar para a realidade que a pessoa está vivenciando. Quando um familiar percebe que alguém próximo precisa de ajuda, mas não sabe como oferecer esse apoio, a equipe de saúde entra como um suporte fundamental. Esse apoio é tanto para o familiar, que muitas vezes se sente perdido, quanto para a própria pessoa que está sofrendo e não sabe como lidar com a dor que a faz não querer mais viver. Não devemos julgar ou condenar, mas sim acolher, mostrando que existem possibilidades e caminhos para seguir em frente”.

A campanha também mostra a necessidade de ampliar o acesso a serviços de saúde mental, fortalecendo redes de apoio e reduzindo barreiras que muitas vezes impedem que as pessoas busquem ajuda.

Quando devo procurar um psiquiatra?

Sinais de sofrimento emocional, alterações nos pensamentos ou comportamentos de risco devem ser observados com atenção. Buscar ajuda de um psiquiatra pode ser fundamental para prevenir consequências graves, incluindo tentativas de suicídio.

A médica psiquiatra Ismália Oliveira explica que é importante procurar atendimento sempre que houver mudanças que afetem o dia a dia ou causem sofrimento. “Toda vez que você sentir alguma alteração nos seus pensamentos, nos seus sentimentos ou no seu comportamento, ao ponto de gerar sofrimento ou atrapalhar suas atividades, é interessante buscar um atendimento médico”, orienta.

Ela alerta ainda para situações de risco mais imediato. “Quando você estiver com pensamentos que possam te colocar em risco, pensamentos de se machucar, de sumir, ou apresentar comportamentos como automutilação ou piora no consumo de substâncias, isso pode ser um fator de risco para uma tentativa de suicídio”, reforça a médica.

O psicólogo Lucas Leal destaca a importância de reduzir o estigma em torno das doenças mentais, para que mais pessoas se sintam acolhidas e encorajadas a buscar ajuda. “Uma das formas de possibilitar o acesso a um profissional de saúde é reduzir o estigma em torno dos transtornos mentais, acolhendo a fala das pessoas e permitindo que elas busquem atendimento médico”, conclui.

Sinais de sofrimento emocional ou psíquico, alterações nos pensamentos ou comportamentos de risco devem ser observados. Foto: Tiago Araújo/Sesacre

Onde buscar atendimento

A Rede de Atenção Psicossocial (Raps) é o principal caminho para quem busca atendimento especializado em saúde mental. Ela é composta por unidades de saúde que oferecem desde atendimentos básicos até serviços de urgência e emergência.

Unidades Básicas de Saúde (UBS): Para casos leves e moderados, o primeiro ponto de atendimento é a UBS mais próxima. Nela, profissionais de saúde podem realizar uma avaliação inicial e, se necessário, encaminhar para serviços especializados.

Unidades de Pronto Atendimento (UPAs): Em casos de urgência ou emergência relacionados à saúde mental, como crises agudas de ansiedade, depressão grave ou comportamento suicida, as UPAs estão disponíveis para o atendimento imediato. Se o caso exigir avaliação clínica ou internação, o paciente será encaminhado para os hospitais especializados.

Pronto-Socorro: É o hospital da rede estadual que possui leitos de saúde mental. Unidade voltada para pessoas que precisam de assistência hospitalar devido à gravidade de seu quadro, como surtos psicóticos ou tentativas de suicídio.

Em 2025, o lema da campanha é “Conversar pode mudar vidas”. Foto: Tiago Araújo/Sesacre

A rede também conta com Centros de Atenção Psicossocial (Caps), que oferecem atendimento especializado. Eles são indicados para situações mais complexas, como o uso de álcool e outras drogas, ou para quem necessita de acompanhamento contínuo em saúde mental.

Caps AD III: Localizado no bairro Manoel Julião, em Rio Branco, é específico para pessoas que enfrentam problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas. Ele oferece acolhimento e tratamento especializado.

Caps Náuas (caps II): Situado em Cruzeiro do Sul, atende toda a região do Juruá. Este é um Caps sem leitos de internação, mas oferece suporte contínuo para pessoas em sofrimento mental.

Caps municipais: Além dos centros estaduais, existem os municipais espalhados por várias cidades. Em Rio Branco, temos o Caps Samaúma, que fica localizado no bairro Floresta e atende casos mais graves de transtornos mentais.

Iniciativas buscam sensibilizar sobre importância da escuta ativa, do respeito e da solidariedade. Foto: Tiago Araújo/Sesacre

As clínicas escola das faculdades Universidade da Amazônia (Unama), Estácio Unimeta e Universidade Federal do Acre (Ufac) funcionam com atendimentos gratuitos à população, onde os alunos em formação podem atender pacientes de forma supervisionada. A supervisão garante a segurança do paciente e a qualidade do atendimento.

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) possui serviço de atendimento de saúde mental e é focado em situações de urgência e emergência envolvendo transtornos mentais, crises emocionais ou comportamentos de risco. A população pode acessar o serviço pelo número 192 ou pelo WhatsApp 68 3216-1300.

O Centro de Valorização da Vida (CVV) também oferece apoio emocional gratuito, sigiloso e voluntário pelo telefone 188 ou pelo site www.cvv.org.br, funcionando 24 horas por dia, todos os dias da semana.

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