No lugar de Glauber, Heloísa Helena critica Lula, PT e disputas na esquerda

O retorno de Heloísa Helena à Câmara dos Deputados, depois de 18 anos afastada do Legislativo federal, marca uma reentrada combativa no cenário político nacional. Suplente de Glauber Braga, afastado por suspensão de seis meses, a deputada da Rede retomou o mandato com críticas duras ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao PT e às disputas internas da própria esquerda.

Em entrevista ao jornal O Globo, Heloísa Helena falou sobre a condução da Câmara durante o afastamento de Braga e apontou o que classificou como seletividade institucional do Parlamento: “Todas as respostas institucionais pautadas na moral das conveniências, que condenam o adversário e acobertam os seus, são desprezíveis”.

A deputada relembrou ainda um episódio ocorrido há cerca de 20 anos, quando, segundo ela, foi retirada à força de uma agência do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) por ordem do governo Lula.

Críticas ao Parlamento

Heloísa Helena avaliou que manifestações populares contra retrocessos e perseguições políticas são essenciais para o fortalecimento da democracia brasileira, que considera ainda frágil. Na leitura da deputada, o atual ambiente político favorece discursos mais radicais, mas não garante vitórias eleitorais automáticas.

Sobre a movimentação da direita em torno de uma eventual candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência da República, a parlamentar afirmou que o cenário é previsível.

“A decisão deles é previsível, pois no mundo da idolatria política e das neo-oligarquias, sempre resgatam a velha forma, ora sobrenomes conhecidos, ora arranjos eleitoreiros, e o programa de governo fica só para impressão gráfica”, declarou. “Fortes eles são, ridículo seria não reconhecer, mas sinceramente considero muito difícil que consigam ser vitoriosos numa campanha presidencial.”

Em relação a uma possível nova candidatura de Lula, a deputada disse que sua prioridade não é o embate eleitoral imediato, mas a construção de um programa de mudanças estruturais profundas. Ela reiterou sua ruptura histórica com o PT, partido do qual foi expulsa em 2003.

“Agora, não contem comigo para conciliar com o grande capital, apoiar o arcabouço fiscal, privatizar setores estratégicos, drenar recurso público das políticas sociais para encher a pança dos insaciáveis do capital financeiro”, disse. “Não contarão sequer com minha paciência.”

Heloísa Helena reafirma distanciamento do PT

Questionada sobre reaproximações de antigos dissidentes com o PT, Heloísa Helena afirmou que suas divergências são ideológicas, não pessoais. “O mandato em que provisoriamente estou exige de mim honra, coerência, coragem e compromisso social”, declarou, descartando alianças baseadas apenas em conveniência política.

“Tenho obrigação de respeitar decisões, não tenho direito de contestar nada ou promover julgamento do que não conheço”, afirmou. “No meu caso, não vejo essas questões como pessoais ou sentimentais, são ideológicas. O mandato em que provisoriamente estou exige de mim o que considero como honra, coerência, coragem, compromisso social.”

Durante sua posse, a deputada também criticou políticas de exploração e exportação de minerais estratégicos sem beneficiamento no país, classificando esse modelo como “crime de lesa-pátria”. Para ela, a manutenção dessa lógica aprofunda a dependência econômica e compromete a soberania nacional.

Disputas internas na esquerda

Ao comentar a proposta de federação entre PT e PSOL, que poderia implicar o rompimento da atual aliança entre Psol e Rede, Heloísa Helena afirmou que cada legenda tem autonomia para decidir seus rumos, mas observou que “o PT sempre busca ser uma força hegemônica na esquerda brasileira”.

Sobre a permanência da ministra Marina Silva na Rede depois de derrotas internas e convites de outras siglas, a deputada demonstrou confiança na continuidade da ministra no partido: “Faz parte da democracia reconhecer a vitória do lado vencedor e seguir trabalhando pelo que se acredita”.

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