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O Brasil já foi um país com ambições maiores

O Brasil já foi um país com ambições maiores do que as que tem agora; é difícil, na verdade, encontrar na história recente um momento em que tenha havido um conjunto de projetos, promessas e metas tão miserável quanto o que se propõe hoje para solucionar os problemas nacionais. Trata-se, no fundo, de uma questão bem simples.

As pesquisas de “intenção de voto” e as encíclicas que os jornalistas políticos socam em cima do público todos os dias garantem que Lula vai ganhar a eleição presidencial de outubro. Daqui a pouco vão começar a dizer que nem é mais preciso fazer eleição. Para que colocar as instituições democráticas em risco?

É mais seguro pedir que o ministro Alexandre Moraes resolva isso no Tribunal Superior Eleitoral, de boa, sem briga e sem discussão, não é mesmo? Ele nomeia Lula para presidente – e pronto, está tudo resolvido. Haveria aplausos apaixonados no Jornal Nacional e nos editoriais da imprensa, louvando a sabedoria e o heroísmo da decisão. Os negacionistas-milicianos-fascistas-racistas-homofóbicos-bolsonaristas- etc-etc-etc seriam expulsos da vida pública. A democracia brasileira estaria salva.

Naturalmente, tudo isso pode acabar em três vezes nada; na verdade, instituto de pesquisa e jornalista político têm, somados, uma compulsão histórica e invencível para fazer previsões erradas. Mas, na data de hoje, pelo que asseguram todos, Lula já está lá – e Lula, a caminho dos 77 anos de idade, está querendo criar por aqui não um novo Brasil ou uma sociedade com regras mais justas, eficazes e inteligentes, mas sim uma Venezuela. É tudo o que lhe ocorre fazer com o país no momento; é o máximo que conseguiu em termos de ideia para salvar o povo brasileiro nessas alturas de 2022.

Depois de 40 anos de política, duas vezes na Presidência da República e um ano e meio na cadeia, a soma total das suas ideias para mudar o Brasil é isso: imitar um ditador de comédia como Nicolás Maduro, ou coisa que o valha, e dar aos brasileiros as maravilhas da Venezuela.

Lula está convencido que Caracas encontrou a solução ideal para a maior parte dos problemas humanos – Caracas ou seus equivalentes em Cuba, ou Peru, ou Chile, ou Nicarágua e outros paraísos sociais da mesma qualidade. Conclusão: “Vamos fazer igual aqui dentro. Ninguém aguenta mais esse governo. Olhem aí o que propomos”.

O que Lula realmente propõe para o Brasil, a partir de outubro, é a falta de papel higiênico. Não é má vontade: é público, notório e indiscutível, há anos, que o grande resultado prático do regime “de esquerda” da Venezuela foi esse – a falta de papel higiênico. Não é uma piada; é a alma do que a ditadura venezuelana produziu na vida real até hoje. Alguém, em toda a esquerda brasileira, é capaz de citar uma outra realização de Maduro & Cia?

O resto é pior. Falta luz elétrica. Falta comida no supermercado. Falta emprego. A produção de petróleo caiu a um terço do que era. A inflação de 2021 ficou perto dos 700%. Todos os recursos do país são entregues diretamente aos ditadores e ao seu sistema de apoio – 2.000 generais, polícia secreta, milícias armadas, juízes amestrados.

Mas é isso que Lula, José Dirceu – de volta ao coreto das autoridades, depois de ser miseravelmente rifado anos atrás pelo chefe – e a “intelligentsia” petista propõem para nós. Não são os seus adversários que dizem isso; são eles mesmos, em seus discursos.

Lula deu para repetir, ultimamente, que os problemas sociais da sociedade brasileira desaparecem com a ressurreição de empresas estatais, e com a abertura de novas. Acha que vai resolver a questão da pobreza abrindo empresas de “capital misto”, socando a máquina pública com mais funcionários, defendendo os salários de R$ 100 mil por mês de juízes e de procuradores, criando um “Estado forte” e por aí afora. São essas as suas ideias novas para o Brasil.

Lula, o PT e a esquerda tinham propostas mais generosas 20 anos atrás; prometiam um “novo país” e uma “nova sociedade”. Hoje propõem um Brasil sem papel higiênico, sem luz e com inflação de 700% ao ano.

J.R. Guzzo

J.R. Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de 1976, período em que a circulação da revista passou de 175.000 exemplares semanais para mais de 900.000. Nos últimos anos trabalhou como colunista em Veja e Exame.

**Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião do Diário do Acre.

Publicado no jornal Gazeta do Povo em 27 de janeiro de 2022

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