A agricultura brasileira está em um ponto de inflexão, preparando-se para uma revolução regenerativa que transformará a maneira como produzimos alimentos e interagimos com a natureza em nosso planeta.
A busca pela regeneração e sustentabilidade tornou-se o foco das grandes decisões políticas de nosso século. O conceito cada vez mais presente do ESG (ou ASG, sigla em português que significa Ambiental-Social-Governança) e a crescente adoção de práticas regenerativas por parte de grandes empresas do agronegócio é uma clara indicação de que uma grande mudança está a caminho.
Mergulhando na história da agricultura, nos deparamos com a rica herança das práticas alternativas. Não estamos falando de uma novidade, mas de um legado cultivado por séculos.
O legado das práticas alternativas de agricultura oferece um mosaico complexo e fascinante de métodos agrícolas que desafiam as normas convencionais e agora, voltam a todo vapor, como propostas alternativas sustentáveis.
Este legado, alicerçado em escolas de pensamento como a biodinâmica, a permacultura e a agricultura natural, pavimentou o caminho para a emergência de um movimento robusto, inovador e transformador: a agricultura regenerativa.
Conexão
Com uma combinação intrincada de ciência e sabedoria ancestral, a agricultura regenerativa celebra a conexão inextricável entre a terra e seus cuidadores, desafiando o modelo agrícola industrial que tem prevalecido por séculos.
Em vez de esgotar nossos recursos naturais, a agricultura regenerativa busca restaurá-los, recuperar solos degradados, melhorar a biodiversidade e, ao mesmo tempo, aumentar a produtividade e a resiliência dos sistemas agrícolas.
Neste cenário de mudanças revolucionárias, a agrofloresta é o carro-chefe. Integrando árvores, animais e agricultura um mesmo sistema, a agrofloresta está ressignificando a forma como percebemos e praticamos a agricultura.
E, sobretudo, não é mais uma questão de escolher entre rentabilidade e sustentabilidade; a agrofloresta mostra que esses conceitos podem andar lado a lado.
Destacando-se nessa nova revolução verde estão grandes empreendimentos como a Fazenda da Toca, uma empreitada pioneira liderada por Pedro Paulo Diniz. Inspirado por escolas ancestrais de agricultura e por filósofos atuais como Ernst Gotsch, líder do movimento de agricultura sintrópica, Diniz mudou o conceito do que significa fazer agrofloresta em larga escala, promovendo um modelo que coloca o bem-estar humano e a redução das mudanças climáticas no centro das discussões.
Tudo isso é feito não só com respeito à natureza, mas também com a consciência de que o futuro da agricultura deve estar intrinsecamente ligado à saúde do nosso planeta.
No palco internacional, o Brasil se destaca como um líder potencial na agricultura regenerativa. Graças a sua localização geográfica única, o país tem o potencial de se tornar um grande produtor de serviços ecossistêmicos e Produtos Florestais Não Madeireiros (PFNM), liderando um mercado de pagamento por serviços ambientais que vai muito além do carbono.
Por exemplo, o clima tropical e a extensa disponibilidade de terras oferecem uma oportunidade única para a adoção em larga escala de práticas silvipastoris regenerativas, combinando a criação de animais com a preservação dos ecossistemas.
Além da vastidão das nossas florestas, podemos transformar toda a matriz agrícola em terras provedoras de serviços ecossistemicos e fixação de carbono, alavancando um mercado bilionário internacional no qual, estamos cada vez mais, nos tornando protagonistas.
Mercado global
Este modelo promissor abre as portas para a produção de alimentos mais nutritivos, livres de agrotóxicos.
A agricultura regenerativa e a agrofloresta são sistemas carbono-positvo, ou seja, são capazes de absorver mais carbono do que emitem, desempenhando assim um papel crucial no combate às mudanças climáticas e oferecendo ao Brasil uma posição estratégica no mercado global da bioeconomia.
Se queremos alimentar um mundo de mais de 8 bilhões de habitantes no epicentro de uma crise climática, precisamos reinventar e redescobrir o passado em uma odisseia em busca de conhecimento ancestral.
Agora, é a nossa vez de apostar no planeta. A mudança não é apenas necessária; ela é inevitável. E o Brasil tem todas as condições para liderar essa revolução. Agora é a hora!
* Valter Ziantoni é CEO da PRETATERRA; Paula Costa é CTO da PRETATERRA