O que explica a falta de unicórnios no agronegócio brasileiro, segundo especialistas

Com pouco mais de duas dezenas de unicórnios — startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão antes de abrirem capital—, o Brasil é berço de cerca de 66% das empresas do tipo entre os países latinos, segundo a LAVCA (sigla em inglês para Associação para Investimento de Capital Privado na América Latina). O segundo lugar é do México, com 19%.

Apesar do número significativo, nenhuma dessas empresas brasileiras é focada no agronegócio, um dos motores da economia local. Os motivos que explicam esse cenário, segundo especialistas, passam pela baixa conectividade no campo, concentração de novas tecnologias em grandes empresas e até no clima favorável do país.

A falta de conectividade e alfabetismo digital é apontada como importante lacuna no setor por Guilherme Kudiess, sócio da Ventiur aceleradora e Francisco Jardim, sócio-fundador da SP Ventures.

Apenas 23% dos agricultores tem acesso à internet em toda a operação agrícola no Brasil, segundo a McKinsey & Company. “Isso dificulta a adoção de algumas tecnologias”, diz Jardim.

O especialista destaca também que, antigamente, era difícil um produtor fazer uma video-chamada ou comprar seus insumos pela internet —movimento acelerado pela pandemia de Covid-19.

“Mas, no geral, [o produtor] é resistente ao digital, pois sempre tenta mitigar os riscos, e a tecnologia digital. E por poder apresentar falhas na operação, muitas vezes eles não querem usar essas tecnologias”, destaca o sócio-fundador da SP Ventures.

Já Gustavo Araujo, cofundador da plataforma de inovação Distrito, diz que existe uma conjuntura climática favorável (temperatura e solo) no Brasil para o agronegócio. Assim, o país é muito competitivo no mercado “sem precisar de recursos tecnológicos para ter sucesso”.

Cenário diferente de outros países, como Israel, que precisa plantar no deserto. Ou seja, a tecnologia se torna necessária para que o país opere com esse mercado.

Outra característica desse setor que pode barrar a formação de unicórnios no agronegócio é a concentração de conhecimento tecnológico em grandes empresas do setor, diz Celso Funcia Lemme, professor do Instituto de pós-Graduação e pesquisa em administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)”.

A JBS, por exemplo, tem uma unidade de carne celular, um método alternativo de produção de carne considerado inovador e que vem sendo explorado por startups pelo mundo. Já a Suzano, gigante brasileira do setor de celulose, entrou no mercado têxtil após desenvolver uma fibra sustentável, que exige menos água na produção.

O fato de o agronegócio funcionar em safras, que tem muitas vezes uma produção de 5 meses, o tempo de validação de uma tecnologia acaba demorado um pouco mais que em outros setores, destacam especialistas. Por exemplo, é possível realizar testes no mercado financeiro em segundos.

Um unicórnio vem aí…

Apesar dos obstáculos, especialistas dizem que é uma questão de tempo para surgir um unicórnio no setor.

O sócio da Ventiur cita que, por conta do aumento na demanda por alimentos no mundo, o Brasil será um lugar importante para suprir a necessidade global, “não só pela disponibilidade de terra e água, mas também pelo possível aumento na produtividade através da tecnologia”.

Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), será necessário produzir 70% a mais de alimentos até 2050.

O sócio-fundador da SP Ventures acredita que o primeiro unicórnio do agro será um marketplace, uma fintech, um biológical ou climatech. A aposta do especialista é que a primeira empresa do setor a alcançar o patamar de US$ 1 bilhão levará dois ou três anos.

Já o cofundador do Distrito declarou que o primeiro unicórnio no setor deve vir da fusão dos serviços financeiros com agro. “O agro sempre utilizou de crédito e serviços financeiros como natureza do próprio negócio, e hoje já temos algumas fintechs como Agrolend, Terra Magna e Nagro atuando no segmento”.

Da redação Diário do Acre, com informações da CNN Brasil

Tópicos:

PUBLICIDADE

Preencha abaixo e receba as notícias em primeira mão pelo seu e-mail

PUBLICIDADE

Nossa responsabilidade é muito grande! Cabe-nos concretizar os objetivos para os quais foi criado o jornal Diário do acre