Quem é culpado pela carestia dos alimentos?

Nos últimos dias, vimos em alguns sites de notícias um justificado espanto com o preço do leite, que ao preço de 8,00 reais a caixinha é extraordinariamente caro. Houve até quem o comparasse ao preço da gasolina. Já que estamos em clima de EXPOACRE, façamos uma breve reflexão.

Em primeiro lugar, importa saber que a inflação é um fenômeno global. Não há país que não esteja experimentando importante alta de preços e, por vezes, escassez de produtos nas prateleiras dos supermercados. Na rica Europa, já está acontecendo, fazendo com que os juros tenham subido como não acontecia há uma década. As causas da inflação variam conforme os analistas, mas na listinha destacam-se: a ressaca da COVID (fique em casa), a desorganização do sistema global de suprimentos, o aumento de preços dos combustíveis e a guerra na Ucrânia.

Veja-se, por exemplo, o caso dos EUA, cuja estabilidade econômica há muito serve de referência para o mundo, tem hoje a maior inflação dos últimos 41 anos e está em vias de entrar em recessão. Segundo publicação recente (aqui), o susto do americano no supermercado não foi pequeno: Cereais e produtos à base de cereais: +15,1%; Carne bovina: +4,1%; Carne de porco: +9,0%; Aves: +17,3%; Peixes e mariscos: +11,0%; Ovos: +33,1%; Laticínios e produtos relacionados: +13,5%; Café: 15,8%; Gorduras e óleos: 19,5% e assim por diante.

A inflação de alimentos está no horizonte de quase oito bilhões de humanos viventes sobre a terra, dos quais pelo menos oitocentos milhões serão atingidos pela fome, segundo a própria ONU. Aliás, a União Europeia recentemente alertou sobre possíveis ondas migratórias vindas da África, decorrentes da crise alimentar.

Em segundo, é bom saber que há tempos a produção agropecuária deixou de ser autônoma, gerada exclusivamente do lado de dentro da porteira. Há hoje, necessariamente,um grande aporte de pacotes tecnológicos intensivos em serviços, equipamentos e insumos para que se produza em escala, por exemplo, uma saca de soja ou uma dúzia de ovos. Muitas variáveis foram introduzidas no agro e todas elas estão, obviamente, sujeitas a alterações de oferta, portanto, de preços.

Em terceiro, devemos considerar que o uso da terra está cada vez mais sujeito a regulamentações, o que interfere diretamente na capacidade de produção de áreas exploráveis.

Tomemos o exemplo recente da Holanda, país europeu que embora seja quatro vezes menor que o Acre em território, abriga uma população 13 vezes maior. Mesmo nessas condições, a Holanda é um dos maiores produtores de alimentos da Europa e um dos maiores exportadores do mundo. O segredo? Tecnologia. Com cultivos tecnologicamente intensivos, explora mais da metade de suas terras, boa parte em estufas e galpões com luz artificial.

Tudo isto até a página mais recente, quando os eco-globalistas do Fórum Econômico Mundial – FEM, se deram conta de que esse processo altamente produtivo, o mais tecnológico do mundo, produz também amônia e óxido de nitrogênio que são, segundo os alarmistas do aquecimento global antropogênico, altamente danosos. O governo holandês sob o primeiro-ministro Mark Rutte, vinculado ao FEM, passou uma lei que restringe drasticamente a produção agrícola e, assim, dá um cavalo de pau na oferta de alimentos.

No médio prazo, a Holanda será riscada da lista de players globais da segurança alimentar. Em vista disso, os produtores estão em pé de guerra. Nas fotos acima, além de mostras do sistema holandês, há uma que lembra uma motociata do Bolsonaro, mas é uma tratoreata dos produtores rurais em protesto contra o governo na semana passada. Eles possuem a produção intensiva mais moderna do mundo, de altíssima eficiência no uso da terra, e estão sendo penalizados por isso. Estima-se que pelo menos 30% deles serão obrigados a mudar de ramo. Plantar mais flores, talvez!No Canadá, Trudeau, o Fidelzinho aliado do presidente do FEM,Klaus Schwab, trama no mesmo sentido. A Alemanha já sinaliza que seguirá apertando o torniquete ambiental, embora seus agricultores também estejam nervosos e ensaiando manifestações. Franceses e italianos, idem.

A queda do governo da República Democrática Socialista do Sri Lanka, cujos motivos reais a velha imprensa escondeu, se deu em decorrência de uma lei ambiental que proibiu o uso de defensivos agrícolas. A produção caiu a menos de 1/4 e, faminta, a população do país de 22 milhões de pessoas botou os governantes pra correrem.

Segundo as análises dos líderes do agronegócio, os preços subiram por causa da alta nos preços dos fertilizantes, dos combustíveis e das próprias commodities dada a demanda global.É certo que no mundo todo há um realinhamento para cima dos preços dos alimentos, mas não é apenas isso. A pretexto das mudanças climáticas, restrições cada vez mais sérias estão sendo impostas sobre o sistema. O governante alarmista com ambições de celebridade climática impinge uma lei num país europeu,e gera escassez que pressiona os preços globais.Não nos avisaram, mas o “ambientalismo hard”e o alarmismo climático, que turbinam carreiras políticas e o prestígio acadêmico de alguns e fazem o rápido enriquecimento de outros, custam caro à sociedade.

Depois que subverteram a ciência e deram ao“consenso”valor de prova irrefutável (valha-me, Popper!), a escatologia climática facilmente repercutida e adotada por “humanistas” circunstanciais limita nossas possibilidades de expansão da produção. Ao Brasil, impuseram muito mais responsabilidades pelo “remédio” do que seria razoável pelo “dano” que causamos, sem que a diferença seja efetivamente compensada.O resultado é a restrição da área explorada, mais regulamentação do sistema, limitação da produção e preços elevados.

Você não verá na mídia tradicional, mas com o movimento dos produtores se expandindo na Europa, Austrália, Canadá e EUA, foi convocado para este 23 de julho um Dia Internacional de Manifestações contra as políticas climáticas radicais. Talvez seja hora de fecharmos os ouvidos ao Leonardo diCaprio, Greta Thundberg e Anitta, e prestarmos um pouco de atenção ao que dizem os cientistas da Princeton University e do MIT sobre o alarmismo climático, William Happer e Richard Lindzer: “Teorias científicas confiáveis ​​vêm da validação de previsões teóricas com observações, não de consenso, revisão por pares, opinião do governo ou dados manipulados”.

Por Valterlucio Bessa Campelo. Escreve todas as sextas-feiras no ac24 horas e, eventualmente, em seu blog, no site Conservadores e Liberais do Puggina e na revista digital NAVEGOS.

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