Nossos bancos operam em dólar e estão no sistema Swift, sujeito a bloqueios e sanções externas. Uma eventual exclusão do Brasil do SWIFT seria uma medida extrema, com impactos devastadores, incluindo paralisação do comércio exterior, fuga de capitais, depreciação do real e aumento da inflação. Felizmente, essa é uma medida extrema e especialistas consideram essa possibilidade improvável devido à necessidade de apoio da UE e à interdependência econômica do Brasil com outros países.
Nossas reservas são majoritariamente em dólar (cerca de 80% em títulos do Tesouro americano), o que nos deixa reféns da política monetária dos EUA. Como o dólar é controlado pelo sistema financeiro americano, os EUA podem impor sanções que restrinjam o acesso de um país a suas reservas ou ao uso do dólar em transações. Por exemplo, sanções poderiam limitar a capacidade do Brasil de usar suas reservas para pagamentos internacionais, como ocorreu com a Rússia em 2022. Como os bancos brasileiros que operam em dólar, estão sujeitos à jurisdição americana, o que pode levar à autocensura (como evitar transações com países sancionados) para não perderem acesso ao sistema financeiro dos EUA.
Em termos de comunicações, a lista é grande. Cerca de 95% da indústria e do comércio utilizam sistemas Google, Amazon, Microsoft ou Apple para suas operações digitais, desde e-mails até armazenamento de dados. A infraestrutura da internet brasileira depende fortemente de cabos submarinos que passam pelos EUA e pela Europa. Mais de 80% dos satélites utilizados para telecomunicações, meteorologia, navegação e defesa são estrangeiros. O maquinário da agroindústria, mineração e grande parte da indústria de transformação é importado, além de depender de peças de reposição estrangeiras. Cem por cento dos celulares e chips de telecomunicações utilizam tecnologia estrangeira, em especial da Ásia e dos EUA. Cem por cento dos aviões comerciais e militares estratégicos são estrangeiros ou dependem de peças e softwares estrangeiros para operar.
Tem mais. A indústria de semicondutores e microeletrônica praticamente não existe no país — todos os chips de computadores, carros, celulares e equipamentos médicos são importados. A maior parte dos softwares críticos de bancos, hospitais, governo e empresas privadas depende de licenças de gigantes estrangeiras. As Big Techs estrangeiras dominam nossas redes sociais, onde circula a maior parte da comunicação pública e política nacional. Nossa defesa cibernética ainda depende de protocolos, equipamentos e softwares desenvolvidos fora do Brasil.
Isso tudo sem contar o mercado de commodities já sancionados pelos EUA em muitos de seus itens. Então, é fácil perceber que soberania não é sinônimo de autarquia. Se fosse, estávamos lascados, já que não somos autossuficientes em quase nada. Considerar a hipótese de retaliação ou dar pretexto para mais sanções sobre o Brasil é de uma burrice imensurável.
Ao invés de agir com o fígado gordo como fez o ministro Flávio Dino, em defesa do seu coleguinha Moraes, o STF deveria sinalizar para uma saída negociada do imbróglio em que nos meteu com sua sanha persecutória e desapreço à liberdade de expressão.
A decisão estúpida de enfiar uma cunha doméstica na Lei Magnitsky que os EUA acionaram contra o CPF do Alexandre de Moraes, deixando confusos os bancos e empresas que negociam com empresas americanas e estão sujeitas a sanções secundárias, apenas elevou a tensão e pôs o governo americano em posição de ataque. Não nos surpreendamos se ainda esta semana novas sanções forem anunciadas envolvendo outros personagens dos três poderes. Os termos da imediata comunicação do departamento de estado americano são claros: “Alexandre de Moraes é tóxico para todas as empresas e indivíduos legítimos que buscam acesso aos EUA e seus mercados. Nenhum tribunal estrangeiro pode invalidar as sanções dos Estados Unidos — ou poupar alguém das consequências graves de violá-las”.
Isso é uma declaração de que o ministro é um pária internacional e nada que lhe preste favor será admitido pelos EUA, o que, seguramente, se estende por vários outros países e situações. O impacto na economia brasileira pode ser aprofundado a um nível jamais cogitado se as sanções avançarem para o nível secundário.
Este é o preço da arrogância, do autoritarismo e da perseguição que a Junta (Lula-STF) que nos governa faz à direita, por cima de valores inegociáveis para a democracia, como o devido processo legal e a liberdade de expressão. Quem nos colocou nesse abismo foram os mesmos que viraram a legislação pelo avesso para descondensar um corrupto e, agora, condenar Jair Bolsonaro por um crime que não cometeu. Será hora de o povo voltar às ruas, com mais força e determinação.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.