Diante de um cenário atual repleto de desafios, com a desvalorização da soja e o aumento expressivo dos custos de produção na última safra, muitos agricultores podem se questionar: Qual é o próximo passo? Vale a pena investir no cultivo de soja para a safra 2024/2025?
Apesar da incerteza que o futuro traz, analisar as tendências de mercado pode oferecer insights sobre o que está por vir. Projeções fornecidas por instituições renomadas, como a Consultoria Agro do Itaú BBA (mencionada como referência), são fundamentais para entender o panorama global da produção de soja e foram utilizadas como base para este artigo. Além disso, os dados do USDA, o departamento de agricultura dos Estados Unidos, desempenham um papel crucial ao ajudar a estimar as possíveis direções do mercado de soja.
O objetivo é auxiliar o produtor a avaliar de forma lógica a viabilidade de plantar soja na safra 2024/2025, além de explorar estratégias que possam aumentar a lucratividade desse cultivo.
Elementos que influenciam a rentabilidade da soja para o produtor
A rentabilidade no cultivo da soja depende essencialmente de dois fatores principais: o custo de produção e a receita gerada.
O custo de produção engloba todos os investimentos necessários para cultivar a soja, incluindo insumos, mão de obra, arrendamento de terras, depreciação de equipamentos, e outros custos operacionais. Reduzir esses custos pode aumentar significativamente a margem de lucro.
Por outro lado, a receita é determinada pela venda da soja. Ela depende da produtividade alcançada e do preço do grão no mercado na hora da venda. Assim, quanto maior a produtividade e melhor o preço de venda, maiores serão as chances de lucro para o produtor.
Tanto o custo de produção quanto a receita são influenciados por uma série de fatores, como:
- Produção global e estoques de soja: Como a soja é uma commodity agrícola, a oferta e a demanda no mercado mundial desempenham um papel crucial na determinação do preço.
- Condições climáticas: As variações climáticas podem ter um impacto direto na produtividade das lavouras.
- Preços dos insumos: O custo dos insumos afeta diretamente o custo de produção, influenciando a rentabilidade final.
- Custos de arrendamento: Para os produtores que não possuem terras próprias, o preço pago pelo arrendamento pode ser um fator decisivo nos custos totais.
- Políticas governamentais: Subsídios e regulamentações podem ter efeitos significativos tanto no custo quanto na receita, alterando o cenário econômico para o produtor.
Portanto, para avaliar a rentabilidade da safra de soja 2024/2025, é essencial considerar todos esses elementos cuidadosamente. Essa análise é justamente o que se busca ao apresentar estudos de mercado com foco em previsões futuras.
Vamos agora examinar as tendências do mercado de soja, considerando cada um dos fatores que podem impactar a rentabilidade do produtor, para responder à pergunta crucial: vale a pena plantar soja na próxima safra?
Se você está com pressa e não quer ler até o final, aqui vai um spoiler: de acordo com o Itaú BBA, as margens previstas para os produtores de soja na safra 2024/2025 são mais favoráveis do que as da safra anterior. Isso não se deve a um aumento esperado no preço do grão, mas sim à possível redução dos custos de produção! No entanto, os produtores que dependem de terras arrendadas devem avaliar seus custos com cuidado. Confira os detalhes a seguir.
Redução nos custos de produção: Impacto dos insumos
Os custos associados à produção de soja devem apresentar uma queda na safra 2024/25, impulsionada principalmente pela redução nos preços dos fertilizantes e na queda de alguns defensivos agrícolas. Estima-se que as despesas com fertilizantes sofram uma redução de cerca de 25%, o que será o fator-chave na diminuição do custo operacional total, projetado para ser aproximadamente 12% menor em comparação com a safra de 2023/24.
A desvalorização do real pode oferecer um alívio financeiro mais significativo do que o esperado para os produtores, que enfrentaram desafios de margens apertadas nas últimas duas safras. Esse cenário pode permitir a continuidade do uso de tecnologias avançadas, como sementes e outros insumos, favorecendo uma potencial melhoria na produtividade, desde que as condições climáticas sejam favoráveis.
Outro fator a ser considerado, embora não mencionado no relatório do Itaú BBA, é o impacto dos custos de arrendamento de terras. Para os produtores que não possuem terras próprias para o cultivo da soja, esses custos podem ser substanciais, podendo até resultar em rentabilidades negativas, especialmente em regiões com produtividades mais baixas. Isso ocorre porque o valor recebido pela soja pode não ser suficiente para cobrir as despesas nesta safra.
Quanto à soja, a safra global de 2024/2025 promete ser histórica, com uma produção mundial prevista de cerca de 420 milhões de toneladas. Caso essa projeção se concretize, será a maior safra de soja já registrada, o que pode ter um impacto significativo nos preços do grão.
Vamos revisar a produção de soja nos três principais países produtores: Brasil, Estados Unidos e Argentina.
Nos Estados Unidos, onde a safra está avançada e se aproxima da fase final, as lavouras já estão no estágio reprodutivo. Comparado à temporada anterior, os agricultores expandiram a área cultivada com soja. Até o momento, o clima tem sido favorável, sem previsão de eventos climáticos adversos, permitindo um bom desenvolvimento das plantas. Com essas condições, espera-se que a produção americana atinja cerca de 120 milhões de toneladas, mantendo-se em linha com as expectativas positivas.
Na Argentina, também há um aumento previsto na área de cultivo de soja. Assim como no Brasil, a produção dependerá das condições climáticas ao longo do ciclo, mas as estimativas indicam um crescimento na colheita, que deve alcançar aproximadamente 51 milhões de toneladas.
O Brasil, líder mundial na produção de soja, deve registrar um aumento de 2% na área plantada para a safra 2024/2025. Segundo o Itaú BBA, a produção nacional deve chegar perto de 165 milhões de toneladas, enquanto o USDA projeta até 169 milhões de toneladas.
A divergência entre as projeções do Itaú BBA e do USDA pode ser explicada pelas incertezas relacionadas ao fenômeno climático La Niña, que pode impactar negativamente a produtividade em várias regiões da América do Sul, incluindo o Brasil.
La Niña, que ocorre devido ao resfriamento das águas do Oceano Pacífico equatorial, tem o potencial de alterar padrões de chuva em diversas regiões. No Brasil, seus efeitos são variados: o Sul pode enfrentar uma redução nas chuvas, enquanto áreas como o MATOPIBA podem se beneficiar de umidade adicional. Em países vizinhos como Argentina, Uruguai e Paraguai, a redução das precipitações pode levar a uma menor produção de soja.
Demanda e estoques
A procura por soja continua robusta, principalmente devido ao crescente uso do óleo de soja na produção de biodiesel, um dos três principais biocombustíveis no mercado global. Tanto os Estados Unidos quanto a União Europeia mantêm políticas de incentivo à produção de biodiesel.
Com o aumento previsto na produtividade e na demanda por soja, é fundamental também considerar a situação dos estoques. A expectativa é que os estoques globais de soja cresçam entre 10% e 15%, dependendo da produção no Brasil. Isso elevaria a relação estoque/consumo global de soja para cerca de 32%, marcando o maior volume de soja estocada desde a safra 2018/2019.
Preços da soja
A combinação de uma oferta e demanda globais equilibradas, uma safra recorde, e o aumento dos estoques tende a pressionar os preços da soja em Chicago para baixo. No entanto, a valorização dos prêmios e a possível elevação da taxa de câmbio devem ajudar a melhorar a precificação da soja em reais.
Além disso, fatores como as políticas governamentais podem ter um impacto significativo nos preços da soja. Por exemplo, em 2018, a guerra comercial iniciada por Donald Trump com a China após sua vitória eleitoral resultou em um aumento da demanda chinesa por soja brasileira, elevando os preços no Brasil. Com as eleições nos Estados Unidos se aproximando novamente, é possível que ocorram novas mudanças no mercado, influenciando os preços da soja.
De acordo com análises do Itaú BBA, o mercado de soja para a safra 2024/25 projeta um cenário de maior rentabilidade, impulsionado pela queda nos custos e pela possível melhora na produtividade da soja.
Vale a pena plantar soja? Análise da rentabilidade para a safra 2024/2025
Em resumo, a tendência para a safra 2024/2025 no Brasil aponta para um aumento tanto na área de cultivo quanto na produtividade de soja. Apesar disso, o fenômeno climático La Niña pode impactar as condições de cultivo e introduzir variáveis incertas. Globalmente, a produção de soja deve alcançar níveis recordes, o que resultará em uma oferta significativamente maior e, consequentemente, em uma pressão sobre os preços do grão.
No entanto, os custos de produção de soja estão projetados para diminuir em relação à safra anterior, principalmente devido à redução nos preços de insumos como fertilizantes e defensivos agrícolas. Para os produtores que arrendam terras, é preciso adotar uma abordagem prudente. A rentabilidade dependerá crucialmente da alta produtividade dessas áreas, pois as previsões de preços não são particularmente animadoras.
Segundo o Itaú BBA, a expectativa é de que as margens dos produtores para a safra 2024/2025 sejam superiores às da safra anterior, não devido a uma alta nos preços, mas pela redução nos custos de produção e pelo aumento na produtividade. Para aqueles que arrendam terras, a situação exige ainda mais atenção, pois as margens são estreitas e a eficiência na produção se torna vital para assegurar uma boa rentabilidade.