Levantamentos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) indicam que o preço do leite acumulou queda de 18,1% em doze meses até outubro, movimento que colocou o setor em postura defensiva na virada para 2026.
Na média Brasil, os preços ao produtor recuaram 3,5% entre janeiro e outubro, mas a trajetória se agravou ao longo do ano. No terceiro trimestre, a queda chegou a 11,4% e, no quarto trimestre, pode alcançar 19,2%, segundo projeções do Cepea. Com isso, os valores pagos ao produtor recuaram aos patamares mais baixos desde 2021, reduzindo a capacidade de investimento e ampliando a cautela no campo.
O principal fator por trás desse movimento foi o crescimento expressivo da oferta. O Cepea estima que a produção brasileira de leite cru atinja 37 bilhões de litros em 2025, alta de 3,5% em relação a 2024 e novo recorde histórico. No mercado formal, a captação industrial também avançou de forma consistente, somando 27,14 bilhões de litros, crescimento de 7% no ano.
A demanda, no entanto, não acompanhou esse ritmo. As importações, embora tenham recuado em relação a 2024, permaneceram elevadas. Segundo o Cepea, o Brasil importou o equivalente a 2,27 bilhões de litros de leite em 2025, enquanto as exportações caíram 31%, limitando o escoamento do excedente interno e ampliando a pressão sobre os preços domésticos.
O impacto desse desequilíbrio ficou evidente nas margens. Dados do Cepea mostram que o poder de compra do produtor de leite frente ao milho — um dos principais insumos da atividade — caiu 13,7% em 2025. A redução indica perda de capacidade de investimento e maior seletividade nas decisões produtivas. Do lado da indústria, o centro de estudos aponta aumento médio de 9% no spread entre os preços do leite cru e dos principais derivados no segundo semestre, reflexo de dificuldades de repasse ao consumidor.
Para 2026, a expectativa é de um cenário mais estável, embora ainda desafiador. O Cepea projeta crescimento da oferta entre 2% e 2,5%, ritmo inferior ao observado em 2025, em um ambiente de menor volatilidade de preços e avanço do Produto Interno Bruto (PIB) próximo de 2%. A tendência é que os preços iniciem o ano em patamares baixos e só apresentem recuperação sazonal mais consistente entre abril e agosto, quando a oferta costuma perder força, especialmente na região Sul.
Os custos de produção podem oferecer algum alívio ao longo do próximo ano, diante da maior estabilidade nos preços dos grãos. Ainda assim, o Cepea avalia que as margens em 2026 devem permanecer abaixo das registradas em 2024 e no primeiro trimestre de 2025, reforçando um cenário de disciplina, ajuste produtivo e foco em eficiência.
Após um ciclo marcado por produção recorde e forte compressão de preços, o setor de lácteos chega a 2026 em busca de reequilíbrio, com menor disposição para expansão e maior atenção à gestão, ao controle de custos e à leitura do mercado.



