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Prepara-se: você só vai ver na campanha eleitoral o que Facebook, Instagram e YouTube deixarem

Vai se tornando cada vez mais inevitável, pela militância agressiva do ministro Luís Roberto Barroso e do seu Tribunal Superior Eleitoral — uma aberração de república bananeira que só existe em lugares com Brasil — um clima de fraude, desconfiança e malícia nas eleições presidenciais de outubro próximo. Pode haver roubo nas apurações. Pode não haver. Mas o TSE e o seu comando estão fazendo tudo o que é possível para dar a impressão de que estão querendo, sim, roubar essa eleição — e, sobretudo, tornar a campanha eleitoral fundamentalmente desonesta, com o maciço favorecimento de um lado contra o outro. O último espasmo, nesse esforço cada vez mais evidente para influenciar o resultado da eleição, é o “acordo” entre o TSE, um órgão do Estado brasileiro, com um aglomerado de empresas estrangeiras para censurar a circulação do que eles chamam de “notícias falsas” ao longo da campanha. Até uma criança de dez anos de idade sabe o que é uma “notícia falsa” para essa gente — tudo o que os seus proprietários, que estão basicamente nos Estados Unidos, não querem ver publicado. É inédito. É ilegal, pois não foi aprovado pelo Congresso Nacional. É um termo de cumplicidade com empresas privadas que têm sede em outros países, as chamadas big techs, com o objetivo declarado de interferir na principal eleição do Brasil. É esquisito. Barroso, justamente, tinha acabado de dizer que “o Brasil não é a casa da sogra”, quando pediu a colaboração de uma plataforma não-americana, ausente do núcleo predominante, e foi ignorado. Agora, ele mesmo assina um documento dizendo: “O Brasil é a casa da sogra” — sim, quando se trata das big techs, é a própria casa da sogra.

Vão vetar tudo o que, também no seu entendimento, possa favorecer a candidatura do presidente Jair Bolsonaro

Resumo dessa ópera ruim: prepara-se para uma campanha eleitoral em que você só vai ver nas redes sociais o que o Facebook, Instagram, WhatsApp, Youtube, Google e etc. deixarem que seja visto — ou, mais precisamente, o que quiserem que você veja. E o que as big techs querem? Basta chamar de novo a mesma criança de dez anos. Elas não vão permitir, para encurtar a conversa, que saia publicado nada do que, no seu entendimento, venha a prejudicar o “campo progressista” de Lula e similares. Automaticamente, ao mesmo tempo, vão vetar tudo o que, também no seu entendimento, possa favorecer a candidatura do presidente Jair Bolsonaro à reeleição. Vão conseguir? Não vão conseguir tudo, é claro; ninguém consegue “tudo”. Mas é algo tão parecido com um controle externo sobre o noticiário que, na prática, acaba dando mais ou menos na mesma. É o que comprova a experiencia recente. O presidente já foi chamado de “genocida”. Já disseram que milícias criminosas do Rio de Janeiro comandam o seu governo. Já foi acusado de “conduzir experiências abomináveis” com seres humanos. Já mostraram seu rosto com a cara de Hitler, a suástica e a saudação nazista. Já foi denunciado pelo crime de “cloroquina”. Em nenhum desses momentos, nem uma única vez, as operadoras das redes sociais disseram uma sílaba sobre fake news – tudo vale, se é para atirar em Bolsonaro. De maneira absolutamente simétrica, nada vale, quando o tiroteio vai para o lado de Lula. Aí é tudo “notícia falsa”, e as big techs aplicam censura contra quem abriu a boca.

Se uma pessoa vota em Bolsonaro, essa pessoa é obrigatoriamente um “nazista”

Os controladores dessas empresas formam uma nova raça no panorama político mundial — a dos milionários de esquerda. É gente que, depois de se chapar de dinheiro, descobriu que é muito mais negócio aparecer em público como “progressista”: a mídia, os artistas e as classes intelectuais ficam encantados, o sujeito ganha outros milhões e ninguém corre o menor risco de nada. O que poderia ser mais fácil neste mundo do que viver como um paxá, com salário de US$ 5 milhões ao ano (isso para os apenas remediados), casas na Califórnia e comidas orgânicas, fora o jatinho e o resto? É o que fazem os donos das redes. Sua cabeça é uma espécie de Diário Oficial do que passa, hoje, por “pensamento” da esquerdagem gratuita: são, 24 horas por dia, contra o “racismo”, a “homofobia”, a “masculinidade tóxica”, a “desigualdade”, os “ricos em excesso” e os caminhoneiros canadenses; são a favor da vacina obrigatória e de tudo o mais que você já está cansado de saber. Nesse mundo, considera-se que os eleitores de Bolsonaro, no fundo, não têm o direito de votar nele. Se uma pessoa vota em Bolsonaro, essa pessoa não pode, no entender das mentes iluminadas deste país, ser um democrata; é obrigatoriamente um “nazista”, e o bom, mesmo, seria que o TSE inventasse um sistema pelo qual a cada vez que o eleitor apertasse a tecla “Jair Bolsonaro” na urna, o sistema registrasse automaticamente “voto nulo”. 

Se essas empresas são a favor de Lula e contra Bolsonaro, consideram o ministro Alexandre Moraes o salvador da democracia brasileira com o seu “inquérito” para descobrir “atos antidemocráticos” e outras bobagens desse tipo, tudo bem — é problema delas. Mas submeter um “tribunal” brasileiro aos seus interesses, com a desculpa de que estão ajudando na limpeza das eleições, é um disparate. Ao mesmo tempo, é o curso natural das coisas, quando se toma o rumo que o ministro Barroso e o TSE tomaram: o que se pode esperar de um órgão público que faz uma campanha publicitária, paga integralmente com o seu dinheiro, querendo provar que o “voto eletrônico” é muito bom porque o Brasil tem “8,5 milhões de quilômetros quadrados de superfície” e apenas “1,5 milhão de quilômetros” de estradas? Hein? Como é que é mesmo? E que raio uma coisa tem a ver com a outra? Quer dizer que se o Brasil tivesse mais estradas o voto eletrônico seria menos necessário? Ou será que 1,5 milhão de quilômetros de estradas não são suficientes para as pessoas votarem? Alguém sabe de algum brasileiro que não esteja conseguindo ir de um lugar para outro, nas áreas que concentram 95% da população brasileira, por falta de estrada? O voto eletrônico pode ser a coisa mais necessária dessa vida, mas nunca porque o Brasil é grande; precisa porque é assim que se faz hoje no mundo inteiro. Essa campanha não é apenas o triunfo conjunto da cretinice e da recusa em pensar mais do que 30 segundos sobre alguma coisa. É também uma trapaça, ao dar a entender que “o governo” defende a volta do “bico de pena” quando ninguém, em nenhum momento, está sugerindo nada parecido com isso. Eis aí o grau de honestidade que se pode esperar dos encarregados de garantir eleições limpas neste país.

*J.R. Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de 1976, período em que a circulação da revista passou de 175.000 exemplares semanais para mais de 900.000. Nos últimos anos trabalhou como colunista em Veja e Exame.

**Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião do Diário do Acre.

Por J.R. Guzzo, publicado no jornal Jovem Pan em 19 fevereiro de 2022

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