A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, cobrou mais responsabilidade dos ministros de outros partidos após uma série de derrotas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso, inclusive com votos contrários de parlamentares petistas.
Hoffmann afirmou que os aliados devem atuar junto às suas bancadas em questões importantes para o governo, como fake news, saidinhas e armas. A informação é da Folha de S. Paulo.
Os ministros dos partidos da base governista, no entanto, disseram ao jornal que não foram acionados pelo Palácio do Planalto para ajudar a evitar as derrotas. União Brasil, PSD, MDB, PP e Republicanos, que juntos comandam 11 ministérios, compõem a base do governo.
Derrotas significativas no congresso
Na terça-feira, 28, o governo sofreu reveses significativos nas sessões do Congresso que analisaram vetos presidenciais e na Câmara dos Deputados, com participação expressiva dos partidos da base. O veto de Lula que mantinha o direito às saidinhas a parte dos presos foi derrubado por 314 votos a 126 na Câmara e por 52 votos a 11 no Senado.
A derrota incluiu votos de dois parlamentares do PT: a deputada federal Maria do Rosário (RS) e o senador Fabiano Contarato (ES). Contarato já havia anunciado que votaria contra o veto por considerá-lo errado, destacando que o projeto foi aprovado por ampla maioria no Senado. Maria do Rosário, pré-candidata à Prefeitura de Porto Alegre, não comentou seu voto.
Reações e perspectivas políticas
Marco Aurélio de Carvalho, advogado e coordenador do grupo Prerrogativas, classificou como constrangedor ter que aplaudir o voto do deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) e justificar os votos de Maria do Rosário e Contarato.
“É constrangedor ter que reconhecer e aplaudir o voto corajoso do deputado federal Aécio Neves e ter que explicar e justificar os votos equivocados da deputada Maria do Rosário e do senador Contarato”, disse Carvalho à coluna Mônica Bergamo, da Folha.
O veto de Jair Bolsonaro contra a criminalização de fake news foi mantido pelos deputados com 317 votos a 139, o que tornou desnecessária a votação no Senado. Horas depois, a Câmara aprovou simbolicamente um projeto de decreto legislativo que reverte mudanças feitas no controle de armas pelo Ministério da Justiça no ano passado.
Implicações para as eleições municipais
Parlamentares de esquerda criticaram a incapacidade dos ministros de Lula de controlar as bancadas partidárias no Congresso. Deputados e senadores petistas afirmam que o centrão tem se alinhado ao bolsonarismo em pautas de costumes para obter ganhos políticos nas eleições municipais de outubro.
Apesar das derrotas, os petistas acreditam que essa aliança com o centrão não é incondicional e que o governo tem conseguido votos necessários em pautas prioritárias, como as econômicas. No entanto, o Planalto tem sido forçado a ceder em vários pontos de suas propostas originais.
Esforços de lula para fortalecer a base governista
Para tentar garantir apoio, Lula distribuiu ministérios a partidos de centro e direita, como União Brasil, PSD e MDB, que cada um tem três representantes na Esplanada. Em uma reforma ministerial no ano passado, abriu espaço para PP e Republicanos, com o objetivo de consolidar a base na Câmara.
Apesar dessa estratégia, o governo tem sofrido derrotas frequentes no Congresso. Na quarta-feira, Lula reuniu seus articuladores e decidiu comandar reuniões semanais às segundas-feiras, mas descartou mudanças na equipe por ora.
Essa atitude é similar a momentos anteriores de crise, em que auxiliares do Planalto prometem uma participação mais direta de Lula nas relações com o Congresso.
Desafios na articulação política
A articulação política de Lula é composta majoritariamente por integrantes do PT. O ministro Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais) lidera a articulação, mas não tem interlocução com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Já o senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), líder no Congresso, e José Guimarães (PT-CE), líder na Câmara, são apontados como responsáveis pelos recentes fracassos. Jaques Wagner (PT-BA) é o líder no Senado.