No mês de agosto o estado de São Paulo registrou 658.638 hectares de áreas queimadas sendo 328.248 hectares só no dia 23 de agosto. Neste mês, foram registrados 11.628 focos de incêndios no Estado, um aumento de 227% em relação à média histórica esperada para o mês, que fica em torno de 3.550 focos. Em comparação ao mesmo período do ano passado, houve um crescimento de 780% dos focos de em relação ao mesmo período do ano passado.
Os dados foram mapeados pelo Orion, sistema de gestão climática criado pela GMG Ambiental, que monitora incêndios, desmatamento, escassez híbrida e desastres climáticos por meio de imagens de satélites orbitais. A GMG Ambiental é parceira da Canaoeste, que monitora os incêndios nas áreas dos produtores rurais de cana-de-açúcar associados à entidade desde 2017.
Para transmitir essas informações e debater outras questões relacionadas aos incêndios, a Canaoeste reuniu na manhã desta quinta-feira, dia 26, produtores, usinas, pesquisadores, poder público e ambientalistas.
Almir Torcato, gestor da Canaoeste, enfatizou a importância do encontro para discutir os interesses dos produtores e apresentar dados reais sobre o setor sucroenergético. Ele destacou a evolução do setor, que passou de sucroalcooleiro a bioenergético, onde a cana é utilizada para gerar energia elétrica. Torcato ressaltou a necessidade de atualizar a compreensão do público sobre essa transformação, mencionando que muitas pessoas ainda associam a produção à queima da cana, uma prática que já foi totalmente erradicada no Estado de São Paulo. Ele pediu o apoio das instituições e da imprensa para esclarecer a realidade do setor e afirmou que, apesar dos desafios, a cadeia produtiva se reerguerá com respeito e verdade.
De acordo com a análise feita pela plataforma de gerenciamento de crises ambiental, no mês de agosto foram registrados 11.628 focos de incêndios no Estado, um aumento de 227% em relação à média histórica esperada para o mês, que fica em torno de 3.550 focos. Em comparação ao mesmo período do ano passado, houve um crescimento de 780% dos focos de em relação ao mesmo período do ano passado.
Esse foi o maior número de focos registrados em um mês de agosto, desde que o serviço de gerenciamento de incêndios foi iniciado pela GMG Ambiental.
A maioria dos focos, 354 no total, se concentra no município de Pitangueiras, mas outras cidades também foram atingidas, como em Altinópolis, com 252 focos, e Sertãozinho, com 296 focos.
A região sucroenergética do Estado foi a mais atingida por incêndios neste último mês. Em praticamente 100% das cidades que registraram 100 ou mais focos de queimadas estavam localizadas em áreas cuja principal cultura agrícola era a cana de açúcar, segundo Olivaldi Azedo, consultor ambiental da GMG.
As ondas de calor estão cada vez mais persistentes, intensas e constantes, uma situação que poderá proporcionar novos recordes de incêndios nos próximos anos.
Incêndios no período de 20 a 24 de agosto de 2024
Na coletiva apresentamos o estudo de caso dos dias 20, 21, 22, 23 e 24 de agosto, período em que aconteceu a maioria dos focos de incêndio.
A avaliação meteorológica feita neste período mostrou claramente o risco extremo dos incêndios devido às condições climáticas ideais para que o fogo se propagasse: o chamado Triplo 30 – índice que leva em conta a somatória de três fatores: umidade abaixo dos 30%, velocidade do vento acima de 30 km/h e temperatura acima de 30 graus.
Estes fatores quando combinados trazem o cenário crítico, como acontece no dia 23 de agosto – vento de rajada de 38 a 40 km/h; temperatura máxima de 35 graus; e umidade mínima de 10%.
O evento de elevação e perda do controle dos incêndios de agosto foi causado pelo avanço de uma frente fria de forte intensidade que encontrou uma massa de ar quente e seca sobre o estado de SP, e que recebeu um aporte de mais calor e secura do ar vinda dos estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. “A vanguarda da frente trouxe condições favoráveis à ocorrência de Triplo 30, ventos erráticos, aumento de temperaturas, eventualmente tempestades de poeira, etc. Condições essas que favoreceram a intensificação dos incêndios”, explicou o consultor ambiental Olivaldi Azevedo
Acompanhar o avanço de frentes frias é de primordial importância para a prevenção e combate aos incêndios, outros eventos como esse deverão ocorrer, já que cada vez mais são registradas ondas de calor na região Central do Brasil.
Segundo o especialista, “em anos de La Niña, a possibilidade de eventos como esses se repetir é maior, pois as frentes frias tendem a se deslocar mais rapidamente, instabilizando assim as massas de ar localizadas em sua vanguarda”.
Marcelo, CEO da GMG Ambiental, ressaltou a celeridade da plataforma Orion na detecção dos incêndios. “No início de implementação, em 2016, o sistema identificava focos de incêndio num período de oito horas, e atualmente os focos são detectados em questão de minutos”, explicou.
O CEO da Orplana, José Guilherme Nogueira, destacou os desafios enfrentados pelo setor canavieiro, especialmente devido aos incêndios ocorridos nos últimos meses. Ele diferenciou queima controlada de incêndios indesejados, enfatizando que esses incêndios têm causas estruturais e conjunturais, agravadas por condições climáticas extremas. Nogueira mencionou que o clima mudou significativamente, afetando a produção e a qualidade da cana, e criticou a ideia de que os produtores se beneficiam dos incêndios. Ele ressaltou a necessidade de políticas públicas eficazes e uma melhor compreensão da realidade do setor, apontando que o Brasil tem uma baixa emissão de gases de efeito estufa e vem avançando na transição energética.
Maurílio Biagi, representante da COSAG/FIESP, enfatizou a importância da informação para combater a desinformação sobre os incêndios. Ele criticou a falta de preparo dos governos para lidar com esses incêndios, afirmando que responsabilizar os produtores é “um total desconhecimento da realidade do setor”. Biagi destacou a necessidade de uma comunicação mais eficiente. Ele também falou sobre o crescimento do Brasil como potência alimentar, ressaltando que o país enfrenta desafios tanto internos quanto externos, e defendeu a cana como uma fonte limpa de energia.
Durante o encontro, Diógenes Kassaoka, subsecretário de abastecimento e segurança alimentar do Estado de São Paulo, ressaltou a importância da colaboração entre bons produtores e autoridades no combate a incêndios. Ele destacou a atuação da Defesa Civil e a necessidade de melhorar a estrutura de combate a incêndios em São Paulo, mencionando a falta de aeronaves adequadas. Kassaoka elogiou o setor canavieiro pela sua evolução em transformar biomassa em energia e pediu uma melhor comunicação sobre esses avanços para a sociedade. Ele também agradeceu ao setor produtivo pela rápida resposta durante os incêndios e se comprometeu a apoiar iniciativas futuras através da Secretaria da Agricultura.
Ciro Pena, do Sistema FAESP/SENAR, destacou a importância do evento como um ponto de união entre o setor público e privado, incluindo a Secretaria da Agricultura e a Defesa Civil. Ele representou a Federação de Agricultura do Estado de São Paulo, que abrange 230 sindicatos rurais e está presente em todas as regiões do estado. Pena enfatizou que as queimadas são um problema que afeta todo o setor rural, não apenas a cana-de-açúcar. Segundo ele, é preciso evoluir nas práticas e protocolos diante das mudanças climáticas. Ele elogiou o trabalho da Canaoeste e reafirmou a disposição da federação em colaborar com o setor, continuando um legado de apoio e desenvolvimento.
Renata Camargo, gerente de sustentabilidade da UNICA, destacou a necessidade de não apenas combater, mas também prevenir incêndios, utilizando tecnologias como imagens de satélite e câmeras. Renata enfatizou que o fogo no canavial traz prejuízos econômicos, ambientais e para a saúde, e que o setor não utiliza mais o fogo como método agrícola. Ela mencionou a expectativa de mudanças nas políticas públicas, reconhecendo que outros setores também devem estar comprometidos na prevenção de incêndios.
Com relação a quantificação dos prejuízos, o gestor executivo da Canaoeste Almir Torcato, afirmou ser ainda prematuro para se fazer esse tipo de análise. “Muitos fatores, como a deterioração da cana e o investimento necessário para replantio, ainda não estão claros”, disse. Para ele, o foco agora deve ser na reconstrução e no apoio técnico aos produtores. Torcato também menciona que o principal prejuízo é a imagem do setor, afetada por informações equivocadas da imprensa. “O setor produtivo de verdade não coloca mais fogo. O setor é bioenergético, a gente usa a palha da cana inclusive para gerar energia elétrica e não teria nem porque, nem razões para pôr fogo no canavial, que você colocaria dentro da caldeira para gerar dinheiro”, reforça Torcato.