Redução de tarifa dos EUA não agrada exportadores brasileiros de café

nova ordem executiva assinada em 14 de novembro pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deveria soar como um alívio para o comércio agrícola internacional, mas foi recebida com frustração pelos exportadores brasileiros de café. Apesar da retirada da tarifa básica de 10% imposta sobre diversos produtos, incluindo o café, a manutenção da sobretaxa de 40% prevista no Artigo 301 segue penalizando fortemente o Brasil — especialmente os produtores de cafés especiais.

Em nota oficial, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) destacou a necessidade de análise minuciosa da nova medida, questionando se ela se aplica apenas à tarifa de 10%, à adicional de 40% ou a ambas. Segundo o presidente da entidade, Márcio Ferreira, e o diretor-geral, Marcos Matos, a instituição está em contato com os pares americanos para compreender o real impacto do decreto e se pronunciará novamente após obter os devidos esclarecimentos.

Exportadores brasileiros de café apontam queda de 55% nas exportações de cafés especiais

A Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) foi mais enfática em seu posicionamento. Para a entidade, a decisão de manter a sobretaxa de 40% amplia as distorções comerciais entre os dois países e afeta diretamente o desempenho do Brasil no principal mercado importador de cafés especiais. De agosto a outubro, período em que o “tarifaço” esteve em vigor, as exportações brasileiras de cafés especiais aos EUA despencaram 55%, caindo de 412 mil sacas para 190 mil sacas de 60 kg .

“A manutenção dessa tarifa torna cada dia mais difícil ou até irreversível a retomada de espaço nos blends dos americanos. Cada dia que passa é um prejuízo enorme”, afirmou Marcos Matos, do Cecafé .

Perigo de substituição nos blends e urgência nas negociações

Há um temor concreto de que países concorrentes como Colômbia, Etiópia, Vietnã, Costa Rica e Indonésia ocupem o espaço do Brasil nos blends de café vendidos aos consumidores norte-americanos. Como o paladar do consumidor se adapta aos sabores disponíveis, a perda de mercado pode se tornar permanente.

Diante disso, a BSCA reforçou a urgência de acelerar as negociações diplomáticas entre os governos brasileiro e norte-americano para que o fluxo comercial volte à normalidade nas próximas semanas.

Análise da CNI e alívio para o suco de laranja

Segundo levantamento preliminar da Confederação Nacional da Indústria (CNI), cerca de 80 produtos agrícolas exportados pelo Brasil — responsáveis por US$ 4,6 bilhões em 2024 — foram beneficiados com a retirada da tarifa global de 10%. No entanto, apenas quatro deles, entre eles castanha-do-pará e três tipos de suco de laranja, foram isentos de tarifas por completo. O restante, incluindo o café e a carne bovina, continua sujeito à tarifa extra de 40%.

Para o setor de sucos cítricos, houve um alívio: os códigos tarifários do suco de laranja brasileiro, tanto concentrado (FCOJ) quanto não concentrado (NFC), foram incluídos na lista de isenção da sobretaxa recíproca de 10%. A tarifa tradicional de US$ 415 por tonelada, no entanto, segue em vigor .

Impacto também na carne bovina

O efeito das tarifas adicionais não se restringiu ao café. Segundo a Abrafrigo, as medidas impostas em agosto geraram perdas de US$ 700 milhões ao setor de carne bovina. No trimestre em vigor da sobretaxa, as exportações para os EUA caíram 36,4%, com retração ainda maior em outubro. Já a Abiec avalia que, apesar do impacto, a demanda por carne industrializada para hambúrgueres deve manter o fluxo de exportação, já que o Brasil atua em nicho pouco atendido por concorrentes.

A expectativa do setor cafeeiro é que os governos avancem rapidamente nas tratativas para a remoção total das tarifas impostas ao café brasileiro. A demora em resolver a questão, segundo o Cecafé e a BSCA, pode custar ao país posições estratégicas em um dos mais importantes mercados consumidores do mundo.

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