“Rei da Soja” morre devendo US$ 1 bilhão, mas deixa um legado

O “Rei da Soja”, Olacir de Morais, construiu um dos maiores impérios privados do Brasil, com aviões, usinas, ferrovias e mais de 300 mil hectares de produção agrícola. Visionário e celebrado por décadas, ele ajudou a transformar o Centro-Oeste brasileiro em potência mundial da soja. No auge, comandava 40 empresas, 11 pistas de pouso e mais de 25 mil funcionários.

Mas o que parecia uma história de sucesso eterno se transformou em um dos maiores colapsos corporativos já vistos. Ao morrer, Olacir deixou uma dívida estimada em US$ 1 bilhão — e um legado que hoje é estudado como exemplo de como decisões arriscadas podem arruinar até os maiores empresários.

O auge do império: aviões, usinas e milhares de funcionários

Durante décadas, Olacir foi celebrado como referência de empreendedorismo, um verdadeiro “Rei da Soja”. O empresário chegou a comandar 40 empresas, administrando mais de 300 mil hectares de terras, 11 pistas de pouso, frota de aviões, helicópteros, usinas, além de gerar emprego para mais de 25 mil pessoas.

Seu principal símbolo era a Fazenda Itamarati, localizada em Mato Grosso do Sul, considerada uma das maiores áreas de produção de soja do mundo. À frente dela, Olacir ajudou a transformar o Centro-Oeste brasileiro em potência agrícola.

No entanto, por trás do brilho, havia riscos que ele não controlava.

A aposta ambiciosa na Ferronorte

O ponto de virada da sua história começou com um projeto grandioso: a FerroNorte, ferrovia criada para escoar a produção agrícola do Centro-Oeste. Com uma concessão de 90 anos, o plano parecia perfeito para dar autonomia logística ao agronegócio da região. Olacir chegou a investir 200 milhões de dólares de recursos próprios, acreditando que teria o apoio necessário do Estado para concluir a obra.

Mas a dependência política revelou-se fatal. O governo de São Paulo havia prometido entregar, em dois anos, uma ponte ferroviária que ligaria a FerroNorte à malha nacional. A ponte, no entanto, demorou sete anos para ser concluída. Nesse intervalo, os trens não rodaram, a produção não escoava e a receita nunca chegou. Enquanto isso, os custos de manutenção, salários e financiamentos cresciam de forma impiedosa.

O que deveria ser o auge da sua trajetória, transformou-se em um buraco negro financeiro na história do agronegócio.

Dívida crescente e queda inevitável

Com os atrasos, a dívida explodiu. Olacir tentou resistir vendendo fazendas, aviões, usinas e até o banco que havia fundado. Mas nada foi suficiente. A Fazenda Itamarati, seu maior símbolo, acabou vendida ao Incra para assentar famílias do MST — uma ironia cruel para quem revolucionou o agronegócio brasileiro.

O império, que já empregara milhares de pessoas, se transformou em um escombro corporativo para o Rei da Soja.

O erro fatal: confiança em promessas políticas

Segundo especialistas, o colapso de Olacir não ocorreu por má gestão ou incompetência. Pelo contrário, ele era considerado um empresário inovador e de visão. O que o derrubou foi a confiança excessiva em cronogramas estatais, promessas políticas e compromissos que nunca se concretizaram.

Ele não perdeu por falta de competência, mas porque subestimou os riscos invisíveis de depender do que não podia controlar.

Olacir de Morais teve um fim solitário e trágico

A derrocada ainda guardava um capítulo sombrio. Já fragilizado, Olacir foi envolvido em novas ilusões de negócios, inclusive uma promessa de se tornar “rei do minério” na Bolívia.

Olacyr de Moraes faleceu aos 84 anos, em 16 de Junho de 2015, na cidade de São Paulo. O empresário lutou contra um câncer de pâncreas descoberto no início de 2014, mas acabou sucumbindo à doença devido a outras complicações, como diabetes e sangramentos intestinais.

Sem fortuna e sem manchetes de glória, o empresário morreu “sozinho” em um hospital, deixando para trás não apenas dívidas, mas também uma história que se transformou em aula obrigatória para quem deseja evitar a falência.

Mesmo não sendo objetivo do conteúdo, cabe ressaltar que entre as heranças deixadas para os filhos, o Rei da Soja deixou a Ciapar, com seus 120 mil hectares, ainda considerada um verdadeiro símbolo de fazenda. Já a Uisa, usina sucroalcooleira, processava — e ainda processa — mais de sete milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra, sendo 85% dessa matéria-prima de produção própria.

A lição que fica com o legado do Rei da Soja

O legado de Olacir de Morais, o Rei da Soja, vai além da soja. Sua trajetória mostra que não é o tamanho de uma empresa que a protege, mas o grau de controle sobre suas variáveis críticas. Se um negócio depende de decisões políticas, prazos públicos ou promessas não assinadas, ele não é uma empresa, mas uma aposta.

A história do “Rei da Soja” é um lembrete duro, mas essencial: crescer rápido demais sem blindar riscos estruturais pode transformar um império em ruínas.

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