Seca histórica nos rios da Amazônia revela patrimônio arqueológico

As peças foram encontradas por Edson Batista, 37 anos, e Gabriel Cordovil, 16, que saíram para pescar no último dia 12. Durante a pescaria, tio e sobrinho encontraram as peças de cerâmica parcialmente submersas.

A seca histórica que atinge os rios da Amazônia revelou peças de cerâmica antigas, que estavam submersas. A descoberta foi feita por pescadores de Urucará, interior do Amazonas, e, entre os artefatos está um jarro de barro que se manteve preservado, além de sete peças menores de cerâmica quebradas.

As peças foram encontradas por Edson Batista, 37 anos, e Gabriel Cordovil, 16, que saíram para pescar no último dia 12. Durante a pescaria, tio e sobrinho encontraram as peças de cerâmica parcialmente submersas.

“Fomos pescar no Pedral do São José, no rio Paraná de Urucará, bem na orla do nosso bairro. Meu sobrinho avistou algo estranho à mostra, com a água contornando ao redor. Quando ele se aproximou, percebeu o que era e me chamou. Ficamos surpresos e felizes com a descoberta”, contou Batista ao Estadão.

O “pedral” citado pelo pescador é um sítio arqueológico da cidade. O local é composto por formações rochosas que apresentam petróglifos e rostos humanos. As secas de 2010, 2023 e 2024 no Estado também revelaram gravuras similares no sítio Ponta das Lajes, com idade estimada entre mil e dois mil anos.

Segundo revelado pelo Estadão, estas não são as primeiras peças históricas reveladas pela seca atual. Entre outras coisas que vieram a tona estão as ruínas do Forte de São Francisco, uma construção portuguesa do século 18, localizada na margem esquerda do Rio Solimões, em Tabatinga. A cidade está na tríplice fronteira com Colômbia e Peru. Além disso, dois canhões de bronze e uma bala em formato esférico também foram encontradas no local.

Preocupados com a integridade dos artefatos encontrados, os pescadores recolheram os objetos por conta da área ser movimentada. “Muitas pessoas passam por aqui, então poderia acabar quebrando. Retiramos as peças da água e as levamos para casa, sem limpar ou abrir”, explicou.

A peça, descrita por Batista como “semelhante a um frasco grande de amaciante de roupas”, tem formato oval e uma abertura cilíndrica. Outras sete peças de cor semelhante parecem ser parte de outro objeto similar ao jarro.

A prefeitura do município informou ter acionado o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para o recolhimento e avaliação dos artefatos. O Iphan lançou, em setembro, Plano de Ações Integradas do Patrimônio Arqueológico do Amazonas por conta da seca. O documento busca a conservação e vigilância, produção e divulgação do conhecimento e socialização sobre a preservação dos sítios.

“A expectativa é de que eles cheguem na primeira semana de novembro. A nível municipal, estamos orientando a população para a preservação do local, porque não é a primeira vez que encontramos cerâmicas naquele local, então é preciso ter cuidado”, afirma o secretário de Cultura de Urucará, Agildo Castro ao Estadão.

Agildo também explicou que pedirá à Câmara Municipal a criação de um museu para abrir as peças. “Já encontramos outras cerâmicas, mas neste ano foi a primeira vez em que uma foi encontrada praticamente intacta”, disse.

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